quinta-feira, julho 03, 2008

Ao Miguel Urbano Rodrigues


Meu querido Miguel Urbano Rodrigues,

Estava para escrever-te há algum tempo, mas não me têm sobrado oportunidades. Fiquei deslumbrado com a entrevista que aceitaste conceder àquela pequena da SIC Notícias, tantas e tão boas foram as malhas que foste largando. Deste a conhecer a esta mole embrutecida a frescura do marxismo-leninismo, a lhaneza do centralismo democrático e a virtude libertária da ditadura do proletariado. Pena tenho eu, e seguramente tu também, de não ser proletário senão por aspiração e sintonia espiritual. É anátema que carregarei comigo e não hão-de ser as casas de chá ou os restaurantes gourmet de Paris (que sinceramente aprecio, mas apenas pelas artes pantagruélicas) que me irão desviar do caminho. Aliás, a acreditar, como acredito, no determinismo histórico, nem posso desviar-me dele. Que bom.
Uma das pérolas com que brindaste a tua ávida e agradecida audiência foi a alusão às FARC. Corrigiste, e bem, a jornalista quando ela, certamente intoxicada pela propaganda imperialista orquestrada pelo Bush (de que Uribe é, como se sabe, um mero fantoche), se referiu em tom menos certeiro ao reféns. Como se aos sequestrados pudesse chamar-se outra coisa que não "libertados" (os civis) ou "prisioneiros de guerra" (os militares e políticos, aqui incluídos os estrangeiros que camuflam com contratos de trabalho aparentemente inócuos sórdidas actividades de espionagem).
Pois bem, meu querido Miguel, hoje, ouvindo a telefonia, dei-me conta da pérfida acção militar que a reacção planetária empreendeu para sequestrar uns tantos libertados e resgatar um punhado de prisioneiros de guerra. A perfídia foi tão ignóbil que foi ao ponto de ignorar as mais elementares regras de etiqueta da arte da guerra. Perfídia ignóbil e miserável. Mas, seguramente, inconsequente. Estes libertados e estes prisioneiros de guerra, que a manha imperialista condenou agora às garras e à tortura da “democracia” ocidental, experimentaram já o viço da Revolução. Saborearam o néctar da verdadeira Liberdade. Alimentaram-se das verdades que animam os que ousam resistir. Tudo farão, claro, para regressar à floresta, que é como quem diz, à Paz, à Democracia e à Liberdade. Assim os seus carrascos os deixem seguir o irreprimível sentimento que lhes compassa o bater inflamado dos seus corações, agora generosos e bons. Assim os deixem ser felizes.

Aceita um abraço deste teu admirador,
Vladimir

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Chapéus há muitos, mas os comunistas enfiam sempre o mesmo.

7/03/2008 11:22 da manhã  
Blogger Joaquim Alves said...

Grande texto!

7/03/2008 11:51 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

Eu assisti, e fiquei perplexo: o homem é pulha, ou débil mental?

Considerando que hoje em dia não compensa tanto ser comunista como no tempo em que este senhor dirigia «O Diário» - lembram-se? -inclino-me para a segunda hipótes.

7/03/2008 1:12 da tarde  
Blogger António de Almeida said...

A lerem:

http://resistir.info/

7/03/2008 5:33 da tarde  
Blogger António de Almeida said...

Nota do Gabinete de Imprensa do PCP/03/07/2008 Em resposta a várias solicitações dos órgãos de comunicação social sobre a posição do PCP a propósito da operação de resgate de Ingrid Bettencourt por parte do exército nacional na Colômbia, o PCP considera o seguinte:

1. O resgate de Ingrid Bettencourt após um período em que esteve prisioneira na selva colombiana, coloca em evidência a gravidade da situação em que se encontram centenas de prisioneiros em ambos os lados do conflito e a necessidade de encontrar uma solução humanitária entre as partes.

2. Os complexos problemas em presença, exigem uma solução política e negociada de um conflito que se arrasta há mais de 40 anos sem solução, situação que é em si, inseparável da política de agravamento da exploração e de terrorismo de estado praticada pelo governo neo-fascista de Uribe, conforme tem vindo a ser denunciado pelas forças progressistas e democráticas da Colômbia.

3. O Povo colombiano poderá continuar a contar com a solidariedade dos comunistas portugueses na sua luta contra a opressão e exploração, pela justiça social, pela democracia e soberania nacional. Sem mais comentários

7/03/2008 11:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É espantoso como a cartilha comunista se mantém...

Nuno

7/04/2008 7:01 da manhã  
Blogger João Vacas said...

