sexta-feira, maio 30, 2008
Recebido por e-mail
"Aprendo a rezar com os pés
Caminham em filas ao lado das estradas nacionais, por trilhos de terra batida, atravessando pequenos povoados que antes desconheciam, cruzando horas e horas a paisagem de giestas e silêncio. Têm em português um nome que deriva de uma forma latina: Per ager, que significa “através dos campos”; ou Per eger, “para lá das fronteiras”. Definem-se, assim, por uma extraterritorialidade simbólica que os faz, momentaneamente, viver sem cidade e sem morada. Experimentam uma espécie de nomadismo: não se demoram em parte alguma, comem ao sabor da própria jornada, dormem aqui e ali. Num tempo ferozmente cioso da produção e do consumo, eles são um elogio da frugalidade e do dom. Relativizam a prisão de comodismos, necessidades, fatalismos e desculpas. E o seu coração abre-se à revelação de um sentido maior.
A verdade é que é difícil ter uma vida interior de qualidade, se nem vida se tem, no atropelo de um quotidiano que devora tudo. Na saturação das imagens que nos são impostas, vamos perdendo a capacidade de ver. No excesso de informação e de palavra, esquecemos a arte de ouvir e comunicar vida. Damos por nós, e há, à nossa volta, um deserto sem resposta que cresce. E quando nos voltamos para Deus, parece que não sabemos rezar.
Estes peregrinos que tornam a encher as estradas de Fátima (mas também de Santiago, de Chartres, do Loreto…) assinalam-nos o dever de buscar a estrada luminosa da própria vida. Já não separam a existência por gavetas estanques, mas o seu corpo e a sua alma respiram em uníssono. A oração torna-se natural como uma conversa, e as conversas enchem-se de profundidade, de atenção, de sorrisos. A parte mais importante dos quilómetros que percorrem não está em nenhum mapa: eles caminham para um centro invisível onde pode acontecer o encontro e o renascimento.
Queria dedicar este texto a um amigo que, neste mês de Maio, fez a sua primeira peregrinação. A meio do caminho enviou-me uma mensagem a dizer: «Aprendo a rezar com os pés».
José Tolentino Mendonça
Jorge Lima (o outro)
Para quem teme a nossa morte, as notícias não podiam ser melhores. Os IV foram reforçados. O novo colaborador dá pelo nome de Jorge Lima e, apesar de nos prometer falar muito de ciência, não é um desdobramento laboratorial ou virtual do Dalai.
Querido amigo de longa data, entra na categoria daqueles sobre quem nada se sabe dizer, justamente porque o muito que se possa adiantar peca sempre por escasso, em virtude do todo que nos foi sendo dado a conhecer. Razão suficiente para guardar a incontinência para outros momentos e dar a palavra a quem de direito.
Jorge, bem-vindo sejas a esta tua casa.
Querido amigo de longa data, entra na categoria daqueles sobre quem nada se sabe dizer, justamente porque o muito que se possa adiantar peca sempre por escasso, em virtude do todo que nos foi sendo dado a conhecer. Razão suficiente para guardar a incontinência para outros momentos e dar a palavra a quem de direito.
Jorge, bem-vindo sejas a esta tua casa.
Choque de Civilizações?
"MAIS UMA DE UMA LONGA COBARDIA
Antigamente - um pouco depois dos tempos em que ele, de moca e de osso atravessado no nariz, a arrastava pelo cabelo até à caverna - o lençol nupcial era exposto no bairro. Se havia sangue, a noiva era virgem e o casamento podia seguir em frente. Antigamente..., iludo- -me eu, como se as coisas não pudessem voltar para trás. Em Lille (Norte de França), um tribunal anulou um casamento porque a noiva - muçulmana como o noivo - mentiu sobre a sua virgindade. Na madrugada do casamento, o noivo, engenheiro, levou a noiva a casa dos pais dela porque lhe faltava uma peça (assunto privado). E um tribunal, no ano de 2008!, deu-lhe razão (assunto público). Deixo para os advogados e juízes o valor jurídico do ela ter mentido, como se a lealdade pudesse existir entre desiguais (o engenheiro não teve de jurar a sua virgindade, nem tinha como a provar). A nossa cobardia está a atirar estas novas europeias para o passado. Assim, o passado virá ter com todos nós, não tarda."
Ferreira Fernandes no DN
Ainda ontem li uma artigo acerca de um casal britânico de origem indiana, a quem foi recusado tratamento de fertilidade devido à idade bastante avaçada do casal, que devido a essa recusa foi à Índia onde, esse tratamento foi administrado à mulher sem mais. Nove meses depois nasceram gémeos, mas do "sexo errado". Razão pela qual, decidiram logo após o parto que não queriam as filhas, tendo abandonado as gémeas no hospital indianao e voltaram para o RU, como se nada fosse... E mais não digo!
Antigamente - um pouco depois dos tempos em que ele, de moca e de osso atravessado no nariz, a arrastava pelo cabelo até à caverna - o lençol nupcial era exposto no bairro. Se havia sangue, a noiva era virgem e o casamento podia seguir em frente. Antigamente..., iludo- -me eu, como se as coisas não pudessem voltar para trás. Em Lille (Norte de França), um tribunal anulou um casamento porque a noiva - muçulmana como o noivo - mentiu sobre a sua virgindade. Na madrugada do casamento, o noivo, engenheiro, levou a noiva a casa dos pais dela porque lhe faltava uma peça (assunto privado). E um tribunal, no ano de 2008!, deu-lhe razão (assunto público). Deixo para os advogados e juízes o valor jurídico do ela ter mentido, como se a lealdade pudesse existir entre desiguais (o engenheiro não teve de jurar a sua virgindade, nem tinha como a provar). A nossa cobardia está a atirar estas novas europeias para o passado. Assim, o passado virá ter com todos nós, não tarda."
Ferreira Fernandes no DN
Ainda ontem li uma artigo acerca de um casal britânico de origem indiana, a quem foi recusado tratamento de fertilidade devido à idade bastante avaçada do casal, que devido a essa recusa foi à Índia onde, esse tratamento foi administrado à mulher sem mais. Nove meses depois nasceram gémeos, mas do "sexo errado". Razão pela qual, decidiram logo após o parto que não queriam as filhas, tendo abandonado as gémeas no hospital indianao e voltaram para o RU, como se nada fosse... E mais não digo!
Obama's Church
Fico na dúvida se Obama é mesmo um dos fiéis desta igreja ou se tudo não passa de uma estratégia de Hillary para o desacreditar. É que é mesmo surreal!
A igualdade é uma barreira no combate à pobreza
Rapto da Europa (38); Opressão socialista (35)
Prepara-se uma concentração de esquerda para o início do mês de Junho. A dita visa representar a luta pela igualdade e pela justiça, passe a contradição entre as duas, em Portugal. Vai ser uma ocasião solene em que alguns decrépitos socialista, agarrados à bengala, abraçarão os fanáticos do bloco e beijarão os hipócritas do PC. Tudo a fazer lembrar os "bons" tempos da primeira internacional, em que as lutas pelo poder ainda não os tinha separado. As palavras de ordem são faceis de imaginar e terão a demagogia como tema comum. Mas passarão, como necessariamente passam ou a concentração perderia a sua razão de ser, ao lado do essencial.
O tema geral da concentração é a pobreza e as dificuldades que os portugueses atravessam. A esquerda sempre foi perita em explorar este tema até à exaustão e, reconheçamos, tem sido bem sucedida. Um exemplo são os 2 milhões de pobres que supostamente existem em Portugal e que continuam a ser hipocritamente ventilados por Jerónimos, Louçãs e companhia.
Os 2 milhões surgem através dos 20% da população que a UE dizem estar em risco de pobreza em Portugal. O que é o risco de pobreza para a UE? È estar abaixo do limiar dos 60% da mediana do rendimento dos portugueses. È apenas e só uma medida estatistica. Qual o fundamento desta medida? O fundamento é que a desigualdade económica é indesejável. Porque é que a desigualdade económica é indesejável? Bom, isso é um pressuposto que a UE não se dá ao incómodo de justificar. Porque é que a UE não justifica o uso daquele pressuposto? Provavelmente porque não quer, se a apresentasse de uma forma transparente poderia por em causa existência da própria medida estatistica, ou então porque não sabe, i.e., não tem justificação para apresentar.
Há dois argumentos base contra a desigualdade económica. O primeiro é o igualitário que assume como desejável, exclusivamente por razões ideológicas, que todas as pessoas tenham os mesmos rendimentos. O argumento igualitário pode ser mais ou menos radical mas na sua essência é igual: Igualdade, seja ela total ou relativa, acima de tudo. È este argumento de esquerda, defendido até por pessoas do PSD e do CDS, que vai estar presente na concentração de Junho. O outro argumento é mais pragmatico e diz que excessiva desigualdade económica pode levar a convulsões sociais indesejáveis. Foi principalmente com base neste argumento que Bismarck deu início ao que hoje se chama segurança social.
As medidas de desigualdade só são úteis para quem concorde com o primeiro argumento. Quem deseja uma sociedade igualitária onde todos tenham as mesmas condições socio-económicas é que se preocupa com as diferenças de rendimento. È uma medida puramente relativa que se baseia exclusivamente em aspectos materiais. A frase é imoral que Belmiro de Azevedo tenha muito mais dinheiro que o vendedor da Cais, por exemplo, apenas tenta esconder o materialismo da questão. Os valores de honra, honestidade, respeito, educação no trato, da justiça ou outros quaisquer, são totalmente irrelevantes para os defensores da igualdade. Mais ainda, é uma lógica que se alimenta da inveja, do "dinheiro que os outros têm e que eu não tenho" ou do "carro que os outros têm e que eu não tenho". A esquerda explorou sempre esta fraqueza humana que é a inveja e de que todos padecemos em maior ou menor grau. Recorre ainda à chantagem psicológica do tempo da revolução industrial, quando muitos trabalhavam 16 horas por dia, 7 dias por semana, e levavam uma vida miserável.
Para quem não concorde com a igualdade socio-económica a medida não serve para nada. Mesmo para os defensores do segundo argumento, seria desejável que a medida perdesse o seu caracter puramente relativista e ganhasse algumas características de absoluto. O que nos deve preocupar, e o que me preocupa a mim enquanto pessoa de direita, é que haja pobres em Portugal e noutros pontos do mundo. E o dever dos poderes públicos não deve ser procurar a igualdade mas sim ajudar os pobres a sairem dessa situação. Defender a igualdade e ajudar os pobres a sairem dessa situação são duas coisas totalmente distintas se não usarmos a desigualdade como conceito relativo de pobreza. Para ajudar os pobres é necessário saber quem eles são, o que requer uma medida de pobreza com o tal carácter absoluto. O Banco Mundial usa a medida de 1 USD por dia, medida em paridades de poder de compra. Esta medida assenta em algumas necessidades básicas e por isso deve variar consoante as realidades socio-económicas de cada país (tendo por isso também um caracter relativo). Mas a medida serve apenas para verificar se a evolução, ao longo dos anos, dos níveis de vida das populações vai no sentido desejável de haver uma diminuição do número dos que estão abaixo daquele nível.
Esta medida é necessária para a identificação de quem é pobre e para aferir a evolução da pobreza. A medida de desigualdade publicada pela UE não serve para combater a pobreza, serve apenas para a esquerda fazer concentrações e explorar a inveja humana. Não permite saber quem é pobre nem ajuda a desenhar medidas para combater a pobreza. Em suma, não serve para nada. A UE deveria deixar de publicar medidas de desigualdade e preocupar-se com uma medida que fosse realmente útil.
È por isto que a concentração de Junho passa ao lado do essencial e vai ser apenas mais uma manifestação da esquerda para aumentar a sua já desmesurada influência na sociedade portuguesa. A esquerda ignora quantos pobres existem em Portugal, nem está muito preocupada com isso. Tem um número que lhe foi "oferecido" pela UE, 2 milhões de portugueses, e vai distorcê-lo e utilizá-lo para promover as suas ideias. Mas o mais grave continua por resolver. Existem muitos pobres em Portugal e a única certeza que temos é que não são 2 milhões. Até podem ser mais.
Prepara-se uma concentração de esquerda para o início do mês de Junho. A dita visa representar a luta pela igualdade e pela justiça, passe a contradição entre as duas, em Portugal. Vai ser uma ocasião solene em que alguns decrépitos socialista, agarrados à bengala, abraçarão os fanáticos do bloco e beijarão os hipócritas do PC. Tudo a fazer lembrar os "bons" tempos da primeira internacional, em que as lutas pelo poder ainda não os tinha separado. As palavras de ordem são faceis de imaginar e terão a demagogia como tema comum. Mas passarão, como necessariamente passam ou a concentração perderia a sua razão de ser, ao lado do essencial.
