terça-feira, abril 22, 2008

Tendências no CDS

A diferenciação de produtos, na teoria microeconómica, tem como objectivo convencer os consumidores de que os produtos oferecidos por um determinado agente económico não têm substituto ou sucedâneo, razão que torna justificável a cobrança de um preço superior ao que seria praticado se esta não fosse a convicção do consumidor. Por exemplo, o mercado do sabão é muito padronizado, logo as empresas produtoras deste higiénico produto dispõem-se a investir rios de dinheiro em campanhas de publicidade e informação, visando a diferenciação do seu produto face ao que é produzido pelos concorrentes (o nosso cheira melhor; o nosso é mais macio, etc.). Por vezes, esta estratégia de comunicação é complementada por outra: a antecipação da concorrência, evitando que ela, de facto, surja. Foi isso, por exemplo, que pretendeu o Arq. Saraiva quando apresentou ao Dr. Balsemão o projecto do SOL. Se há espaço para um outro jornal, que seja nosso também.
Também no sistema partidário isto sucede. A ideia de criar movimentos ou partidos satélites não é novidade. Nem mesmo em Portugal. "Álvaro Cunhal sempre gostou de inventar partidos. Partidos que se aliassem ao PCP e partidos que dividissem o PS. Sempre gostou de inventar movimentos unitários, completa e totalmente constituídos por militantes comunistas. Apoiámos militantemente todos os movimentos ou personalidades que de qualquer forma pudessem corresponder a esse desígnio. " (Zita Seabra em Foi Assim).
O projecto de institucionalização das tendências no CDS tem, porém, uma originalidade. O PCP promove a criação de partidos e movimentos exteriores ao PCP, sem que a essência deste seja adulterada. Permite esta estratégia, a da diferenciação de produtos, afirmar o PCP como uma organização federadora de interesses diversos, mas convergentes, esperando este ser remunerado com uma maior expressão eleitoral. Já o CDS incentiva a implementação do mesmo raciocínio sem a vantagem da vocação federadora do PCP. Fingimos que somos muitos, e bem diferentes, para podermos penetrar em vários e distintos nichos de mercado. Eu sou liberal, e, por isso, voto no CDS, já tu, que és conservador, podes votar também no CDS. Eles, que são outra coisa qualquer, terão também no CDS o seu cantinho. Esta diferenciação interna de produtos, em política, toma muitas vezes a mais prosaica denominação de “albergue espanhol”.
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