quarta-feira, abril 23, 2008

Nado morto

Há quem ande muito deprimido com a morte prematura da Ala Liberal do CDS. Entendem, não sem graça, que ela é sinal de que o partido, afinal, não gosta de ver afirmada uma “fonte de atracção de novas gerações para o debate de ideias”. Não me revejo nas águas que jorram dessa fonte, mas não vejo mal nenhum que dela alguém possa beber. E nem me parece, em homenagem aos sacros princípios que enformam o dito liberalismo, que os liberais precisem de ver institucionalizada uma “tendência”. Será, a meu ver, um paradoxo. Essa corrente de pensamento não ficará impedida de ser perfilhada e defendida, apesar de o partido a ela não ter aderido. Quando digo “partido”, falo dos militantes. De pessoas. É óbvio que os militantes não se deixaram seduzir pela bondade dos princípios hasteados pelos seus promotores. Claro que não terá ajudado, por ter turvado as águas do debate de ideias, a trapalhada de dizerem, primeiro, que não põem em causa a essência do Estado Social, para, logo depois, defenderem, pura e simplesmente, a sua substituição. Melhor teria sido que o dito debate de ideias tivesse começado entre eles.
Posso compreender o desânimo de quem vê os outros ignorarem propostas que consideram boas, mas pasma-me o autismo com que lidam com ele. Já foi dito que, o mais provável, é o CDS não ser um partido liberal. Ou, dito de outra maneira, o mais certo é que os militantes do CDS não se revejam, como eu não me revejo, nos postulados da Ala Liberal. Mas dizer isto não altera a essência do pressuposto liberal nem significa que não possa ser dado espaço, no próprio CDS, às suas propostas.
Se compreendo o desânimo, como disse, acho desconcertantes algumas reacções. Basta ler o programa do partido (texto que talvez os militantes mais recentes têm mais fresco na memória) para perceber que o CDS não é (ou não é só nem principalmente) um partido liberal. O que não faz dos militantes do CDS (todos menos os cerca 200 que aderiram à Ala Liberal) defensores do partido acantonado a nichos de mercado ou “agarrado à bíblia da democracia-cristã”, senhores de verdades únicas e definitivas. Este argumentário é de um maniqueísmo confrangedor e, julgava eu, património exclusivo de democratas do mesmo quilate que o dos ululantes dirigentes do Bloco de Esquerda. Não é, infelizmente. Há mais quem não aprecie ser confrontado com opiniões diversas e seja muito lépido na rotulagem dos seus opositores. Mas esses, pensava eu, não costumam dizer-se liberais.
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