O tema geral da concentração é a pobreza e as dificuldades que os portugueses atravessam. A esquerda sempre foi perita em explorar este tema até à exaustão e, reconheçamos, tem sido bem sucedida. Um exemplo são os 2 milhões de pobres que supostamente existem em Portugal e que continuam a ser hipocritamente ventilados por Jerónimos, Louçãs e companhia.
Os 2 milhões surgem através dos 20% da população que a UE dizem estar em risco de pobreza em Portugal. O que é o risco de pobreza para a UE? È estar abaixo do limiar dos 60% da mediana do rendimento dos portugueses. È apenas e só uma medida estatistica. Qual o fundamento desta medida? O fundamento é que a desigualdade económica é indesejável. Porque é que a desigualdade económica é indesejável? Bom, isso é um pressuposto que a UE não se dá ao incómodo de justificar. Porque é que a UE não justifica o uso daquele pressuposto? Provavelmente porque não quer, se a apresentasse de uma forma transparente poderia por em causa existência da própria medida estatistica, ou então porque não sabe, i.e., não tem justificação para apresentar.
Há dois argumentos base contra a desigualdade económica. O primeiro é o igualitário que assume como desejável, exclusivamente por razões ideológicas, que todas as pessoas tenham os mesmos rendimentos. O argumento igualitário pode ser mais ou menos radical mas na sua essência é igual: Igualdade, seja ela total ou relativa, acima de tudo. È este argumento de esquerda, defendido até por pessoas do PSD e do CDS, que vai estar presente na concentração de Junho. O outro argumento é mais pragmatico e diz que excessiva desigualdade económica pode levar a convulsões sociais indesejáveis. Foi principalmente com base neste argumento que Bismarck deu início ao que hoje se chama segurança social.
As medidas de desigualdade só são úteis para quem concorde com o primeiro argumento. Quem deseja uma sociedade igualitária onde todos tenham as mesmas condições socio-económicas é que se preocupa com as diferenças de rendimento. È uma medida puramente relativa que se baseia exclusivamente em aspectos materiais. A frase é imoral que Belmiro de Azevedo tenha muito mais dinheiro que o vendedor da Cais, por exemplo, apenas tenta esconder o materialismo da questão. Os valores de honra, honestidade, respeito, educação no trato, da justiça ou outros quaisquer, são totalmente irrelevantes para os defensores da igualdade. Mais ainda, é uma lógica que se alimenta da inveja, do "dinheiro que os outros têm e que eu não tenho" ou do "carro que os outros têm e que eu não tenho". A esquerda explorou sempre esta fraqueza humana que é a inveja e de que todos padecemos em maior ou menor grau. Recorre ainda à chantagem psicológica do tempo da revolução industrial, quando muitos trabalhavam 16 horas por dia, 7 dias por semana, e levavam uma vida miserável.
Para quem não concorde com a igualdade socio-económica a medida não serve para nada. Mesmo para os defensores do segundo argumento, seria desejável que a medida perdesse o seu caracter puramente relativista e ganhasse algumas características de absoluto. O que nos deve preocupar, e o que me preocupa a mim enquanto pessoa de direita, é que haja pobres em Portugal e noutros pontos do mundo. E o dever dos poderes públicos não deve ser procurar a igualdade mas sim ajudar os pobres a sairem dessa situação. Defender a igualdade e ajudar os pobres a sairem dessa situação são duas coisas totalmente distintas se não usarmos a desigualdade como conceito relativo de pobreza. Para ajudar os pobres é necessário saber quem eles são, o que requer uma medida de pobreza com o tal carácter absoluto. O Banco Mundial usa a medida de 1 USD por dia, medida em paridades de poder de compra. Esta medida assenta em algumas necessidades básicas e por isso deve variar consoante as realidades socio-económicas de cada país (tendo por isso também um caracter relativo). Mas a medida serve apenas para verificar se a evolução, ao longo dos anos, dos níveis de vida das populações vai no sentido desejável de haver uma diminuição do número dos que estão abaixo daquele nível.
Esta medida é necessária para a identificação de quem é pobre e para aferir a evolução da pobreza. A medida de desigualdade publicada pela UE não serve para combater a pobreza, serve apenas para a esquerda fazer concentrações e explorar a inveja humana. Não permite saber quem é pobre nem ajuda a desenhar medidas para combater a pobreza. Em suma, não serve para nada. A UE deveria deixar de publicar medidas de desigualdade e preocupar-se com uma medida que fosse realmente útil.
È por isto que a concentração de Junho passa ao lado do essencial e vai ser apenas mais uma manifestação da esquerda para aumentar a sua já desmesurada influência na sociedade portuguesa. A esquerda ignora quantos pobres existem em Portugal, nem está muito preocupada com isso. Tem um número que lhe foi "oferecido" pela UE, 2 milhões de portugueses, e vai distorcê-lo e utilizá-lo para promover as suas ideias. Mas o mais grave continua por resolver. Existem muitos pobres em Portugal e a única certeza que temos é que não são 2 milhões. Até podem ser mais.
quinta-feira, maio 29, 2008
Esperança na esquerda
Esta semana o "Público" publicou um elogio de Durão Barroso a João Carlos Espada (JCE). È engraçado o percurso que JCE realizou. De maoista foi avançando para a direita e, em simultâneo, aproximou-se do Cristianismo. Sendo uma pessoa inteligente e tendo ultrapassado os devaneios de juventude que a própria idade por vezes ajuda a explicar, JCE deixou-se iluminar no caminho que percorreu. E houve outros que fizeram um trajecto similar em direcção á direita, como o próprio Barroso ou Pacheco Pereira. A esquerda ficou entregue a iconoclastas e conservadores no mau sentido. Será que para estes também há esperança?
João Carlos Espada,
in Expresso de 24/5/2008
Muitos princípios essenciais da democracia liberal assentam na doutrina cristã. E muitas pessoas ficarão surpreendidas com isso. Mas é verdade. E vale a pena conversar mais sobre essa surpresa
Dom José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, presidiu no domingo passado a uma mesa-redonda sobre a doutrina social da Igreja. Um dos muitos aspectos interessantes do debate consistiu em revelar como muitos princípios essenciais da democracia liberal assentam na doutrina cristã.
Para o Cristianismo, o homem é criatura, não é criador. Isso desde logo implica que ele faz parte de uma ordem mais vasta que o transcende. Essa ordem pode ser gradual e tentativamente descoberta pela razão, assistida pelo diálogo com a fé. Desse processo faz parte a descoberta dos valores morais, designadamente dos deveres e direitos morais. Estes não são produto da vontade, nem são arbitrários ou equivalentes. São descobertos, não inventados.
A criatura que o homem é foi criada à imagem e semelhança de Deus - um Deus que ama a sua criação. Por isso, o homem é dotado de uma dignidade moral irredutível que une toda a família humana. Essa dignidade funda os Direitos do Homem, no centro dos quais estão o direito à vida e à liberdade, antes de mais a liberdade da consciência e da fé. Estes direitos são prévios aos governos e a função dos governos é respeitá-los e protegê-los.
O facto de o homem ser criatura e não criador gera uma outra dimensão importante. O cristão é um cidadão de duas cidades: a cidade dos homens e a cidade de Deus. Este dualismo fundamental tem, por sua vez, várias consequências políticas.
Em primeiro lugar, o cristianismo não pode subscrever qualquer utopia política, secularista ou teocrática. A redenção do homem através da política é impossível. A cidade de Deus não pode ser construída neste mundo. As promessas políticas utópicas são, na sua raiz, propostas ateias e totalitárias que querem fazer do homem criador e não criatura.
Mas o cristão tem o dever de dar testemunho da Cidade de Deus na cidade dos homens.
Por isso, a principal reclamação política do Cristianismo é a liberdade religiosa e, em particular, a liberdade da Igreja. Isso implica separação da Igreja e do Estado, ou o princípio do Governo limitado.
Esta limitação da esfera política exprime um entendimento pluralista da vida em sociedade. No centro da mensagem cristã está a reclamação pluralista de que as pessoas, as famílias e outras instituições espontâneas intermédias possam usufruir livremente os seus modos de vida pacíficos - os quais não podem ser arbitrariamente redesenhados pelo poder político.
Muitas pessoas que subscrevem estes princípios ficarão talvez surpreendidas por vê-los justificados pelo Cristianismo. É um sinal de que vale a pena conversar mais sobre o tema.
João Carlos Espada,
in Expresso de 24/5/2008
Muitos princípios essenciais da democracia liberal assentam na doutrina cristã. E muitas pessoas ficarão surpreendidas com isso. Mas é verdade. E vale a pena conversar mais sobre essa surpresa
Dom José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, presidiu no domingo passado a uma mesa-redonda sobre a doutrina social da Igreja. Um dos muitos aspectos interessantes do debate consistiu em revelar como muitos princípios essenciais da democracia liberal assentam na doutrina cristã.
Para o Cristianismo, o homem é criatura, não é criador. Isso desde logo implica que ele faz parte de uma ordem mais vasta que o transcende. Essa ordem pode ser gradual e tentativamente descoberta pela razão, assistida pelo diálogo com a fé. Desse processo faz parte a descoberta dos valores morais, designadamente dos deveres e direitos morais. Estes não são produto da vontade, nem são arbitrários ou equivalentes. São descobertos, não inventados.
A criatura que o homem é foi criada à imagem e semelhança de Deus - um Deus que ama a sua criação. Por isso, o homem é dotado de uma dignidade moral irredutível que une toda a família humana. Essa dignidade funda os Direitos do Homem, no centro dos quais estão o direito à vida e à liberdade, antes de mais a liberdade da consciência e da fé. Estes direitos são prévios aos governos e a função dos governos é respeitá-los e protegê-los.
O facto de o homem ser criatura e não criador gera uma outra dimensão importante. O cristão é um cidadão de duas cidades: a cidade dos homens e a cidade de Deus. Este dualismo fundamental tem, por sua vez, várias consequências políticas.
Em primeiro lugar, o cristianismo não pode subscrever qualquer utopia política, secularista ou teocrática. A redenção do homem através da política é impossível. A cidade de Deus não pode ser construída neste mundo. As promessas políticas utópicas são, na sua raiz, propostas ateias e totalitárias que querem fazer do homem criador e não criatura.
Mas o cristão tem o dever de dar testemunho da Cidade de Deus na cidade dos homens.
Por isso, a principal reclamação política do Cristianismo é a liberdade religiosa e, em particular, a liberdade da Igreja. Isso implica separação da Igreja e do Estado, ou o princípio do Governo limitado.
Esta limitação da esfera política exprime um entendimento pluralista da vida em sociedade. No centro da mensagem cristã está a reclamação pluralista de que as pessoas, as famílias e outras instituições espontâneas intermédias possam usufruir livremente os seus modos de vida pacíficos - os quais não podem ser arbitrariamente redesenhados pelo poder político.
Muitas pessoas que subscrevem estes princípios ficarão talvez surpreendidas por vê-los justificados pelo Cristianismo. É um sinal de que vale a pena conversar mais sobre o tema.
À Mulher de César Não Basta Ser Desonesta, É Preciso Parecê-lo
Não há nada como um cartel para cereja do bolo do neoliberalismo sucialista selvagem. Tão sólida a sua posição, que os seus sheiks parecem fazer luxo em que saibamos que não só introduzem o dedo, como andam com ele à roda. «Eh pá, quantas vezes é que já aumentámos os preços hoje? E quantas é que diminuímos este ano? Ah ah ah ah!» Querem ter a noção de que nós temos a noção de que eles têm a noção de que nós temos a noção. «Ah, se os gajos soubessem que, com a valorização do euro, não estamos a pagar o crude mais caro… Mas vá lá, paguem e não bufem!» Fazem questão de gozar a nossa impotência. «Boicote? Eh eh eh… Já estou a ver os suburbanos da Brandoa a ir abastecer a Badajoz…» Sabem que temos tanta alternativa como um hamster numa gaiola. «Atestem o depósito com óleo Fula!» Fazem questão de mostrar os cordelinhos dos títeres. «Já telefonei ao Manuel Pinho, a dizer que espero que a Autoridade da Concorrência só publique o comunicado a dizer que não se provou existência de cartel para o ano…»
Gostava de ter qualquer coisa de inteligente para dizer. Mas não tenho. Gostava de poder fazer alguma coisa. Mas não posso. No país em que é considerado um percurso político normal ser do PC, a seguir ministro sucialista, a seguir presidente da Iberdrola, vale tudo. E quem manda já descobriu que manda muito mais com sucialistas no poleiro. É como ir apanhar ovelhas vestido de pele de cordeiro. Sucialismo e capitalismo juntos serão eternos. Ou não. Quem sabe se um dia nos fartamos de futebóis e acordamos. Quem sabe se um dia mudamos a gerência desta Animal Farm e acabamos de vez com o Triunfo dos Porcos. Quem sabe.
