terça-feira, junho 24, 2008

aborto (3)

"Começo com um esclarecimento que é uma repetição. Os 97% dizem respeito aos 3% do título da notícia. Isso significa que estou a referir-me ao número total de abortos - estou, pois, a ser ambíguo e provocatório, convido ao exercício mental. São estas as pessoas, já mortas e que não passaram do estádio de feto, cujo voto tenho na mão, partindo do princípio de que, em princípio, os vivos querem viver. O teu último parágrafo, portanto, não faz sentido.

Também convém esclarecer o que se quer dizer com moral e ética, palavras que servem para tudo e mais alguma coisa. Neste caso, uso moral para me referir aos valores de grupo e ética para me referir aos valores pessoais. Assim, é para mim óbvio que a decisão de abortar é pessoal, ética - mesmo que também possa (e deva, e tenha de) ser questão moral e legal. Mas o que me ocupou o raciocínio, no texto, foi a questão ética. Esta questão é a menos abstracta de todas, pois não se pode separar do mais íntimo de nós, do concreto mais verdadeiro e irredutível de cada um. Guarda a tua abstracção para legitimares a irresponsabilidade.

Este é o passo mais importante do que escreveste: “Senão, as pessoas teriam, quando têm relações sexuais, cuidados parecidos com os que tem quem brinca com uma metralhadora. Sabemos que não é assim.”

A facilidade com que os defensores do aborto livre admitem a irresponsabilidade que está na origem do acontecimento é de espantar. É nisto que a lei aprovada, com a permissão do aborto até às 10 semanas sem necessidade de qualquer explicação nem impondo qualquer limitação, contribui para a irresponsabilização individual e colectiva. Os defensores do aborto diminuem as capacidades intelectuais e volitivas de todos os envolvidos nos processos de interrupção desnecessária da gravidez.

O que está na base dessa cruel atitude, também tu o expões logo a seguir: “A “ética”, em meu entender, deve partir do homem tal como ele é, deve partir da pratica social.”

Que é isto?! O homem tal como ele é corresponde à prática social? Esta ideia é uma barbaridade. Se assim fosse, nem gravuras em Foz Côa se teriam conseguido fazer. Todo o homem é o resultado da cultura a moldar os instintos, sim, mas isso não se confunde com a ausência de horizontes de elevação, procurando ficar-se menos animal e mais humano. Não por acaso, nem sequer tocaste no exemplo do recém-nascido abandonado."

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