Escrevi há uns anos, quando ainda estava na direcção do CDS, um artigo sobre esse imbecil, que partilho convosco:

A pequenez do CDS e a grandeza das FARC

João Vacas



Miguel Urbano Rodrigues escreveu no Avante um artigo intitulado “A pequenez do CDS e a grandeza das FARC” no qual tece as maiores loas àquele grupo terrorista e remete o CDS para a “poeira da história”.

É forçoso reconhecer que, no plano em que as FARC se movem, o CDS é, de facto, insignificante. Miguel Urbano Rodrigues tem toda a razão. Do pó viemos e para o pó voltaremos. Sem apelo nem agravo.

As FARC usam milhares de crianças que separam das famílias e vilipendiam das formas mais abjectas. Transformam-nas em assassinas e em aliciadoras de outras crianças. Sete mil e quatrocentas em 2004, segundo uma estimativa cautelosa. A mesma que aponta para uma percentagem de 20 a 30% de crianças no total dos seus efectivos. O CDS tem 0% de crianças combatentes.

As FARC não só aliciam como raptam pessoas de todas as idades que coagem a integrar as suas fileiras e a praticar actos criminosos. A adesão ao CDS é livre. Não é conhecido qualquer caso em que a desvinculação do partido tenha justificado um tiro na cabeça do ex-militante.

Nas unidades das FARC é usual que entre um quarto a metade dos seus elementos seja do sexo feminino. Estas mulheres e crianças são vítimas frequentes dos seus superiores. Sujeitas à crueldade mais brutal, ao assédio, à violação, ao aborto forçado e à contracção de doenças sexualmente transmissíveis. Há testemunhos de raparigas que, com 7 e 8 anos, já participavam em acções terroristas. Não há relato de participação forçada de mulheres nas actividades do CDS ou de crianças de 7 e 8 anos sem que estejam acompanhadas pelos pais.

As FARC mantêm uma actividade comercial - o narcotráfico - que lhes rende proventos assinaláveis. Cerca de 25 mil milhões de dólares nos últimos dez anos. Miguel Urbano Rodrigues pode bradar quantas vezes quiser que é mentira que a realidade não se alterará por causa disso. Pode tentar também com o muro de Berlim. Veremos se se reergue…

Em Fevereiro, foram destruídos pelo exército colombiano 12 laboratórios com capacidade para produção de 120 toneladas de pasta base de coca por mês. E 619 quilos de pasta base de coca. E 3 toneladas e meia de folha de coca. Produção inexistente de cocaína inexistente. Não consta que o CDS tenha actividade semelhante. Novo zero.

As FARC controlam e aterrorizam pelas armas boa parte da Colômbia. Desde as mocas de Rio Maior que os militantes democratas-cristãos não se dedicam a proezas bélicas nem a demarcações territoriais. Zero redondo.

As FARC são a organização que, em todo o mundo, mais reféns tem cativos: são para cima de 4.200. Trata-se de uma verdadeira indústria de terror e de extorsão. O curriculum do CDS neste tocante é simplesmente nulo.

As FARC cometeram, no ano de 2002, 330 execuções sumárias e atentados à bomba de que resultaram100 mortos. Dos “conselhos de guerra” – julgamentos internos organizados regularmente como forma de punir e manter aterrorizados os seus membros - é corrente que resultem mortes. O CDS nunca tentou, nem quis, matar alguém.

As FARC foram incluídas nas listas de organizações terroristas dos Estados Unidos e da União Europeia. Curiosamente, as zonas do globo em que as pessoas mais gozam de direitos, liberdades e garantias. Mas foram-no por pressão dos Estados Unidos, segundo Miguel Urbano Rodrigues. Coisa intolerável, já se vê. Sobre as acções do CDS não recai nenhuma condenação internacional e os seus dirigentes e militantes não são objecto de nenhum mandado de captura nem de mera censura por parte de nenhum país ou instituição democrática. Nada.

Miguel Urbano Rodrigues alega, como prova da urdidura americana contra este injustiçado grupo de filantropos, a consideração com que os seus líderes terão sido tratados durante uma entrega de reféns a que assistiu. Basta recordar a deferência de que foram objecto Keitel e Jodl no decurso do processo de rendição alemã na II guerra mundial (e o fim de ambos na ponta de uma corda meses depois) para se perceber a real importância deste argumento demolidor: nenhuma. O CDS, por seu turno, não tem reféns para a troca.

Em suma, as FARC são um movimento criminoso marxista-leninista (passe a redundância) perpetradora de acções de grandeza tal que justificam a sentida homenagem de todos os filoestalinistas. Aqueles que não só não respeitam a democracia representativa como a pretendem ver afogada em sangue e entregue ao seu patético centralismo cleptocrático têm nas FARC um modelo à sua escala.

Nesta matéria, o CDS tem o maior orgulho na sua pequenez e insignificância. Antes “poeira da história” que areia para os olhos.

7/04/2008 10:14 da manhã  

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