Gostava de ter qualquer coisa de inteligente para dizer. Mas não tenho. Gostava de poder fazer alguma coisa. Mas não posso. No país em que é considerado um percurso político normal ser do PC, a seguir ministro sucialista, a seguir presidente da Iberdrola, vale tudo. E quem manda já descobriu que manda muito mais com sucialistas no poleiro. É como ir apanhar ovelhas vestido de pele de cordeiro. Sucialismo e capitalismo juntos serão eternos. Ou não. Quem sabe se um dia nos fartamos de futebóis e acordamos. Quem sabe se um dia mudamos a gerência desta Animal Farm e acabamos de vez com o Triunfo dos Porcos. Quem sabe.
PS: a imagem é do Eng. Ferreira de Oliveira, presidente da GALP, para saberem quem é, e se precaverem se forem ao lado dele no Metro.
A Gaja do Jorge ...
... até pode ser boa. Se ele diz que é, é porque sabe que é.
Mas por que obscura razão alma tão superiormente dotada e detentora única dessa dimensão política não menos obscura que vulgarizou chamar-se "credibilidade" é sistematicamente cilindrada pelos adversários internos - todos - , muito menos categorizados?
Não gostaria de regressar aos tempos do santanismo, não sei debaixo de que pedra da sociedade civil saiu o Patinha Antão e muito menos me deixo embalar pela agenda "fracturante" do PC. Mas lá que há alguma coisa que não bate certo com a gaja do Jorge, lá isso há...
Marido e mulher, deixem-se de "excessos" e de "apagar" as vossas vidas: Divorciem-se
Em especial, a do direito de compensação a uma das partes (normalmente a mulher) por "contribuições excessivas para os encargos da vida familiar", uma forma complicada de se referir à situação em que alguém se dedica apenas à família. ... "Agora retira-se essa presunção e reconhece-se o crédito, mas apenas nos casos em que há desigualdade e excesso, em que um apagou a sua própria vida" em função da família.
Estes são pequenos trechos da notícia de hoje no "Público" sobre o projecto de lei sobre o divórcio. O projecto visa liberalizar o divórcio para que os casais se possam separar o mais depressa possível e as famílias se desmoronem. Nada de espantar vindo de um governo socialista defensor da igualdade e "guiado" ideológicamente pelas excrescências que habitam no bloco de esquerda.
Mas mesmo assim estas expressões não deixam de ser extraordinárias: "Contribuições excessivas para os encargos da vida familiar" não se refere a dinheiro mas à dedicação e à opção pela vida familiar. Outra expressão ilustrativa: "... mas apenas nos casos em que há desigualdade e excesso, em que um apagou a sua própria vida em função da família". O termo "excessivas" e "apagou" dizem tudo. O que está mal é a família e o tempo que as pessoas a ela dedicam. Optar por dedicar a sua vida a criar filhos e à família é um "excesso" que "apaga" as nossas vidas. Percebe-se porquê. Vai de encontro à doutrina da igualdade e da concepção de vida pós-moderna em que o dinheiro e os valores materiais se sobrepõem a qualquer outra variável. A campanha ideológica do Bloco de Esquerda continua a dar os seus frutos e a impor a sua "revolução silenciosa" nos costumes dos portugueses. E nós ficamos parados a olhar.
Estes são pequenos trechos da notícia de hoje no "Público" sobre o projecto de lei sobre o divórcio. O projecto visa liberalizar o divórcio para que os casais se possam separar o mais depressa possível e as famílias se desmoronem. Nada de espantar vindo de um governo socialista defensor da igualdade e "guiado" ideológicamente pelas excrescências que habitam no bloco de esquerda.
Mas mesmo assim estas expressões não deixam de ser extraordinárias: "Contribuições excessivas para os encargos da vida familiar" não se refere a dinheiro mas à dedicação e à opção pela vida familiar. Outra expressão ilustrativa: "... mas apenas nos casos em que há desigualdade e excesso, em que um apagou a sua própria vida em função da família". O termo "excessivas" e "apagou" dizem tudo. O que está mal é a família e o tempo que as pessoas a ela dedicam. Optar por dedicar a sua vida a criar filhos e à família é um "excesso" que "apaga" as nossas vidas. Percebe-se porquê. Vai de encontro à doutrina da igualdade e da concepção de vida pós-moderna em que o dinheiro e os valores materiais se sobrepõem a qualquer outra variável. A campanha ideológica do Bloco de Esquerda continua a dar os seus frutos e a impor a sua "revolução silenciosa" nos costumes dos portugueses. E nós ficamos parados a olhar.
Etiquetas: Público; Divorcio
BCP em boas mãos
Depois de terem mantido a KPMG como auditora, mesmo sabendo que a mesma está a ser alvo de investigações, o BCP elegeu ontem o comendador Berardo para a comissão de remunerações do Banco. Berardo, o tal que é dono de diversas empresas agora investigadas por suspeitas de fraude fiscal. É caso para dizer que o BCP está a tentar reconquistar a credibilidade que teve em tempos idos!
mais um que "tirou" o curso na independente
"Jorge Varanda, um dos membros que integra o Conselho de Jurisdição Nacional (CJN) do PSD, considera “inqualificável” e “vergonhoso” que Patinha Antão tenha incluído na primeira lista de assinaturas que apresentou para formalizar a sua candidatura à liderança do partido o nome de um militante já falecido." (Público)
Pelos vistos, este membro do Conselho de Jurisdição, presume-se que jurista, nunca deve ter ouvido falar em procurações irrevogáveis por morte...
as notícias sobre a minha (nossa?) morte são manifestamente exageradas
Com excepção de alguns moicanos que estoicamente vão resistindo, a verdade é que este blogue já fez mais jus ao nome que ostenta. Da minha parte, com o computador do dia-a-dia bloqueado em tudo o que acaba em "blogspot", restam-me as noites, cada vez com menos horas. Resistiremos. Em breve, pode ser que surjam novidades. Até já.
não se exaltem, pois o malandro tinha acabado de almoçar
"Speaking on a cloudy day at Falcon Stadium, the president compared the wars in Iraq and Afghanistan to America's earlier conflicts, particularly World War II." (Bush, via CNN)
quarta-feira, maio 28, 2008
terça-feira, maio 27, 2008
Joguem mas é, pá!
Das raras vezes que ligo a televisão para o zapping ocasional, deparo-me inevitavelmente, sucessivamente, interminavelmente, com o relações públicas do hotel onde está a selecção (quanto é que o Monte Belo terá pago para eles irem para lá?), o cozinheiro da selecção, o porteiro do estádio do Fontelo, a irmã do Cristiano Ronaldo, o motorista do autocarro, o maquista, o massagista, o roupeiro, o povo anónimo que vai ver o treino, já não falando, é claro, nos jogadores, que eles já falam que chegue. Vão à conferência de imprensa ao fim do dia relatar o que o «mister» lhes «pediu», e como o «grupo de trabalho» está «coeso», e como o Maniche «faz falta», mas «futebol é mesmo isto», e préu-péu-péu, pardais-ao-ninho, com aquele ar de que lhes ficámos com um carregamento de droga, de braços cruzados, e aquele tom de voz vinte oitavas abaixo do urro da baleia-de-bossa com o cio.
Porquê?
Os gnus que fogem dos leões correm, não falam, gaita. Quando um é apanhado, não comenta para a câmara, encharcado em suor, antes de a leoa-macho lhe bloquear a traqueia, que a sua morte próxima «é um resultado que se aceita», apesar de os gnus terem sido «os melhores em campo», e como se «sacrificou pelo bem da equipa», e que «quando assim é», «há que» «seguir em frente». Não se vai perguntar aos leões quem são os seus adversários preferidos no «próximo embate», se as zebras, se os búfalos. Não, uns comem, outros são comidos, uns correm, outros correm atrás, e lá andam todos na paz de Deus, a gente ajeita-se no sofá, e assim se passa cinco minutos bestiais antes de voltar a dobrar a mola.
Depois ainda há pior, uns programas cujo conceito não chego a perceber muito bem, apesar de ficar segundos seguidos a assistir, a ver se entendo alguma coisa, que são uns tipos cançonetistas, uns apresentadores, uns tois, a dizer o que esperam da selecção. Bolas, a mim, o que eu espero da selecção só me interessa se eu quero um cachorro com pedigree e estou a ter uma conversa com um criador de cães, caramba. Agora da «equipa das quinas», da «equipa de todos nós», do «onze luso», espero que ganhem, o que é que esperam que eu espere mais?
Não sei «se me estou a fazer explicar» Estou-me a borrifar para a vossa vida pessoal, para o banco que vos patrocina, para o vosso próximo clube, para a boutique que a vossa irmã vai abrir com o vosso guito. Quero é que joguem. Deixem-nos mudos de admiração. E no entretanto, calem-se.
Barroso ameaça irlandeses
Rapto da Europa (37)
"Ou votam sim, e fazem as coisas de uma forma apropriada (para o meu gosto), ou então vão pagá-las"
Tradução livre de:
"If there was a 'No' in Ireland or in another country, it would have a very negative effect for the EU. We will all pay a price for it, Ireland included, if this is not done in a proper way."
Irish Independent, 26/5/2008
segunda-feira, maio 26, 2008
BORIS JOHNSON - THE MAN!
O recém eleito Mayor de Londres, o conservador Boris Johnson, não esteve com meias medidas e tal como prometera durante a campanha, já anunciou que não irá renovar o protocolo de “Expertise for Oil” que termina em Agosto deste ano, pelo qual Chávez fornecia petróleo mais barato à Câmara de Londres, que assim subsidiava os Londrinos mais desfavorecidos com bilhetes de transporte mais baratos. Em troca, a câmara inglesa fornece aconselhamento urbanístico e de ordenamento do território à câmara de Caracas.
Este original projecto/ golpe de propaganda fora concretizado durante um dos mandatos do anterior presidente de câmara comunista, disfarçado de trabalhista, o Red Ken, um admirador confesso de ditador pé-de-chinelo da Venezuela.
Nas palavras de Johnson: "I think many Londoners felt uncomfortable about the bus operation of one of the world's financial powerhouses being funded by the people of a country where many people live in extreme poverty.
"I simply think there are better ways of benefiting Londoners and better ways of benefiting Venezuelans."
Põe-se assim fim, espero, a mais um miserável golpe de propaganda do Chávez, que infelizmente muito poucos políticos têm coragem, nem vontade (o que é mais grave), em fazer, o eng.º Sócrates que o diga.
Outra medida já tomada pelo novo Mayor, foi o de acabar com o pasquim da Câmara de Londres, com um orçamento de bilhões de libras anuais, e com esse dinheiro plantar 10.000 árvores na cidade. De uma penada, melhora-se o ambiente, e poupa-se muito dinheiro. Aprendam!
Este original projecto/ golpe de propaganda fora concretizado durante um dos mandatos do anterior presidente de câmara comunista, disfarçado de trabalhista, o Red Ken, um admirador confesso de ditador pé-de-chinelo da Venezuela.
Nas palavras de Johnson: "I think many Londoners felt uncomfortable about the bus operation of one of the world's financial powerhouses being funded by the people of a country where many people live in extreme poverty.
"I simply think there are better ways of benefiting Londoners and better ways of benefiting Venezuelans."
Põe-se assim fim, espero, a mais um miserável golpe de propaganda do Chávez, que infelizmente muito poucos políticos têm coragem, nem vontade (o que é mais grave), em fazer, o eng.º Sócrates que o diga.
Outra medida já tomada pelo novo Mayor, foi o de acabar com o pasquim da Câmara de Londres, com um orçamento de bilhões de libras anuais, e com esse dinheiro plantar 10.000 árvores na cidade. De uma penada, melhora-se o ambiente, e poupa-se muito dinheiro. Aprendam!
sexta-feira, maio 23, 2008
Corpo de Deus
O Infinito inunda-nos na trivialidade duma ponte. Pomos a vida em jogo perguntando-nos se vamos à missa, ou ao Alentejo. Já só temos uma vaga ideia de que alguém algures alhures deu a vida por nós. Teria, parece, poderes infinitos, mas, ainda assim, louco aos critérios do tempo, que parece que em tudo eram iguais aos deste tempo, aos do tempo de sempre, como é que está o tempo no Alentejo, se chover ficamos por cá e se calhar ainda vamos à missa, ainda assim achou que só nos salvava condenando-se. Condenando-se a descer, porque só descendo nos faria subir. Vou descer lá acima. Parece que passou então um fim-de-semana terrível, na Páscoa, não choveu, na Palestina raramente chove, mas o certo é que parecia que nunca mais acabava, uma cruz. Depois, felizmente, acabou em beleza, olhou a Morte de frente, agarrou-a pelo gasganete e perguntou-lhe onde está agora o teu poder e agora vou levá-los a todos comigo, debaixo da asa, lá para cima, para casa, vai levar-nos a todos com ele, lá para cima, para casa, como um pastor, mas nós ainda não dissemos se vamos com ele para casa, lá para cima. Depende de como estiver o tempo lá em baixo no Alentejo.
quarta-feira, maio 21, 2008
Não há jantares grátis. A “Política Externa Portuguesa”
Recebi há dias um “convite” via e-mail do Lisbon International Club, para mediante o pagamento de 55 euros, ter o direito a participar num jantar ao qual se seguirá uma palestra do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, o dr. Luís Amado, que irá dissertar sobre a “Política Externa Portuguesa”. As aspas não são minhas. São do convite e ficam muito bem.
