sexta-feira, setembro 19, 2008

Obamautopia

Mania
João César das Neves

in DESTAK 18/9/2008

Depois do que o mundo sofreu nas últimas décadas às mãos de políticos de todas as cores, seria de esperar mais cepticismo perante salvadores providenciais. Mas a «Obamania» aí está a provar que os sofisticados eleitores actuais são tão sugestionáveis como no tempo de Pisístrato ou Catilina. A situação não surpreende na América, onde tais euforias são correntes. Mas a admiração extática que revelam os intelectuais europeus, normalmente tão ponderados e circunspectos, é bastante suspeita. Afinal, o que fez o jovem Barack Obama para merecer tanta adulação e suscitar tais esperanças?

A resposta simples é que a Obamania é um sonho, um fascínio, sem grande sustentação lógica e objectiva. Ora a última coisa que um sonho precisa é do toque com a realidade. Isso significa que o eventual presidente Obama será a principal vítima da tal mania. Por melhor que seja, nunca a sua acção estará ao nível daquilo que anseiam os que hoje o glorificam.

A conclusão é paradoxal. As únicas hipóteses de salvar a Obamania, levando Barack a ficar na história como um herói salvador é, ou uma derrota eleitoral, como Al Gore, ou uma bala assassina, como John Kennedy. Se ele for eleito e cumprir o mandato, o mais provável é que, começando em glória, termine em desgraça depois de uma monstruosa desilusão dos fervorosos apoiantes. Como Jimmy Carter, Bill Clinton ou Nicolas Sarkozy. Hoje, depois do que o mundo sofreu às mãos de políticos de todas as cores, não restam muitas dúvidas que não é humanamente possível cumprir a Obamania.

16 Comments:

Blogger L. Rodrigues said...

O homem não regula bem... O pessoal da direita mais empedernida diz seja o que for só para denegrir os seus papões.

Os americanos estão perante uma escolha entre um sonho (concedamos) e uma triste realidade. Que é que ele quer que as pessoas façam?
Que acreditem em todos os que lhes mentiram nos ultimos 8 anos?

Enquanto Europeu, e se pensasse com o mesmo estilo de raciocíno, se calhar devia defender a vitória republicana. Assim o colapso dos EUA seria mais rápido e completo. O problema é que isso iria (irá?) custar demasiadas vidas.

9/19/2008 11:18 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

How very very odd! Não é que concordo contigo, sócio? Só com uma nuance: se não se justifica acharmos o senhor o máximo, também não se justifica decretar-lhe desde já o falhanço. O tipo não fez nada de fantástico até agora, mas também não fez nada de muito mau....

9/19/2008 11:20 da manhã  
Blogger L. Rodrigues said...

Exacto. O tipo, por enquanto, é apenas um gajo.

9/19/2008 11:30 da manhã  
Blogger Al Kantara said...

O César das Neves anda a comer cogumelos estragados e depois arma-se em pitonisa. O que seria bom para ele era que os americanos votassem no McCain que já anda a distanciar-se do Bush, a falar de corrupção em Washington e Wall Street e até parece que não tem nada a ver com o partido Republicano. (O sonho Obamaníaco pode ser impossível de cumprir mas a hipocrisia do McCainómanos é identificável à distância...)

9/19/2008 3:10 da tarde  
Blogger Al Kantara said...

Este comentário foi removido pelo autor.

9/19/2008 3:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Jorge, concordo. Mas esse é um problema. Ele não faz nada de nada até agora mas foi eleito 'salvador da pátria'. Com base no vácuo, apenas e só.

9/19/2008 6:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caros,

Obama não é um sonho, é uma utopia.

9/19/2008 6:05 da tarde  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

RPA: claro que concordas, p... afinal, eu só disse que concordava contigo! Isto + parece uma pescadinha de rabo na boca!

9/19/2008 10:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo com a nuance.

9/20/2008 4:22 da tarde  
Blogger L. Rodrigues said...

"Obama não é um sonho, é uma utopia."

A distinção está apenas na carga ideológica que dá a cada uma das palavras.

Ambos são algo a que se aspira, e que mesmo sem serem atingiveis, têm a virtude de nos colocar num caminho (que neste caso considero melhor que o alternativo). É apenas uma questão da direcção que se toma, não o atingir da meta em si.

9/22/2008 11:02 da manhã  
Blogger L. Rodrigues said...

Só para completar, um exemplo do que McCain tem para dizer sobre a Saúde:

"Opening up the health insurance market to more vigorous nationwide competition, as we have done over the last decade in banking, would provide more choices of innovative products less burdened by the worst excesses of state-based regulation."

(publicado este mês, não há 3 anos)

Se eu fosse americano só teria uma coisa a dizer, que traduzida para português seria "...da-se"

9/22/2008 11:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

caro L. rodrigues,

Sonho e utopia não são a mesma coisa. A utopia é teóricamente realizável desde que todos os obstáculos à sua concretização sejam removidos. Na prática nunca o são.

O sonho pode ou não ser realizável, depende dos sonhos de cada um de nós.

Quanto aos seguros de saúde, deixe os americanos resolverem os seus problemas que eles fazem-no melhor do que nós. A crise financeira não é uma questão de saúde, apesar de, em alguns casos, poder vir a ter impacto na dita cuja.

9/22/2008 4:25 da tarde  
Blogger L. Rodrigues said...

"deixe os americanos resolverem os seus problemas que eles fazem-no melhor do que nós"

Se o Ricardo acredita nisto, porquê tanta inflamação contra o Obama?

9/22/2008 5:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não tenho nada contra o Obama. Tenho contra a aura que se lhe quer dar ... a suposta esperança, a utopia. Já vi demasiadas vezes este tipo de discursos e de ilusões colectivas. O socialismo foi uma delas e grandes 'estragos' causou e ainda causa.

9/24/2008 6:32 da tarde  
Blogger L. Rodrigues said...

A unica aura que vejo é a da esperança de eleger alguém que volte a por aquele país num caminho de que se desviou há umas décadas, com as consequências que se sentem hoje: uma guerra infame, uma economia em perigo.


Obama não é Kennedy ou Roosevelt, (provavelmente os mais referenciados presidentes democratas), e não é justo esperar que seja. A cada um o seu momento. E este será o seu, porque a alternativa é demasiado penosa para considerar.

9/26/2008 3:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Do seu ponto de vista, claro está. Mas o que interessa é o ponto de vista dos americanos.

9/26/2008 8:57 da tarde  

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