terça-feira, maio 27, 2008

Joguem mas é, pá!


Das raras vezes que ligo a televisão para o zapping ocasional, deparo-me inevitavelmente, sucessivamente, interminavelmente, com o relações públicas do hotel onde está a selecção (quanto é que o Monte Belo terá pago para eles irem para lá?), o cozinheiro da selecção, o porteiro do estádio do Fontelo, a irmã do Cristiano Ronaldo, o motorista do autocarro, o maquista, o massagista, o roupeiro, o povo anónimo que vai ver o treino, já não falando, é claro, nos jogadores, que eles já falam que chegue. Vão à conferência de imprensa ao fim do dia relatar o que o «mister» lhes «pediu», e como o «grupo de trabalho» está «coeso», e como o Maniche «faz falta», mas «futebol é mesmo isto», e préu-péu-péu, pardais-ao-ninho, com aquele ar de que lhes ficámos com um carregamento de droga, de braços cruzados, e aquele tom de voz vinte oitavas abaixo do urro da baleia-de-bossa com o cio.
Porquê?
Os gnus que fogem dos leões correm, não falam, gaita. Quando um é apanhado, não comenta para a câmara, encharcado em suor, antes de a leoa-macho lhe bloquear a traqueia, que a sua morte próxima «é um resultado que se aceita», apesar de os gnus terem sido «os melhores em campo», e como se «sacrificou pelo bem da equipa», e que «quando assim é», «há que» «seguir em frente». Não se vai perguntar aos leões quem são os seus adversários preferidos no «próximo embate», se as zebras, se os búfalos. Não, uns comem, outros são comidos, uns correm, outros correm atrás, e lá andam todos na paz de Deus, a gente ajeita-se no sofá, e assim se passa cinco minutos bestiais antes de voltar a dobrar a mola.
Depois ainda há pior, uns programas cujo conceito não chego a perceber muito bem, apesar de ficar segundos seguidos a assistir, a ver se entendo alguma coisa, que são uns tipos cançonetistas, uns apresentadores, uns tois, a dizer o que esperam da selecção. Bolas, a mim, o que eu espero da selecção só me interessa se eu quero um cachorro com pedigree e estou a ter uma conversa com um criador de cães, caramba. Agora da «equipa das quinas», da «equipa de todos nós», do «onze luso», espero que ganhem, o que é que esperam que eu espere mais?
Não sei «se me estou a fazer explicar» Estou-me a borrifar para a vossa vida pessoal, para o banco que vos patrocina, para o vosso próximo clube, para a boutique que a vossa irmã vai abrir com o vosso guito. Quero é que joguem. Deixem-nos mudos de admiração. E no entretanto, calem-se.

7 Comments:

Blogger Joaquim Alves said...

Hoje o senhor Queiroz veio dizer que o assunto da transferência do Ronaldo para o Real Madrid era uma manobra de desestabilização dos média espanhóis, para desestabilizarem o "moço" e facilitar a vida à selecção espanhola.
Mas foi mais longe e disse que assim como tinhamos dado cabo dos Filipes, também iamos dar cabo da selecção espanhola!
Brilhante, não é?!!!

5/28/2008 9:30 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

Lá está...

5/28/2008 9:42 da manhã  
Blogger Unknown said...

ainda assim ,a manobra de diversão que eu prefiro dos "nostros" irmanos , é aquela que é natural das baleares....uma tal de Nereida...

5/28/2008 4:24 da tarde  
Blogger Ricardo Pinheiro Alves said...

Jorge, as igualdades dão nisto. Uns gostam de saber da vida dos Reis, outros das estrelas de cinema e outros dos "craques" da bola. Neste momento são os "craques" da bola que estão na mó de cima. O Salazar também aproveitava o Eusébio. Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes

5/29/2008 9:25 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

Não, Ricardo, as coisas dão nisto porque o «teu» liberalismo tende a ser monopolista, como no caso dos combustíveis, e também neste caso dos media. E é do interesse dos media desenvolver as tendências ovelhísticas do povo, para melhor o controlar...
Eu, por mim, estou tão enjoado disto que este ano não me apanham a comprar bandeiras chinesas de Portugal para pôr à janela...

5/29/2008 9:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Força Turquia!

5/29/2008 12:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não podia estar mais de acordo.
Isto começa realmente a roçar o rídiculo. Quando se acende a televisão ás horas do telejornais é raro a vez em que não apanho alguém a falar da selecção; parece que se vive para isto, que não têm vida própria, que não há coisas mais importantes, que a vida dos jogadores e da selecção tornou-se uma telenovela que as televisões alimentam.

Eu já gostava pouco da selecção, por razões que agora não interessam, e mais esta história de tratarem os meninos como se eles já tivessem ganho tudo ainda me irrita mais.

5/29/2008 7:38 da tarde  

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