Realmente deve valer muito a pena pagar 55 euros (para não sócios do Clube como eu), para ouvir o senhor ministro - aquele que disse que o Governo não recebeu o Dalai Lama “por razões óbvias”, e que depois levou uma chapelada da Chanceler Alemã, do Presidente Francês e até do Presidente dos EUA, que não só o receberam como o distinguiram com títulos honoríficos – dissertar acerca de uma não política, que no fundo só se resume a negócios, sempre em nome do interesse nacional, claro está, senão vejamos:
i) Estamos a falar da “política externa portuguesa” que levou o nosso PM à Rússia, para fechar mais uns negócios e dizer alto e em bom som, que a Rússia, (“imprensa livre” a Anna Poltikovskay, e o Alexander Litvinenko que o digam, da guerra suja da Chechénia, e da destabilização da Ucrânia e da Geórgia, dos oligarcas das “eleições livres e transparentes”, e da nada tem a apreender com ninguém acerca de direitos humanos! É caso para perguntar o que é que o eng. Sócrates anda a fumar a bordo dos aviões da TAP?
ii) A política externa portuguesa que fechou as portas ao Dalai Lama para não beliscar a China, outro fantástico regime com quem Portugal tem grandes interesses “em jogo”, mas que convida (e depois este ministro desconvida), o criminoso do Mugabe, entre outros para participar na Cimeira Europa-África que mais não foi que um dispendiosos certame (odeio esta palavra mas acho que aqui fica bem), absolutamente inconsequente, onde aquilo que era importante discutir, o Zimbabué, a Somália ou o Genocídio do Darfur, passaram ao lado não fosse alguém ficar mal na fotografia. Enfim, foi mais um fait diverts para autocratas e ditadores africanos, ricos em recursos naturais, se legitimaram um pouco junto da “EU dos direitos humanos”, e consequentemente para mais uma vez, pôr Lisboa e a presidência portuguesa do UE, a abrir dos noticiários internacionais, durante um fim de semana que seja.
Contudo, em termos de negócios, a coisa não correu lá muito bem, pelo menos que se saiba. O Khadafi, limitou-se a dar uma palestra ininteligível na Universidade de Lisboa, e depois mandou desarmar a tenda e seguiu directamente para Paris onde fechou negócios bilionários com Sarkozy.
iii) A “política externa portuguesa” que leva o governo a assobiar para o lado quando os pasquins do regime angolano insultam o Mário Soares e a nossa democracia, (Devem ter lido aquele estudo internacional que classificou a democracia portuguesa abaixo de cão), depois do Bob Geldof a convite do BES, ter constatado o óbvio. Mas como o José Eduardo dos Santos já manda na GALP e no BCP, temos mais é que estar caladinhos, e ai de quem sequer pense em mencionar CABINDA!
iv) A “política externa portuguesa” que leva o nosso primeiro ministro e uns empresários portugueses a prestarem-se a entrar no triste e inarrável “show Chávez”, o maior aliado das FARC e um dos maiores do Irão, dias depois de este ter insultado a Chanceler Ângela Merkel e toda a direita alemã, dizendo que pertencem à mesma direita que elegeu Hitler. É o preço a pagar por uma diplomacia de negócios, “do doa a quem doer”.
Com tantos ilustres amigos, digo aliados produtores de petróleo, bem que o "próximo presidente da OPEP deveria ser Português", para citar o nosso Dalai Lima aqui mais abaixo.
v) Relativamente ao Tratado de Lisboa, o melhor é o Ministro não dizer nada, antes de mais porque não se trata de política externa, mas de integração europeia, e segundo, porque pelo que eu entendi, o mesmo a ser aprovado, irá esvaziar ainda mais qualquer papel que o MNE possa ter a nível de “política externa portuguesa”, em benefício de uma política externa Europeia, seja lá o que isso for.
Já estou como o Miguel Sousa Tavares, fechem o MNE, e deixem que a EU, o Ministério da Economia e o PM tratem dos negócios e dos interesses nacionais claro, como têm vindo a fazer até aqui.
Já agora aproveito para sugerir que o Palácio das Necessidades seja transformado num museu da diplomacia nacional, ou coisa do género, e que os seus jardins sejam abertos ao público, seria mais barato e útil ao país e aos lisboetas.
O (não) evento será dia 29 de Maio.
Realmente deve valer muito a pena pagar 55 euros (para não sócios do Clube como eu), para ouvir o senhor ministro - aquele que disse que o Governo não recebeu o Dalai Lama “por razões óbvias”, e que depois levou uma chapelada da Chanceler Alemã, do Presidente Francês e até do Presidente dos EUA, que não só o receberam como o distinguiram com títulos honoríficos – dissertar acerca de uma não política, que no fundo só se resume a negócios, sempre em nome do interesse nacional, claro está, senão vejamos:
i) Estamos a falar da “política externa portuguesa” que levou o nosso PM à Rússia, para fechar mais uns negócios e dizer alto e em bom som, que a Rússia, (“imprensa livre” a Anna Poltikovskay, e o Alexander Litvinenko que o digam, da guerra suja da Chechénia, e da destabilização da Ucrânia e da Geórgia, dos oligarcas das “eleições livres e transparentes”, e da nada tem a apreender com ninguém acerca de direitos humanos! É caso para perguntar o que é que o eng. Sócrates anda a fumar a bordo dos aviões da TAP?
ii) A política externa portuguesa que fechou as portas ao Dalai Lama para não beliscar a China, outro fantástico regime com quem Portugal tem grandes interesses “em jogo”, mas que convida (e depois este ministro desconvida), o criminoso do Mugabe, entre outros para participar na Cimeira Europa-África que mais não foi que um dispendiosos certame (odeio esta palavra mas acho que aqui fica bem), absolutamente inconsequente, onde aquilo que era importante discutir, o Zimbabué, a Somália ou o Genocídio do Darfur, passaram ao lado não fosse alguém ficar mal na fotografia. Enfim, foi mais um fait diverts para autocratas e ditadores africanos, ricos em recursos naturais, se legitimaram um pouco junto da “EU dos direitos humanos”, e consequentemente para mais uma vez, pôr Lisboa e a presidência portuguesa do UE, a abrir dos noticiários internacionais, durante um fim de semana que seja.
Contudo, em termos de negócios, a coisa não correu lá muito bem, pelo menos que se saiba. O Khadafi, limitou-se a dar uma palestra ininteligível na Universidade de Lisboa, e depois mandou desarmar a tenda e seguiu directamente para Paris onde fechou negócios bilionários com Sarkozy.
iii) A “política externa portuguesa” que leva o governo a assobiar para o lado quando os pasquins do regime angolano insultam o Mário Soares e a nossa democracia, (Devem ter lido aquele estudo internacional que classificou a democracia portuguesa abaixo de cão), depois do Bob Geldof a convite do BES, ter constatado o óbvio. Mas como o José Eduardo dos Santos já manda na GALP e no BCP, temos mais é que estar caladinhos, e ai de quem sequer pense em mencionar CABINDA!
iv) A “política externa portuguesa” que leva o nosso primeiro ministro e uns empresários portugueses a prestarem-se a entrar no triste e inarrável “show Chávez”, o maior aliado das FARC e um dos maiores do Irão, dias depois de este ter insultado a Chanceler Ângela Merkel e toda a direita alemã, dizendo que pertencem à mesma direita que elegeu Hitler. É o preço a pagar por uma diplomacia de negócios, “do doa a quem doer”.
Com tantos ilustres amigos, digo aliados produtores de petróleo, bem que o "próximo presidente da OPEP deveria ser Português", para citar o nosso Dalai Lima aqui mais abaixo.
v) Relativamente ao Tratado de Lisboa, o melhor é o Ministro não dizer nada, antes de mais porque não se trata de política externa, mas de integração europeia, e segundo, porque pelo que eu entendi, o mesmo a ser aprovado, irá esvaziar ainda mais qualquer papel que o MNE possa ter a nível de “política externa portuguesa”, em benefício de uma política externa Europeia, seja lá o que isso for.
Já estou como o Miguel Sousa Tavares, fechem o MNE, e deixem que a EU, o Ministério da Economia e o PM tratem dos negócios e dos interesses nacionais claro, como têm vindo a fazer até aqui.
Já agora aproveito para sugerir que o Palácio das Necessidades seja transformado num museu da diplomacia nacional, ou coisa do género, e que os seus jardins sejam abertos ao público, seria mais barato e útil ao país e aos lisboetas.
O (não) evento será dia 29 de Maio.
Tá bem, pá! Venha o passe social!
A Quercus propõe 10 medidas fundamentais para a mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa. Entre elas, ressalto esta:
O Sindicato dos Altos Executivos Automobilizados não rejeita liminarmente a ideia de passar a poder contar também com um civilizado chauffer. E aceita até trocar o direito ao bólide pelo passe social... assim os transportes públicos disponham de classe executiva...
terça-feira, maio 20, 2008
A Minha Gaja
Ao assistir às prestações televisivas daquela que se propõe resgatar o partido do meu coração, sinto-me percorrido por um frémito de entusiasmo semelhante ao de um egípcio que acorda envolto em ligaduras dentro dum sarcófago no fundo duma pirâmide. Ver-lhe estampados no rosto aqueles sintomas evidentes de gastroentrite crónica feminina galvaniza-me para os combates que aí vêm com o mesmo entusiasmo com que um peru aguarda o Natal.
E no entanto.
Ela é a única Esperança que nos resta, como dizia a tribo de antropófagos ao acabar a última freira do caldeirão.
Agora é a sério.
Agora, já não podemos contar com o Dr. Santana Lopes. Não apenas por ele não saber provavelmente contar até mais do que três, mas porque ele já não é o idiota útil que nos diz que depois dele só pode vir coisa melhor.
Agora, temos de contar com o Dr. Passos Coelho. Fotogénico, telegénico, transgénico, liberal. Agradável de ouvir, convenhamos. Com umas ideias fracturantes, embora já um pouco vistas, como o casamento gay. Com umas propostas liberais, para nos libertar do insustentável peso do Estado. E feito da mesma massa de que vamos todos sendo feitos, tiradinhos do molde e passadinhos pela estufa, com um brilhozinho vidrado nos olhos. Bem sucedidos na vida, bem falantes, com uma gravata azul eléctrica e um padrinho chamado ângelo, capazes de inspirar no semelhante a fé na concretização dos seus dele ideais de vida, como um empregozinho na Câmara de Vinhais. O homem arrisca-se a ganhar o partido. E depois, porque não ganhar ao engenheiro? O seu é o limite. E tudo vai sendo possível neste país triste onde quem não é ordinário é extraordinário.
Eu, tenho apenas a minha Manuela. Ergo-a como um facho a arder na noite escura. Por enquanto não sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios, mas lá hei-de chegar. Um homem aprende a amar a sua gaja. Se for ela a escolhida, apesar de tudo, para guiar o país, por aquela trupe de saloios tachistas, comandados por caciques que têm uma representação da Vodafone no Portugal profundo, que decidem os destinos do partido, logo da Nação, logo o meu, nas directas. Tenho de esperar, e ter esperança. Só não vou atrás do que me dizem alguns com olhos doces. Preferia mil vezes escorregar nos becos lamacentos.
E no entanto.
Ela é a única Esperança que nos resta, como dizia a tribo de antropófagos ao acabar a última freira do caldeirão.
Agora é a sério.
Agora, já não podemos contar com o Dr. Santana Lopes. Não apenas por ele não saber provavelmente contar até mais do que três, mas porque ele já não é o idiota útil que nos diz que depois dele só pode vir coisa melhor.
