quinta-feira, abril 24, 2008

Europa

Anti-europeísta me confesso. Nacionalista bacoca e primária, se alguns preferirem. Com todos os defeitos deste rectângulo à beira-mar plantado, há algo que me faz pertencer-lhe tão naturalmente como estar viva. Sinto Portugal como meu. Não o Portugal que nos impingem hoje em dia, vazio, tecnocrata, saloio e provinciano, que apenas sabe copiar - e mal - o que existe lá fora. Mas o Portugal que se construiu com a coragem de muitos e a ousadia de outros tantos. O Portugal que é único nas suas raízes e genuíno nos seus costumes. Custa-me, por isso, e custa-me muito, o abastardamento da sua essência, o abdicar de tudo em nome de um politicamente correcto imposto por Bruxelas. Custa-me assistir impávida e serena à doação em tranches da nossa soberania, como se outros caminhos não houvesse e outras soluções não fossem possíveis. Custa-me ver que inexiste um desígnio nacional, para lá da famigerada redução do deficit.
Para que tudo não seja negro, faço-me acompanhar da esperança de que esta Europa rebente, tal como foi pensada pelos senhores do pensamento único, herdeiros directos do iluminismo e jacobinismo.
Até lá, gostava de ver estas questões tratadas com a seriedade exigível. E gostava porque, longe de sentimentalismos, há quem encontre na Europa e na adesão ao euro a raiz próxima dos males actuais de Portugal e aponte como via de solução a nossa saída da união. Gostava ainda porque uma promessa eleitoral é – ou devia ser – digna de respeito e fazê-la para ganhar votos, dando o dito pelo não dito, é gravemente atentatório do sentido de responsabilidade de um estadista. Nada a que não nos tenhamos já habituado, é certo, mas ainda assim passível de crítica. Gostava, por fim, porque aqueles que manejam a palavra democracia ao melhor jeito de bordão linguístico não deviam ter medo de dar a eco ao sentir do povo e seriam mais sérios – se o soubessem ser – se lançassem mão da figura do referendo para lá das situações em que a vitória é certa. Ainda que de uma vitória de Pirro se tratasse, porquanto não tenham dúvidas que Portugal só perde enquanto se continuar a vergar aos mandos e desmandos daqueles que não hesitam em olhar para o seu bem-estar nacional.
Abdicámos de ser nós próprios faz amanhã alguns anos. Perdemo-nos nesse fatídico dia e não soubemos encontrar-nos, mas sim moldar-nos. Sucedâneos de outros, não passamos de farsantes. Nessa Europa que segue alegre e contente para sítio nenhum.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é.
E quem desta rapaziada amorfa prossegue o debate? Estão todos tão bem a ver as trotonovelas mai-los jogos de futebol...
Ah! E a querer saber do que se passa ouvindo ou lendo as notícias da treta que os nossos "informadíssimos e cultérrimos jornalistas de chacha" despejam a soldo e sem sem vergonha nenhuma.
Pois é? Pois era...

4/27/2008 6:32 da manhã  

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