segunda-feira, março 10, 2008

Porque quem ganhou foi o PSOE (e a democracia)

Eu não disse que o Ricardo tinha dito - isto lembra-me qualquer coisa - que a situação era igual em Portugal e em Espanha. O que eu disse, isso sim, foi que o Ricardo tinha estabelecido paralelismos entre ambos os países e que avaliava o sucedido em Espanha pela nossa medida. Que outra coisa podem significar as frases "Tanto o PS como o PSD locais ganharam." e "O nosso país é um bom exemplo de como é vantajoso haver mais do que dois partidos."?
Aquilo que eu acho que inquina o raciocínio do Ricardo é, precisamente, o facto de o nosso país não poder ser exemplo - nem bom nem mau - para Espanha. Porque somos, mais do que um Estado-Nação, uma Nação-Estado de população homogénea, territorialmente estável, unida por uma língua e uma cultura e a Espanha é um Estado compósito em que a (chamada) Nação espanhola convive com dificuldade com as (chamadas) nacionalidades e em que uma parte da sociedade não só não se identifica como repele, por vezes com recurso ao terrorismo, a própria existência e a história da unidade estatal.
O risco de falar em abstracto sobre estas coisas é sempre grande. Se virmos bem, a afirmação "Quando as opções se reduzem a duas é uma perda em qualquer contexto e o mesmo se passa no sistema democrático. Quando essa tendência aumenta acontece exactamente o mesmo." é verdadeira e falsa consoante o contexto.
Por muito que se diga que é redutor limitar as opções a uma (e não a duas) e que a discussão feita internamente nos partidos é mais perniciosa e mais facilmente sujeita à baixa política, basta atentar no Reino Unido e nos EUA para verificar que este sistema foi um dos factores que permitiu àqueles dois países serem das democracias mais estáveis do mundo. Perdeu-se em diversidade de opinião o que se ganhou em estabilidade e governabilidade.
O argumento do voto maciço em quem vota contra a democracia é, também teoricamente, interessante mas, na prática, não tem qualquer aplicação ao caso vertente.
Por outro lado, defender em abstracto a pulverização partidária, o "multiculturalismo" partidário, como se de uma benesse se tratasse por si só é, no mínimo, arriscado, sobretudo quando falamos de um país como Espanha, altamente sujeito à influência de forças fracturantes e centrífugas.
Aquilo que o Ricardo não explica é em quem deveriam ter votado os espanhóis para que a democracia triunfasse. Elencando há pouco as opções possíveis não encontrei outra solução para quem não quisesse dar o seu voto a partidos radicais ou nacionalistas. Quais são os guardiães das ideias e do não-utilitarismo? Sobretudo no que respeita ao eleitorado à direita do centro. É que, ao contrário do que afirma, as opções não são só duas nem o sistema eleitoral espanhol é de tipo maioritário. Os espanhóis é que optaram por estes e não por outros.
Ao contrário do que o Ricardo diz sobre o que escrevi, não me parece que o meu texto demonstre o que quer que seja sobre Portugal. Pretendi falar da realidade espanhola e negar que esta fosse transponível qua tale para o nosso lado da fronteira e vice-versa.
No que a Portugal respeita, acho que não há qualquer risco de bipolarização e não a defendo. Porque os partidos políticos (do centro e não só) e os seus dirigentes são demasiado fracos e, ao contrário do que diz o Ricardo, porque Portugal é um país bem mais centralizado que Espanha. Nele, o eleitorado não sente a mesma necessidade de fortalecer os partidos do eixo do sistema e vota com outro tipo de preocupações. Preocupações mais ideológicas, se se quiser.
Em Espanha, sempre que houver eleições livres e justas, ganhará a democracia.
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