Agora, temos de contar com o Dr. Passos Coelho. Fotogénico, telegénico, transgénico, liberal. Agradável de ouvir, convenhamos. Com umas ideias fracturantes, embora já um pouco vistas, como o casamento gay. Com umas propostas liberais, para nos libertar do insustentável peso do Estado. E feito da mesma massa de que vamos todos sendo feitos, tiradinhos do molde e passadinhos pela estufa, com um brilhozinho vidrado nos olhos. Bem sucedidos na vida, bem falantes, com uma gravata azul eléctrica e um padrinho chamado ângelo, capazes de inspirar no semelhante a fé na concretização dos seus dele ideais de vida, como um empregozinho na Câmara de Vinhais. O homem arrisca-se a ganhar o partido. E depois, porque não ganhar ao engenheiro? O seu é o limite. E tudo vai sendo possível neste país triste onde quem não é ordinário é extraordinário.
Eu, tenho apenas a minha Manuela. Ergo-a como um facho a arder na noite escura. Por enquanto não sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios, mas lá hei-de chegar. Um homem aprende a amar a sua gaja. Se for ela a escolhida, apesar de tudo, para guiar o país, por aquela trupe de saloios tachistas, comandados por caciques que têm uma representação da Vodafone no Portugal profundo, que decidem os destinos do partido, logo da Nação, logo o meu, nas directas. Tenho de esperar, e ter esperança. Só não vou atrás do que me dizem alguns com olhos doces. Preferia mil vezes escorregar nos becos lamacentos.
sexta-feira, maio 16, 2008
Pensamentos do Dalai Lima «'9'9,nbkjyt3e
«É verdade, fui fazer xi-xi enquanto o avião levantava voo. Mas estava mesmo a apetecer-me, e sempre fiz isto nos aviões, e não sabia que a lei não permitia, e além disso não fui só eu, havia mais na casa-de-banho comigo, por exemplo o Sr. Ministro Manuel Pinho. De qualquer maneira, a questão não se coloca, porque acabo de tomar a decisão de nunca mais fazer xi-xi na vida!...»
- Primeiro-Ministro José Sócrates, sobre a sua viagem de avião à Venezuela.
quinta-feira, maio 15, 2008
Justiça é desigualdade, igualdade é injustiça
Opressão socialista (34); Rapto da Europa (36)
A redoma da opressão socialista em que vivemos leva-nos, mesmo sem querermos, a alterar hábitos, comportamentos e, ainda mais grave, o pensamento. Está instalada a ideia de que igualdade é sinónimo de justiça, normalmente justiça social. E que a igualdade deve ser um dos objectivos a atingir pela nossa sociedade. Quem é que não se lembra logo da pobreza e das diferentes condições de vida de africanos e europeus. Após anos de propaganda neste sentido somos quase todos levados a pensar assim. Do mesmo modo, existe a ideia, materialista e socialista, de que quem tem mais dinheiro é obrigatóriamente mais feliz ou mais realizado. O exemplo para nos convencer é comparar os infelizes africanos e os felizes europeus, como se essas generalizações fossem os únicos estados existentes à face da Terra. A táctica socialista para implementar estas ideias tem sido muito simples: Transformar igualdades em direitos e legalizá-las, aproveitando a "igualdade perante a lei" necessária ao funcionamento justo das sociedades.
Mas se pensarmos um pouco mais e não nos limitarmos ás ideias que o pensamento político correcto da esquerda já entranhou nas nossas cabeças, fácilmente concluimos que igualdade é sinónimo de injustiça e não de justiça. Quem defende a igualdade, está a defender a injustiça entre os seres humanos. Não me refiro obviamente á igualdade perante Deus, essa é do Criador, não é inventada pelo Homem. Nem à igualdade perante a lei, essa é necessária para o funcionamento ordenado das sociedades e admite excepções. Refiro-me ás igualdades que a opressão socialista nos impinge diariamente. Igualdade é injustiça porque contraria a diversidade que existe entre os seres humanos. Todos somos diferentes, logo desiguais. Manter esta desigualdade natural deve ser um objectivo para o ser humano e não o contrário (houve, entre os socialistas, quem já tivesse entendido isto e passasse a defender o novo e igualmente ridículo chavão "igualdade na diversidade").
Vem isto a propósito de dois exemplos das notícias de ontem. O primeiro refere-se aos salários dos gestores. As "luminárias" da União Europeia lembraram-se agora que era inaceitável que os gestores usufruissem de grandes regalias enquanto existem pessoas com dificuldade em ter dinheiro para comer. Imoral, dirão alguns que não têm preocupações em usar uma palavra tão políticamente incorrecta. As referidas "luminárias" não chegaram ao exagero comunista do "salário igual para todos" mas esta é uma óptima oportunidade para ter a UE a afirmar-se junto das pessoas ao interferir na sua vida pacata e honesta. A ideia base é que existe demasiada desigualdade para o gosto deles. E como associam desigualdade a injustiça, está justificado o ataque aos gestores. Se alguém lhes perguntar qual é então o nível de desigualdade salarial aceitável não saberão responder, pois não têm nenhum critério para o aferir. Mas não conseguem separar os salários dos gestores das más condições de vida de algumas pessoas, relativizando os conceitos como a cartilha socialista nos ensina. Implicita está também a ideia, fundamentalmente errada, que o que os gestores ganham a mais é tirado aos que têm dificuldades económicas. Se os gestores ganharem menos, os probres ganham mais porque o "bolo" é sempre o mesmo.
Da mesma forma, o Grupo Leya pretende instalar pavilhões diferentes na Feira do Livro de Lisboa. Ignomínia, diz a APEL, diferentes???? Que horror!. Uma associação que depende de subsídios públicos acha-se logo no direito de querer impor a igualdade entre os pavilhões porque isso é que é justiça. O Grupo Leya é supostamente controlado por um gestor sem escrúpulos, daqueles com o charuto na boca, que teve o desfasamento de comprar editoras, o ninho por excelência dos intelectuais retrógados que defendem a igualdade. As reacções do mais puro basismo de editores e escritores contra Paes do Amaral têm aparecido abundantemente nos jornais. Mas este gestor representa apenas a diferença e é justo que o deixem demonstrà-la.
A verdadeira justiça traduz o sentimento de que quem trabalha mais e tem mais responsabilidade deve ganhar mais, ou seja justiça é desigualdade. A diferença (não é só a racial) deve ser acarinhada e estimulada. Por isso, é, por definição, justo que o Grupo Leya tenha pavilhões diferentes na Feira do Livro.
A redoma da opressão socialista em que vivemos leva-nos, mesmo sem querermos, a alterar hábitos, comportamentos e, ainda mais grave, o pensamento. Está instalada a ideia de que igualdade é sinónimo de justiça, normalmente justiça social. E que a igualdade deve ser um dos objectivos a atingir pela nossa sociedade. Quem é que não se lembra logo da pobreza e das diferentes condições de vida de africanos e europeus. Após anos de propaganda neste sentido somos quase todos levados a pensar assim. Do mesmo modo, existe a ideia, materialista e socialista, de que quem tem mais dinheiro é obrigatóriamente mais feliz ou mais realizado. O exemplo para nos convencer é comparar os infelizes africanos e os felizes europeus, como se essas generalizações fossem os únicos estados existentes à face da Terra. A táctica socialista para implementar estas ideias tem sido muito simples: Transformar igualdades em direitos e legalizá-las, aproveitando a "igualdade perante a lei" necessária ao funcionamento justo das sociedades.
Mas se pensarmos um pouco mais e não nos limitarmos ás ideias que o pensamento político correcto da esquerda já entranhou nas nossas cabeças, fácilmente concluimos que igualdade é sinónimo de injustiça e não de justiça. Quem defende a igualdade, está a defender a injustiça entre os seres humanos. Não me refiro obviamente á igualdade perante Deus, essa é do Criador, não é inventada pelo Homem. Nem à igualdade perante a lei, essa é necessária para o funcionamento ordenado das sociedades e admite excepções. Refiro-me ás igualdades que a opressão socialista nos impinge diariamente. Igualdade é injustiça porque contraria a diversidade que existe entre os seres humanos. Todos somos diferentes, logo desiguais. Manter esta desigualdade natural deve ser um objectivo para o ser humano e não o contrário (houve, entre os socialistas, quem já tivesse entendido isto e passasse a defender o novo e igualmente ridículo chavão "igualdade na diversidade").
Vem isto a propósito de dois exemplos das notícias de ontem. O primeiro refere-se aos salários dos gestores. As "luminárias" da União Europeia lembraram-se agora que era inaceitável que os gestores usufruissem de grandes regalias enquanto existem pessoas com dificuldade em ter dinheiro para comer. Imoral, dirão alguns que não têm preocupações em usar uma palavra tão políticamente incorrecta. As referidas "luminárias" não chegaram ao exagero comunista do "salário igual para todos" mas esta é uma óptima oportunidade para ter a UE a afirmar-se junto das pessoas ao interferir na sua vida pacata e honesta. A ideia base é que existe demasiada desigualdade para o gosto deles. E como associam desigualdade a injustiça, está justificado o ataque aos gestores. Se alguém lhes perguntar qual é então o nível de desigualdade salarial aceitável não saberão responder, pois não têm nenhum critério para o aferir. Mas não conseguem separar os salários dos gestores das más condições de vida de algumas pessoas, relativizando os conceitos como a cartilha socialista nos ensina. Implicita está também a ideia, fundamentalmente errada, que o que os gestores ganham a mais é tirado aos que têm dificuldades económicas. Se os gestores ganharem menos, os probres ganham mais porque o "bolo" é sempre o mesmo.
Da mesma forma, o Grupo Leya pretende instalar pavilhões diferentes na Feira do Livro de Lisboa. Ignomínia, diz a APEL, diferentes???? Que horror!. Uma associação que depende de subsídios públicos acha-se logo no direito de querer impor a igualdade entre os pavilhões porque isso é que é justiça. O Grupo Leya é supostamente controlado por um gestor sem escrúpulos, daqueles com o charuto na boca, que teve o desfasamento de comprar editoras, o ninho por excelência dos intelectuais retrógados que defendem a igualdade. As reacções do mais puro basismo de editores e escritores contra Paes do Amaral têm aparecido abundantemente nos jornais. Mas este gestor representa apenas a diferença e é justo que o deixem demonstrà-la.
A verdadeira justiça traduz o sentimento de que quem trabalha mais e tem mais responsabilidade deve ganhar mais, ou seja justiça é desigualdade. A diferença (não é só a racial) deve ser acarinhada e estimulada. Por isso, é, por definição, justo que o Grupo Leya tenha pavilhões diferentes na Feira do Livro.
quarta-feira, maio 14, 2008
Desacordos ortográficos
Opressão socialista (33)
Na próxima 6ª feira vota-se a alteração ao acordo ortográfico para a língua portuguesa. Trata-se, na sua essência, de um debate sem conteúdo. Exemplar é a crónica de hoje de Rui Tavares, no Público. Consegue encher três colunas sem dizer porque razão concorda com o acordo, apesar de intitular a referida crónica "Uma boa decisão". Limita-se a referir clichés entre os quais se encontra o extraordinário "Sem o acordo ortográfico o Mundo acabaria por seguir naturalmente a norma brasileira, considerando o crescente peso demográfico e económico do Brasil". Isso aconteceria porque Rui Tavares quer. Mas como Rui Tavares é mais uma "luminária" que enche as páginas dos jornais, assine-se o acordo. São estes debates pífios, pagos pelo Eng. Belmiro e outros que tais, e indirectamente por nós, que animam as hostes lusitanas e as fazem esquecer das agruras do dia-a-dia.
Eu manifestei-me contra o acordo porque não vou em aberrações socialistas e escrevo e escreverei como me ensinaram, não como a maioria socialista quer. Se também o quiser fazer vote aqui.
Na próxima 6ª feira vota-se a alteração ao acordo ortográfico para a língua portuguesa. Trata-se, na sua essência, de um debate sem conteúdo. Exemplar é a crónica de hoje de Rui Tavares, no Público. Consegue encher três colunas sem dizer porque razão concorda com o acordo, apesar de intitular a referida crónica "Uma boa decisão". Limita-se a referir clichés entre os quais se encontra o extraordinário "Sem o acordo ortográfico o Mundo acabaria por seguir naturalmente a norma brasileira, considerando o crescente peso demográfico e económico do Brasil". Isso aconteceria porque Rui Tavares quer. Mas como Rui Tavares é mais uma "luminária" que enche as páginas dos jornais, assine-se o acordo. São estes debates pífios, pagos pelo Eng. Belmiro e outros que tais, e indirectamente por nós, que animam as hostes lusitanas e as fazem esquecer das agruras do dia-a-dia.
Eu manifestei-me contra o acordo porque não vou em aberrações socialistas e escrevo e escreverei como me ensinaram, não como a maioria socialista quer. Se também o quiser fazer vote aqui.
