sexta-feira, abril 04, 2008

somos todos livres, mas há uns mais livres do que outros...


É sabido que toda a gente, talvez com a excepção de umas franjas bacocas da extrema-esquerda, infelizmente com representação parlamentar, defende a liberdade de expressão. Todos, no respeito pelos limites impostos pela lei, podemos dizer o que pensamos. É este um pressuposto do dito Estado de Direito Democrático.

Os mais inchados cultores das mais amplas liberdades, defendendo tenazmente as suas, por vezes escorregam na sua prosápia e esquecem que outros há com opiniões diferentes e que esses também poderão sustentar os seus distintos pontos de vista. O que é dito relativamente a pessoas singulares deve estar igualmente ao serviço das agremiações, sejam elas quais forem.

É portanto com alguma estranheza que registo a sistematicidade com que os libertários se incomodam com a liberdade de expressão da Igreja Católica. E, note-se, não é um incómodo que resulta do que diz a Igreja. É um desconforto que radica, apenas, no facto de a Igreja poder falar. Para estes paladinos da Liberdade não devia reconhecer-se o direito de a Igreja poder pronunciar-se sobre assuntos que extravazem o estrito âmbito da sacristia (que eles, graças ao Supremo Arquitecto, felizmente desconhecem). Para estes filhos do Big-Bang, tudo o que a Igreja possa dizer para além da dimensão da hóstia e do odor do incenso é um despudorado desafio que devia merecer, de todos os amantes da liberdade, vigorosa reacção.

9 Comments:

Blogger Unknown said...

Como de costume, V. não percebeu nada.
A ICAR é livre de dizer o que quiser, até de se comportar como um actor no combate politico-partidário. A opção parece-me boçal mas é livre.

O que temo é que a direita lusa imite a espanhola e que se venha a colar aos anacronismos políticos que a hierarquia católica tem expelido - afastando muito eleitorado potencial, tal como sucedeu em Espanha.

Quanto ao 'Supremo Arquitecto': mais uma ao lado. Não sou maçon. Nem amigo de Álvaro Siza. Portanto, olhe melhor á sua volta porque aqueles que o são fazem o ossível por disfarçar. E disfarçar é um tique demasiado católico para o meu gosto...

CAA

4/04/2008 1:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Apenas acrescento uma coisa: onde se lê "talvez com a excepção de umas franjas bacocas da extrema-esquerda" poder-se-ia ler "talvez com a excepção de umas franjas bacocas da extrema-esquerda e extrema direita".

4/04/2008 2:05 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Meu caro Nuno,

eu reconheço inteira legitimidade à ICAR de falar sobre todos e quaisquer temas. Não sei é se essa é uma atitude prudente, no seu próprio interesse.
Eu explico. O Presidente da República não se permite botar faladura sobre toda e qualquer questiúncula política, porque o seu distanciamento é que lhe dá uma grande autoridade nos momentos em que, finalmente opta por falar. Fala pouco, guarda o seu capital de prestígio, e gere-o na defesa das questões realmente importantes.
Ora, a ICAR pode aspirar a uma posição de prestígio ainda maior na sociedade portuguesa, se reservar o seu direito de opinião às questões realmente relevantes, como o Direito à Vida em qualquer circunstância ou o Direito à Dignidade.
Se a igreja começa a envolver-se em questões mais imediatistas e prosaicas - e tem todo o direito de o fazer - não pode depois arrogar-se a si mesma uma posição suprapartidária, acima do rame-rame das disputas políticas. Passa a ser um interveniente como qualquer outro. Pode dar, mas também pode levar no nariz. Eu não me parece que essa posição na sociedade convenha à ICAR. Pode ocupá-la e tem toda a legitimidade para o fazer. Mas acho que a Igreja deve aspirar a mais do que isso e deve gerir com mais prudência o capital de prestígio de que goza na sociedade portuguesa.

4/04/2008 3:52 da tarde  
Blogger Nuno Pombo said...

Caro ZLM,
Percebo perfeitamente o que dizes e creio que te assite alguma razão. Mas o que afirmas nada tem a ver com o que quis sublinhar. Há quem viva mal com a existência da Igreja.

Caa,
Como de costume, confunde o mundo com o seu umbigo. Usei as suas boutades para exprimir o meu ponto de vista. Não sei se usa avental, nem me interessa. Não o conheço, nem faço particular gosto nisso.

4/04/2008 4:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Apenas um comentário factual ao que diz CAA. Em Espanha, apesar de o PSOE e comentadores alinhados terem montado uma campanha a dizer e repetir até à náusea aquilo que CAA aqui também ecoa - que "a direita espanhola se colou aos anacronismos políticos que a hierarquia católica tem expelido" -, a verdade é que o PP subiu a sua votação e muito: salvo erro, mais 1 milhão de votos do que em 2005. Rajoy não ganhou por causa da derrocada da esquerda radical e do nacionalismo radical, ambos seduzidos e engolidos por Zapatero.

4/04/2008 4:58 da tarde  
Blogger Tiago Pestana de Vasconcelos said...

Este comentário foi removido pelo autor.

4/04/2008 5:39 da tarde  
Blogger Tiago Pestana de Vasconcelos said...

Acho que o principal erro em tudo isto é considerar-se que a direita, por defender valores da igreja, está a colar-se à igreja...

Lá porque os valores são muitas vezes comuns, não quer dizer que sejam todos os mesmos. Ou seja, tanto há políticos de direita que não são católicos, como há muitos católicos que não são de esquerda.

Agora é mais do que normal que os valores institucionais defendidos pela instituição Igreja, representada pela ICAR, sejam por vezes, e muitas vezes mesmo, semelhantes a alguns valores tipicamente identificados como "de direita"

O erro é semelhante ao considerar-se que a igreja, por falar de política, está a imiscuir-se no política.

A política mais não é do que "derivado do grego antigo πολιτεία (politeía), que indicava todos os procedimentos relativos à pólis, ou cidade-Estado. Por extensão, poderia significar tanto cidade-Estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida urbana" (não é meu, roubei da net)

Ou seja, sendo a política uma ciência que cuida da sociedade, e fazendo a igreja parte dessa sociedade (para ódio de muitos ainda é uma parte importante), mal era que a igreja não pudesse comentar o que se passa neste país, a qualquer nível...

Diria mesmo que, se não o fizesse, não estaria a cumprir o seu papel...

4/04/2008 5:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Católicos dr esquerda? Estamos a brincar?
.

4/05/2008 6:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Só dois "reforços":

- A Igreja nem defende qualquer partido ou espaço político, seja ele a esquerda ou a direita. Neste sentido, é apolítica

- Efectivamente ainda há muito gente, como o CAA, que se sente incomodada com a Igreja e que ambiciona uma sociedade livre da religião tipo os concelhos do alentejo que estão livres do nuclear. Mas a sociedade, por definição, é definida pelos que a compõem e, logo, por essa grande comunidade que é a Igreja

RPA

4/07/2008 1:22 da tarde  

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