quinta-feira, setembro 04, 2008

As duas faces da II Guerra Mundial

J. Pacheco Pereira, no Abrupto, sobre a II Guerra Mundial e o livro de Norman Davies

O que Davies faz, e que muda muita coisa, é centrar a guerra onde a guerra se perdeu e ganhou, no confronto entre a Alemanha nazi e a URSS de Staline, com a Polónia pelo meio. Outros historiadores já o tinham feito tão evidente é o facto de que Hitler perdeu a guerra a Leste e não a Oeste (quando o primeiro soldado americano colocou os pés no extremo sul do continente, na Sícilia, já o exército alemão perdera toda a capacidade ofensiva face aos soviéticos, ou seja, já tinha, para todos os efeitos, perdido a guerra). Mas Davies vai mais longe e isso é que enfureceu os seus críticos: ele retrata a URSS com o mesmo tipo de olhar que habitualmente usamos para a Alemanha nazi, ou seja como um regime criminoso que em muitos aspectos superou a crueldade nazi em políticas de genocídio, crimes de guerra, execuções em massa de civis e prisioneiros de guerra, retaliações contra povos e etnias inteiras, limpezas étnicas, violações em massa, todo o tipo de violência imaginável. Olhando assim para a guerra ela parece mais um gigantesco conflito entre dois estados totalitários e criminosos, a Alemanha hitleriana e a URSS estalinista, e tudo o resto é pouco mais do que paisagem. O resto é aquilo que a esmagadora maioria dos filmes ingleses e americanos retrata: o Dia-D, Dunquerque, Anzio, Al Alamein, a ponte de Remagen, "band of brothers" e o Soldado Ryan. Ou a visão da guerra como uma luta entre os estados democráticos e o totalitarismo nazi. Cinquenta anos de guerra fria devia ensinar-nos que não foram os ingleses nem os americanos que ganharam a guerra em 1945 e que só a ganharam (admitindo que era a mesma guerra, o que é defensável) em 1989. Mas uma coisa é certa, houve um aliado inglês e francês que a perdeu, a Polónia, e perdeu-a face aos seus aliados e face aos seus inimigos.
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