Etiquetas: Acordo ortográfico., Público
terça-feira, maio 13, 2008
Mais uma "espadeirada" no Maio de 68
Ainda o Maio de 68
por João Carlos Espada
in Expresso, 10/5/2008
A crítica que aqui publiquei na semana passada ao arcaísmo do Maio de 68 valeu-me uma enxurrada de «mails», dominantemente discordantes, que acabaram por fechar a minha caixa de correio. Agradeço aos críticos e peço desculpa aos que eventualmente não tenha conseguido responder. Mas mantenho o meu ponto de vista: uma crítica ao espírito revolucionário de 68, não em nome da estagnação ou do passado, mas em nome da superioridade da mudança gradual, local e descentralizada, numa palavra, não-autoritária. E mantenho a minha acusação de autoritarismo dirigida ao Maio de 68.
Julgo que vale a pena observar a ligação entre esta preferência pela evolução descentralizada e a crítica à ideia de revolução. A revolução supõe uma certa crença na possibilidade de mudar centralmente as coisas para melhor. Mas a preferência pelos arranjos locais, em regime de liberdade, contém um grande cepticismo relativamente a planos centrais, logo, por maioria de razão, a mudanças revolucionariamente dirigidas.
Não existe aqui nenhuma animosidade intrínseca relativamente à mudança, mas apenas à mudança centralmente, ou externamente, desenhada. Nos arranjos locais existe um permanente diálogo entre tradição e mudança, não existe apenas tradição. Só que esse diálogo é ditado pelas conveniências internas de quem vive e conhece as circunstâncias locais - não é ditado por planificadores externos ou por visões abstractas acerca de um futuro radioso.
Um conhecido ditado inglês - «an Englishman’s home is his castle - exprime muito bem esta ideia de mudança gradual e descentralizada. Se a casa de um inglês é o seu castelo, isso quer dizer basicamente que ninguém deve intrometer-se na sua casa. Mas não está dito que essa casa permanecerá igual para todo o sempre. O que está dito é que cada um saberá encontrar as mudanças necessárias para tornar a sua casa mais conveniente, mais confortável; e que não aceitará que essas mudanças sejam centralmente ou externamente dirigidas por visionários vanguardistas, ou, já agora, por arquitectos autoritários.
O Maio de 68 julgou exprimir uma disposição profundamente progressista e favorável à liberdade. Mas, ao preconizar mudanças globais revolucionárias, em vez da redução da uniformização centralmente desenhada, acabou por alimentar os defeitos autoritários que disse combater. Um ponto pode todavia ser acrescentado a seu favor: o Maio de 68 permitiu a vários dos seus protagonistas confrontarem-se com este paradoxo e, por causa disso, permitiu-lhes libertarem-se da ilusão revolucionária. Lamento ter de dizer, no entanto, que não há nada de muito inovador nessa descoberta.
por João Carlos Espada
in Expresso, 10/5/2008
A crítica que aqui publiquei na semana passada ao arcaísmo do Maio de 68 valeu-me uma enxurrada de «mails», dominantemente discordantes, que acabaram por fechar a minha caixa de correio. Agradeço aos críticos e peço desculpa aos que eventualmente não tenha conseguido responder. Mas mantenho o meu ponto de vista: uma crítica ao espírito revolucionário de 68, não em nome da estagnação ou do passado, mas em nome da superioridade da mudança gradual, local e descentralizada, numa palavra, não-autoritária. E mantenho a minha acusação de autoritarismo dirigida ao Maio de 68.
Julgo que vale a pena observar a ligação entre esta preferência pela evolução descentralizada e a crítica à ideia de revolução. A revolução supõe uma certa crença na possibilidade de mudar centralmente as coisas para melhor. Mas a preferência pelos arranjos locais, em regime de liberdade, contém um grande cepticismo relativamente a planos centrais, logo, por maioria de razão, a mudanças revolucionariamente dirigidas.
Não existe aqui nenhuma animosidade intrínseca relativamente à mudança, mas apenas à mudança centralmente, ou externamente, desenhada. Nos arranjos locais existe um permanente diálogo entre tradição e mudança, não existe apenas tradição. Só que esse diálogo é ditado pelas conveniências internas de quem vive e conhece as circunstâncias locais - não é ditado por planificadores externos ou por visões abstractas acerca de um futuro radioso.
Um conhecido ditado inglês - «an Englishman’s home is his castle - exprime muito bem esta ideia de mudança gradual e descentralizada. Se a casa de um inglês é o seu castelo, isso quer dizer basicamente que ninguém deve intrometer-se na sua casa. Mas não está dito que essa casa permanecerá igual para todo o sempre. O que está dito é que cada um saberá encontrar as mudanças necessárias para tornar a sua casa mais conveniente, mais confortável; e que não aceitará que essas mudanças sejam centralmente ou externamente dirigidas por visionários vanguardistas, ou, já agora, por arquitectos autoritários.
O Maio de 68 julgou exprimir uma disposição profundamente progressista e favorável à liberdade. Mas, ao preconizar mudanças globais revolucionárias, em vez da redução da uniformização centralmente desenhada, acabou por alimentar os defeitos autoritários que disse combater. Um ponto pode todavia ser acrescentado a seu favor: o Maio de 68 permitiu a vários dos seus protagonistas confrontarem-se com este paradoxo e, por causa disso, permitiu-lhes libertarem-se da ilusão revolucionária. Lamento ter de dizer, no entanto, que não há nada de muito inovador nessa descoberta.
Coisas que eu gostaria de ter escrito: CORROMPER UM ÁRBITRO É UMA ESPÉCIE DE AMOR
"(...) O DN ouviu na quinta-feira Guilherme Aguiar sobre o papel que Pinto da Costa pode vir a desempenhar na SAD, e o ex-dirigente do FC Porto foi claríssimo: "Esta é uma suspensão de actividade igual às que se destinam aos jogadores quando são suspensos por um ou dois jogos. Não podem jogar, mas podem treinar." E quanto aos 50 mil euros que ele recebe mensalmente? É para pagar: "Os jogadores também continuam a receber." Ora aqui está uma bela comparação. Para Guilherme Aguiar, corromper um árbitro é assim como enfiar uma canelada num adversário, ir para a rua, e ficar uns jogos de fora. Um acidente de percurso, portanto. Uma entrada violenta, no máximo. Coisas do futebol.
Suponho que a maior parte dos sócios do Porto considere uma de duas coisas. 1) Que tudo isto não passa de uma cabala contra o líder dos dragões patrocinada pelo Benfica. 2) Que as actividades ilícitas do seu presidente são apenas mais uma manifestação de inabalável portismo. Afinal, Pinto da Costa e o FC Porto confundem- -se numa história de inegável sucesso desportivo. Mas a complacência com a corrupção é um espinho que infecta todo o futebol português. A verdade é que ninguém realmente acredita que a viciação de resultados tenha começado na época de 2003/2004. Aliás, pagar para ajudar o Porto em 2004 - para quem não se recorda, a época áurea de José Mourinho, que acabou com a conquista da Taça dos Campeões - é tão absurdo quanto Francis Obikwelu subornar um coxo para lhe conseguir ganhar numa corrida de 100 metros. Simplesmente, quando é longa e vasta a tradição de trafulhice, os maus hábitos custam a morrer. E nesse singular ecossistema chamado futebol, ainda há quem ache que corromper é apenas uma forma - um pouco atrevida, vá lá - de manifestar o amor a um clube. Em vez de se enrolar um cachecol ao pescoço de um adepto, enrola-se uma prostituta ao pescoço de um árbitro. Faz alguma diferença? Se Pinto da Costa se mantiver à frente do FC Porto é porque, lá no fundo, no fundo, não faz."
João Manuel Tavares no DN de hoje.
Jorge Nuno Pinto da Costa está há decadas à frente do FCP, e a Liga chama "Apito Final" a um caso referente à epoca de 2003/04, que tem como resultado prático aquilo que se sabe... Chama-se a isto branqueamento.
Suponho que a maior parte dos sócios do Porto considere uma de duas coisas. 1) Que tudo isto não passa de uma cabala contra o líder dos dragões patrocinada pelo Benfica. 2) Que as actividades ilícitas do seu presidente são apenas mais uma manifestação de inabalável portismo. Afinal, Pinto da Costa e o FC Porto confundem- -se numa história de inegável sucesso desportivo. Mas a complacência com a corrupção é um espinho que infecta todo o futebol português. A verdade é que ninguém realmente acredita que a viciação de resultados tenha começado na época de 2003/2004. Aliás, pagar para ajudar o Porto em 2004 - para quem não se recorda, a época áurea de José Mourinho, que acabou com a conquista da Taça dos Campeões - é tão absurdo quanto Francis Obikwelu subornar um coxo para lhe conseguir ganhar numa corrida de 100 metros. Simplesmente, quando é longa e vasta a tradição de trafulhice, os maus hábitos custam a morrer. E nesse singular ecossistema chamado futebol, ainda há quem ache que corromper é apenas uma forma - um pouco atrevida, vá lá - de manifestar o amor a um clube. Em vez de se enrolar um cachecol ao pescoço de um adepto, enrola-se uma prostituta ao pescoço de um árbitro. Faz alguma diferença? Se Pinto da Costa se mantiver à frente do FC Porto é porque, lá no fundo, no fundo, não faz."
João Manuel Tavares no DN de hoje.
Jorge Nuno Pinto da Costa está há decadas à frente do FCP, e a Liga chama "Apito Final" a um caso referente à epoca de 2003/04, que tem como resultado prático aquilo que se sabe... Chama-se a isto branqueamento.
A propósito do Cónego Melo
Em resposta aos comentários do José Luís e do Joel (aqui):
A presunção de inocência serve apenas para quando dá jeito, ou melhor, quando se fala daquela canalha de esquerda que o pseudo-intelectualismo ocidental tanto gosta de promover. Ilustrativo é o caso do Aquilino Ribeiro, recentemente transladado para o Panteão Nacional como herói nacional depois de ter conspirado e atentado contra o Rei.
Já o Cónego Melo, não. È um assassino nato que, haja provas ou não, isso é irrelevante, matou o Padre Max e amiga. E matou porque está escrito que foi assim, como está escrito que Salazar matou Humberto Delgado e que os nazis mataram oficiais polacos em Katyn. São as "sagradas escrituras" da esquerda, passe a blasfémia.
Mas como eu não vivo em função do que a esquerda diz, Viva o Cónego Melo! Foi um dos que mais incentivou assaltos ás sedes do PCP no Norte do país e a quem devemos agradecer o facto de hoje vivermos num país livre. Não fora a acção da Igreja e a reacção do Norte e hoje teriamos o Saramago a censurar este blog. Nunca se esqueçam disto, meus amigos.
O Cónego Melo nunca faria o 25 de Abril. Mas sem ele não haveria 25 de Novembro. E a transicção para a democracia não começou e acabou a 25 de Abril. Começou a 25 de Abril de 1974 e terminou a 25 de Novembro de 1975. Faça-se a estátua.
A presunção de inocência serve apenas para quando dá jeito, ou melhor, quando se fala daquela canalha de esquerda que o pseudo-intelectualismo ocidental tanto gosta de promover. Ilustrativo é o caso do Aquilino Ribeiro, recentemente transladado para o Panteão Nacional como herói nacional depois de ter conspirado e atentado contra o Rei.
Já o Cónego Melo, não. È um assassino nato que, haja provas ou não, isso é irrelevante, matou o Padre Max e amiga. E matou porque está escrito que foi assim, como está escrito que Salazar matou Humberto Delgado e que os nazis mataram oficiais polacos em Katyn. São as "sagradas escrituras" da esquerda, passe a blasfémia.
Mas como eu não vivo em função do que a esquerda diz, Viva o Cónego Melo! Foi um dos que mais incentivou assaltos ás sedes do PCP no Norte do país e a quem devemos agradecer o facto de hoje vivermos num país livre. Não fora a acção da Igreja e a reacção do Norte e hoje teriamos o Saramago a censurar este blog. Nunca se esqueçam disto, meus amigos.
O Cónego Melo nunca faria o 25 de Abril. Mas sem ele não haveria 25 de Novembro. E a transicção para a democracia não começou e acabou a 25 de Abril. Começou a 25 de Abril de 1974 e terminou a 25 de Novembro de 1975. Faça-se a estátua.
segunda-feira, maio 12, 2008
FARC (Está tudo Doido II)
As FARC estão desde 2002, ano em que Álvaro Úribe foi eleito presidente da Colômbia, a tornar-se numa marca global, bem ao estilo da suas congéneres e aliadas islâmicas, e terão células clandestinas em pelo menos dezassete países, incluindo na Alemanha e Suiça (e Portugal?), e contam com o apoio de cerca de 400 grupos, incluindo o nosso mui distinto grupo parlamentar do PCP (Já ficámos a saber porque é que os representantes das FARC são convidados todos os anos para a festa do Avante…).
Esta notícia foi ontem capa do jornal espanhol EL PAÍS. Em Portugal, salvo erro, apenas a edição impressa do Público faz referência a este assunto.
A face visível desta internacionalização, é o CCB, não a do Joe Berardo, aqui em Belém, mas a Coordenadora Continental Bolivariana (CCB), uma facção de “extrema-esquerda que em Fevereiro adoptou uma resolução de apoio à batalha internacional das FARC”, conforme se pode ler na página 19, da versão impressa do Público de hoje.
O mais interessante a meu ver, e que confirma o que eu tenho escrito aqui, são as ligações privilegiadas das FARC com a Venezuela de Chávez. De acordo com ambos os jornais, (El País e Público), “Hugo Chávez terá dado dinheiro à guerrilha e pelo menos facilitado transacções de armamento (…) Chávez terá funcionado como aliado providencial da guerrilha nesta ofensiva diplomática em busca de apoios na América Latina”.
Isto é quase o mesmo que Sarko, apoiar a ETA contra o Governo Espanhol, ou o Canadá apoiar a Al-Qaeda contra os EUA. Ou será que estou enganado?
Mário Soares, o grande amigo e sócio de Chávez, escreve amanhã no DN, mas algo me diz que este assunto não lhe vai merecer qualquer comentário. Querem apostar?
Mário Soares, o grande amigo e sócio de Chávez, escreve amanhã no DN, mas algo me diz que este assunto não lhe vai merecer qualquer comentário. Querem apostar?
Cónego Melo deve ter uma estátua em Portugal
Deve, ou não deve, ter o Cónego Melo uma estátua em Braga? A minha resposta é que não deve. O Cónego Melo deve ter uma estátua em Portugal pelo que fez pela nossa liberdade.
Se quiser votar no Diário do Minho, clique aqui.
Insegurança alimentar
Rapto da Europa (35)
O novo tema da moda é a crise alimentar. Os culpados são os do costume, os Estados Unidos, sempre os grandes responsáveis por tudo e que desta vez se puseram a produzir “biofuel”, e a ganância do capitalismo. Os alimentos não chegam para a população mundial e as situações de pobreza alastram por esse Mundo fora. Alguns ainda vão referindo o aumento da procura, vindo da China. Como está muito longe, podem também arcar com parte das culpas. São muitos os que denunciam esta situação mas poucos os que apresentam qualquer solução.
O que também ninguém diz é qual a responsabilidade da União Europeia e da famigerada Política Agrícola Comum. Antes da crise, a UE produzia excessos que mandava deitar fora ou dar aos “pobrezinhos” da Europa. Por vezes pagava aos produtores para exportar para outros pontos do Mundo, pondo em risco a subsistência de algumas agriculturas de países menos desenvolvidos. Foram anos de fartura e de esbanjamento por essa Europa fora.
Mas não em Portugal, onde a generalidade dos agricultores caiu na descrença ao serem confrontados com produtores mais eficientes e bem organizados, e também com mais e melhor terra para cultivar. A balança externa agravou-se e Portugal confiou o seu destino agrícola aos euro-burocratas. Mas não fazia mal pois a agricultura não era essencial. Falar em segurança alimentar era usar argumentos do tempo de Salazar, diziam. Entretanto, a agricultura portuguesa ia definhando.
Agora, após a reforma da PAC e a pseudo-reforma que se lhe seguiu, vem uma crise alimentar e ouvimos os apelos á segurança alimentar na Europa. Os mesmo que justificaram o fim da agricultura portuguesa menosprezando qualquer necessidade de segurança alimentar e dizendo que o mercado é que valia, vêm agora rebuscar o mesmo argumento para justificar o reforço do poder de Bruxelas no incentivo á produção agrícola. Entretanto, a agricultura portuguesa já definhou e não nos resta alternativa senão ir lá fora comprar cada vez mais e cada vez mais caro. Também isto faz a Europa.
sexta-feira, maio 09, 2008
BD do meu tempo
Popeye, the sailor man! Era um dos meus heróis preferidos.
Desapareceu da TV, para dar lugar a personagens de caras quadradas e assimétricas, a quem sobra em boca, flexibilidade e extensão de membros o que falta em número de olhos e, pior, em diálogos e mensagem.
Valha-nos o DVD, em alguns casos. Recentemente, reencontrei o Dartacão, refundido numa prateleira de um hipermercado! Comprei, claro!
Lá em casa o Noddy e o Ruca já ganham pó. Coitados, são inofensivos e do melhor que há nos dias que correm. Mas não superam os Moscãoteiros!
Nesta "onda" nostálgica, lembrei-me de contar a história do Popeye quando a ementa inclui sopa de folhas verdes. E agora não querem outra coisa, tanto para comer como para ver ;)
E encontrá-lo em DVD? Nickles!
Imagino que este bravo marinheiro seja muito politicamente incorrecto para os padrões correntes. Ele fuma cachimbo, ele come espinafres de lata, ele usa o efeito dos esteróides (sim, confirmem aqui!) para enfiar umas murraças no Brutus, que insiste em meter-se com a Olivia Palito, essa trinca espinhas de voz esganiçada. Enfim, um sem número de comportamentos inaceitáveis para mostrar a mata-borrões de 4/5/6...anos.
Mas os meus filhos estão realmente entusiasmados com o Popeye. É a qualidade a vir acima, em criações intemporais.
Uma Lição do VPV
Nem de propósito. Na sequência do "Burro velho não aprende línguas" aqui mais abaixo, o Vasco Pulido Valente, no Público de hoje a propósito da “coroação” de Medvedev, escreve que “A Rússia de hoje é uma lição de coisas sobre a íntima ineficácia da política para mudar a história”. Em relação aqui ao burgo, não deixa de dar uma merecida tacada ao PCP (que por não ser assinante, passo a transcrever):
“Também em Portugal o passado se recusa a passar. (…) Portugal é o único país do Ocidente em que, depois do colapso soviético, sobreviveu (e prospera) um partido comunista com a força do nosso. (…) Portugal é o único país do Ocidente que espera do Estado a sua salvação." Na mouche.
“Também em Portugal o passado se recusa a passar. (…) Portugal é o único país do Ocidente em que, depois do colapso soviético, sobreviveu (e prospera) um partido comunista com a força do nosso. (…) Portugal é o único país do Ocidente que espera do Estado a sua salvação." Na mouche.
quinta-feira, maio 08, 2008
BURRO VELHO NÃO APRENDE LÍNGUAS
O PCP reiterou o seu apoio à soberania chinesa do Tibete. Grande novidade. Mais abaixo na notícia do Público, pode-se ler: "Albano Nunes elogiou os êxitos chineses na construção socialista e o progresso chinês nos últimos 30 anos de reforma e abertura, manifestando o desejo que a China fique mais poderosa." A China! Um estado totalitário, altamente repressor, que se agarrou ao capitalismo mais selvagem para sobreviver, e onde os direitos dos trabalhadores não existem sequer! Um país que dizimou milhares de mosteiros tibetanos durante quatro decadas de genocídio, que ainda hoje continua, mas que acusa o Dalai Lama de ser terrorista...
Orfãos da URRS, estes velhos marxistas-leninistas, lambem agora as botas aos Maoistas. Agarram-se a qualquer ditador, a qualquer ideologia, desde que seja contra os EUA, Israel e o Ocidente em geral, como sempre aliás.
Nunca me hei-de de esquecer de uma capa do DN de há uns anos atrás, na qual o Bernardino Soares (que se iniciara como porta voz da bancada comunista na AR), afirmava ter dúvidas que a Coreia do Norte e Cuba fossem ditaduras... Que mais se pode dizer destes grandes democratas?
Orfãos da URRS, estes velhos marxistas-leninistas, lambem agora as botas aos Maoistas. Agarram-se a qualquer ditador, a qualquer ideologia, desde que seja contra os EUA, Israel e o Ocidente em geral, como sempre aliás.
Nunca me hei-de de esquecer de uma capa do DN de há uns anos atrás, na qual o Bernardino Soares (que se iniciara como porta voz da bancada comunista na AR), afirmava ter dúvidas que a Coreia do Norte e Cuba fossem ditaduras... Que mais se pode dizer destes grandes democratas?
Partido para que te quero?! Parte V
Continuação deste, deste, deste e deste posts.
Duas perguntas determinantes colocam-se, pois, aos Partidos: Para que existem? e a quem servem? A verdade, porém, é que, por muito que custe aos que cultivam o gosto de estar longe do seu seio, só quem está nos Partidos poderá responder a estas perguntas. E é, por isso, que tomar partido é, nos nossos dias, tão importante. Tomar partido para pôr os Partidos onde eles devem estar: ao serviço do País e do crescimento do espaço ideológico que defendem. Só assim se romperá a indiferença do dia de hoje.
Duas perguntas determinantes colocam-se, pois, aos Partidos: Para que existem? e a quem servem? A verdade, porém, é que, por muito que custe aos que cultivam o gosto de estar longe do seu seio, só quem está nos Partidos poderá responder a estas perguntas. E é, por isso, que tomar partido é, nos nossos dias, tão importante. Tomar partido para pôr os Partidos onde eles devem estar: ao serviço do País e do crescimento do espaço ideológico que defendem. Só assim se romperá a indiferença do dia de hoje.
Filipe Anacoreta Correia
Dúvida
O que é uma "plataforma giratória"? Que conceito é este, vulgarmente usado pelo dito jornalismo de investigação relativamente a certas empreas?
quarta-feira, maio 07, 2008
terça-feira, maio 06, 2008
País de Brandos Costumes
Violência doméstica matou 17 mulheres em três meses. Caiu-me o queixo ao ler este artigo. Pelo título pensei que a noticia fosse sobre algum país africano ou da América -latina, ou até porque não dizê-lo sobre algum país muçulmano. Não me passou pela cabeça que fosse em Portugal. Mas não. Esta vergonha passa-se cá, um país dito de brandos costumes.
Há vários anos que surgem reportagens e artigos sobre a violência doméstica, mas normalmente as vítimas estavam vivas, e apareciam a falar com a voz e a imagem distorcida, nalguma casa de abrigo. A moldura penal foi alterada, e realçou-se o facto de se tratar de um crime. Mas não tinha a ideia que se matava tanto.
Quero acreditar que também neste aspecto Portugal está na cauda da Europa (mas algo me diz que não estaremos sozinhos). Estou certo que haverá muitas razões sócio-económicas para explicar isto, estamos num país, atrasado, pobre, mesquinho, e há cada vez mais dificuldades financeiras, que atingem sobretudo os mais desfavorecidos, mas não há desculpas para este ultraje.
Hoje apercebo-me que a dita brandura não estará tanto nos costumes, mas na forma como tudo se aceita neste país, desde a corrupção, à carga fiscal, às mortes nas estradas, aos atrasos na justiça, e pelo vistos até a violência doméstica, a ver-se pelo tratamento jornalístico que esta notícia mereceu tanto pelo DN, cuja falta de realce dá um ar de quase banalidade, bem como pelos outros jornais ditos de referência.
Há vários anos que surgem reportagens e artigos sobre a violência doméstica, mas normalmente as vítimas estavam vivas, e apareciam a falar com a voz e a imagem distorcida, nalguma casa de abrigo. A moldura penal foi alterada, e realçou-se o facto de se tratar de um crime. Mas não tinha a ideia que se matava tanto.
Quero acreditar que também neste aspecto Portugal está na cauda da Europa (mas algo me diz que não estaremos sozinhos). Estou certo que haverá muitas razões sócio-económicas para explicar isto, estamos num país, atrasado, pobre, mesquinho, e há cada vez mais dificuldades financeiras, que atingem sobretudo os mais desfavorecidos, mas não há desculpas para este ultraje.
Hoje apercebo-me que a dita brandura não estará tanto nos costumes, mas na forma como tudo se aceita neste país, desde a corrupção, à carga fiscal, às mortes nas estradas, aos atrasos na justiça, e pelo vistos até a violência doméstica, a ver-se pelo tratamento jornalístico que esta notícia mereceu tanto pelo DN, cuja falta de realce dá um ar de quase banalidade, bem como pelos outros jornais ditos de referência.
segunda-feira, maio 05, 2008
sexta-feira, maio 02, 2008
A Miséria da Casa da Tripa - Capítulo III, 1.ª parte
O azul do céu, pontuado apenas por inofensivas e rendadas nuvens, inspirava tranquilidade, bonança, império e real seguros. O chilrear dos pássaros madrugadores era o único som que cortava a quietude dos Novelões. Uma chilreada que arrancara, às asas de Morfeu, Doroteia.
Ao longe, o pó anunciava visitas.
O característico e incessante batucar na imponente porta da Casa dos Novelões, não escondia a identidade do visitante. Genoveva precipitou-se para a entrada na esperança de poder salvar o que pudesse ainda sobrar do sobro da porta.
Os Barcarena eram fidalgos distintíssimos, de ancestral linhagem mas cada vez mais magra comedoria. Ocuparam os mais relevantes lugares que a Coroa, sempre com parcimónia, distribuía aos seus mais dilectos servidores. Tinham sido capitães donatários de diversas possessões, vice-reis e ministros. A elevação ao marquesado foi graça de D. Afonso VI que, apesar dos pesares, D. Pedro II respeitou. Estando recolhido (era a palavra oficial com que se baptizava o encarceramento d’El-Rei) em Sintra, o único contacto que o real Senhor mantinha era o que os pombos dos Barcarena possibilitavam. Numa dessas trocas de correspondência, prometeu-lhe o sexto Conde de Barcarena aproveitar a noite de lua nova para dar uso à escada, de grandes dimensões, que havia sido construída no mais guardado segredo para devolver a liberdade que ao soberano o mano tirara. Em resposta, D. Afonso, por causa da escada, e da elevação que ela permitia, decidiu elevá-lo a Marquês. No dia, ou melhor, na noite aprazada, lá foram os lacaios do novel Marquês, pé ante pé, camuflados como se estivessem no BBC Vida Selvagem de David Attenborough, com um escadão às costas. Assim que chegaram às imediações do Paço, logo as sentinelas deram o alerta, desconfiados dos sete arbustos, viçosos, que se locomoviam, sem vento, com uma escada enorme pousada nas suas copas. D. Pedro II perdoou ao Barcarena quando este, na certeza de que o título lhe seria reconhecido, fez degolar os pombos que perturbavam o repouso do Senhor D. Afonso e, mais irritante ainda, cagavam o patim do Palácio da Vila, tornando perigosamente escorregadio o percurso de D. Pedro, quando, pela calada, se furtava aos deveres conjugais, nos braços das aldeãs das redondezas.
- Pegas, podemos tê-las! – dizia amiúde o Bispo Confessor D’El Rei D. Pedro – Não podemos é trazê-las para casa! – E assim procedia obedientemente o soberano, não sem antes entoar, antes de cada escapadela, o magoado acto de contrição que o redimia. – Quem não proceder desta maneira, arranjará problemas … – profetizava o probo prelado – … até, quem sabe, com a justiça do Porto!
O cocheiro do Marquês de Barcarena, de libré um pouco gasta mas de abotoadura de prata polidíssima ostentando as armas da Família, mantinha-se na sua função, reproduzindo o ininterrupto bater característico dos Senhores da sua Casa.
Assim que Genoveva abriu a porta, e mesmo antes de ela pronunciar qualquer palavra, logo o lacaio gritou:
- O Senhor Marquês de Barcarena, D. José Maria do Santo Espírito e do Santíssimo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus o Cristo Salvador do Mundo e das Sete Espadas de Nossa Senhora das Dores e do Santo Lenho de Athouguia e Mascarenhas Telo de Menezes da Câmara de Lisboa e Castro...
- E o Lancastre? Quere-lo para ti? – Resmungou o Marquês.
- Queira desculpar, meu Senhor – disse em voz mais sumida, para logo voltar a gritar, agora mais alto ainda:
- O Senhor Marquês de Barcarena, D. José Maria do Santo Espírito e do Santíssimo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus o Cristo Salvador do Mundo e das Sete Espadas de Nossa Senhora das Dores e do Santo Lenho de Athouguia e Mascarenhas Lancastre – disse mais fortemente ainda - Telo de Menezes da Câmara de Lisboa e… - fez uma pausa de respiração - … Castro … Só depois de ter visto, pelo canto do olho, o menear afirmativo de seu amo, o cocheiro prosseguiu - … para a Senhora Dona Doroteia.
A criada, atónita, nada disse. Empanicada, disparou em corrida, vencendo a distância que a separava do quarto de D. Genoveva, galgando os obstáculos que havia.
- Minha Senhora, minha Senhora. É um senhor da Câmara de Lisboa.
- Eu sei quem é, obrigada. Manda entrar mas não ofereças nada.
Voltando à porta, onde estava o Marquês especado com certa indignação, a rapariga lá disse:
- A Senhora manda que os senhores entrem …
- Só entro eu, sua tonta – disse o Marquês, abrindo caminho.
- … e espero que não queiram nada … que nada vos posso oferecer.
Ao longe, o pó anunciava visitas.
O característico e incessante batucar na imponente porta da Casa dos Novelões, não escondia a identidade do visitante. Genoveva precipitou-se para a entrada na esperança de poder salvar o que pudesse ainda sobrar do sobro da porta.
Os Barcarena eram fidalgos distintíssimos, de ancestral linhagem mas cada vez mais magra comedoria. Ocuparam os mais relevantes lugares que a Coroa, sempre com parcimónia, distribuía aos seus mais dilectos servidores. Tinham sido capitães donatários de diversas possessões, vice-reis e ministros. A elevação ao marquesado foi graça de D. Afonso VI que, apesar dos pesares, D. Pedro II respeitou. Estando recolhido (era a palavra oficial com que se baptizava o encarceramento d’El-Rei) em Sintra, o único contacto que o real Senhor mantinha era o que os pombos dos Barcarena possibilitavam. Numa dessas trocas de correspondência, prometeu-lhe o sexto Conde de Barcarena aproveitar a noite de lua nova para dar uso à escada, de grandes dimensões, que havia sido construída no mais guardado segredo para devolver a liberdade que ao soberano o mano tirara. Em resposta, D. Afonso, por causa da escada, e da elevação que ela permitia, decidiu elevá-lo a Marquês. No dia, ou melhor, na noite aprazada, lá foram os lacaios do novel Marquês, pé ante pé, camuflados como se estivessem no BBC Vida Selvagem de David Attenborough, com um escadão às costas. Assim que chegaram às imediações do Paço, logo as sentinelas deram o alerta, desconfiados dos sete arbustos, viçosos, que se locomoviam, sem vento, com uma escada enorme pousada nas suas copas. D. Pedro II perdoou ao Barcarena quando este, na certeza de que o título lhe seria reconhecido, fez degolar os pombos que perturbavam o repouso do Senhor D. Afonso e, mais irritante ainda, cagavam o patim do Palácio da Vila, tornando perigosamente escorregadio o percurso de D. Pedro, quando, pela calada, se furtava aos deveres conjugais, nos braços das aldeãs das redondezas.
- Pegas, podemos tê-las! – dizia amiúde o Bispo Confessor D’El Rei D. Pedro – Não podemos é trazê-las para casa! – E assim procedia obedientemente o soberano, não sem antes entoar, antes de cada escapadela, o magoado acto de contrição que o redimia. – Quem não proceder desta maneira, arranjará problemas … – profetizava o probo prelado – … até, quem sabe, com a justiça do Porto!
O cocheiro do Marquês de Barcarena, de libré um pouco gasta mas de abotoadura de prata polidíssima ostentando as armas da Família, mantinha-se na sua função, reproduzindo o ininterrupto bater característico dos Senhores da sua Casa.
Assim que Genoveva abriu a porta, e mesmo antes de ela pronunciar qualquer palavra, logo o lacaio gritou:
- O Senhor Marquês de Barcarena, D. José Maria do Santo Espírito e do Santíssimo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus o Cristo Salvador do Mundo e das Sete Espadas de Nossa Senhora das Dores e do Santo Lenho de Athouguia e Mascarenhas Telo de Menezes da Câmara de Lisboa e Castro...
- E o Lancastre? Quere-lo para ti? – Resmungou o Marquês.
- Queira desculpar, meu Senhor – disse em voz mais sumida, para logo voltar a gritar, agora mais alto ainda:
- O Senhor Marquês de Barcarena, D. José Maria do Santo Espírito e do Santíssimo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus o Cristo Salvador do Mundo e das Sete Espadas de Nossa Senhora das Dores e do Santo Lenho de Athouguia e Mascarenhas Lancastre – disse mais fortemente ainda - Telo de Menezes da Câmara de Lisboa e… - fez uma pausa de respiração - … Castro … Só depois de ter visto, pelo canto do olho, o menear afirmativo de seu amo, o cocheiro prosseguiu - … para a Senhora Dona Doroteia.
A criada, atónita, nada disse. Empanicada, disparou em corrida, vencendo a distância que a separava do quarto de D. Genoveva, galgando os obstáculos que havia.
- Minha Senhora, minha Senhora. É um senhor da Câmara de Lisboa.
- Eu sei quem é, obrigada. Manda entrar mas não ofereças nada.
Voltando à porta, onde estava o Marquês especado com certa indignação, a rapariga lá disse:
- A Senhora manda que os senhores entrem …
- Só entro eu, sua tonta – disse o Marquês, abrindo caminho.
- … e espero que não queiram nada … que nada vos posso oferecer.
Isílio Verdasca
"E AFINAL O 25 DE ABRIL...
Na voragem de um quotidiano detalhado à exaustão temos vindo a perder o hábito e o gosto por um qualquer exercício de análise, mesmo do passado recente. Já G.Sorel observava que é caracteristico das épocas de decadência o desaparecimento dos pensadores e a emergência dos comentadores. Estes entregam-se à tarefa circular de analisar um facto - em regra de relevância efémera - por todos os ângulos possíveis. O tempo mediático impõe a redução dos descontextualizadas comentários a análises simplistas, tão efémeras como os factos que as dominam.É curioso como o 25 de Abril, que estabeleceu uma ruptura definitiva com factores determinantes da nossa identidade histórica, seja hoje pouco mais do que um feriado, com sorte, uma "ponte". Mesmo os que viveram conscientemente este periodo histórico e, em muitos casos, o protagonizaram na catadupa de acontecimentos, inevitabilidades e consequências, de um lado e outro das barricadas, parecem ter preferido digeri-los interiormente como se , com tal atitude, contribuíssem para esta morna normalidade, tida por sua vez como o epílogo tranquilizador de tão indigesta experiência. Não é, pois, de estranhar, que um estudante graúdo, interrogado sobre o significado da data, tenha respondido sem titubear que se tratou da implantação da República. Espantoso seria, por exemplo, que este e todos os outros soubessem que no dia 25 de Abril de 1974 se deu um golpe de Estado e no dia 1 de Maio se iniciou um processo revolucionário. Que o primeiro teve como causa próxima uma mera questão de precedências e um consequente movimento corporativo dos militares, e o segundo se originou na confluência de todas as forças político-ideológicas que já estavam ou apareceram no terreno. Que houve dois 25 de Abril, um aqui, neste pequeno rectângulo europeu, e outro, avassalador, em todos os territórios onde se hasteava a bandeira portuguesa. Que rapidamente tudo o que realmente relevava passou para a jurisdição de forças externas. Que o mundo se dividiu entre o insólito comovedor de que é paradigma o cravo no cano da G-3, o folclore que a esquerda replicava pelos países onde estas coisas ainda eram possíveis, como os da América Latina, e uma preocupação irritadiça com o despropósito histórico do PREC, num país da Europa ocidental e da NATO. Que o único objectivo estratégico - a descolonização - pertencia ao Partido Comunista teleguiado por Moscovo e foi também o único alcançado e tornado irreversível. A unicidade sindical, a reforma agrária, a economia estatizada, a sociedade sem classes, tudo isso foi passageiro, como um acne juvenil.Percebe-se que tenha sido assim porque, como se viu, a História não deu razão a quase ninguém. Quinze anos depois a União Soviética e todas as teorias "científicas" em que se tinha baseado cairam literalmente com o muro de Berlim. Os países que emergiram da descolonização têm, ao longo destes anos, enfrentado guerras fraticidas e acumulado atrasos com enorme prejuízo para as suas populações. Portugal perdeu território, massa crítica, população, mercado, importância geoestratégica, desígnio e destino. Até agora parece não ter encontrado o seu futuro enquanto desperdiça, metodicamente, o seu presente. Por outro lado, é certo que os ventos da História iriam obrigar a algum desfecho da guerra do Ultramar e Portugal post-Salazar iria, inevitavelmente, caminhar para um regime democrático. Uma questão de tempo, possivelmente o tempo obrigatório de todas as transições de regime.Se a descolonização em si não é uma mancha, a forma como foi feita constituiu um vergonhoso acto de irresponsabilidade, consentido pela generalidade das Forças Armadas. Os ganhos da democracia, que são reais, são descuidados quer pelos eleitores quer pelos eleitos. A liberdade, cuja ausência justificou para tantos o nosso atraso, não nos devolveu engenho e arte que se veja.E as coisas boas que aconteceram? Provavelmente não são, sequer, valorizadas pela nova geração que, a braços com outros problemas, já nem nos concede o benefício da dúvida. É a consequência de se omitir a História."
(Maria José Nogueira Pinto no DN de ontem)