terça-feira, março 18, 2008

imprescindível

"Há duas semanas eu previa que não seria preciso esperar muito para Portugal ter o seu Barack Obama versão loja dos 300. Sabem como é: nós adoramos copiar o que está a dar lá fora, para passarmos por "sofisticados". Cumpriu-se. O nosso obamazinho apareceu no início da semana passada, com imagem nova, desejo de mudança, certo de estar ao lado do povo contra a intriga partidária e uma seta cor de laranja a apontar para o céu - chama-se Luís Filipe Menezes. (Os próximos dois parágrafos ficam piedosamente em branco, para o leitor ter tempo de se rir à vontade.) Ora cá estamos outra vez. E não, não é para bater (novamente) em Luís Filipe Menezes. Menezes está a desempenhar o seu papel e a esforçar-se para estar à altura das suas ambições - quantas vezes terá ele sonhado ser líder do PSD? Eu quando era pequenino também queria ser astronauta. A diferença é que o mundo mostrou-me depressa que eu não era suficientemente bom para ser astronauta, enquanto o PSD é incapaz de mostrar o que quer que seja a quem quer que seja - e por isso Menezes chegou muito mais longe do que as suas modestas qualidades aconselhariam. O problema não está, pois, em Menezes. O problema está no PSD, um partido que parece sofrer de Alzheimer, cometendo os mesmos erros vezes e vezes sem conta, como aquelas moscas que insistem em espetar-se contra os vidros da janela. Se eu fosse comunista ou bloquista, estava-me nas tintas para a mosca ou então ia buscar o insecticida. Mas eu sou um rapaz do centro-direita, e o PSD terá sido o partido em que mais vezes votei na vida (embora já não me recorde de quando foi a última). Admito a alternância - umas vezes PS, umas vezes PSD -, mas nunca me encontrei na situação de chegar a umas legislativas sem saber o que fazer à cruzinha. Provavelmente, vou chorar sobre o boletim de voto. Ou pior: pelo andar da carruagem - ou seja, se Menezes abrir a boca para aí mais três vezes - posso mesmo vir a ser obrigado a votar em Sócrates, o arrogante e insuportável Sócrates, mais os seus tiques de pequeno tiranete, o que para mim será equivalente a engolir de penálti uma caneca de óleo de fígado de bacalhau. Eu admito que neste mundo haja coisas mais giras do que ser candidato a primeiro-ministro. Mas nada justifica o deserto de valores a que chegou o PSD, reduzido a um conjunto de caciques voluntariosos, barões mudos e jovenzinhos que mascaram a falta de currículo com o excesso de ambição. Não há memória de tal coisa em 30 anos de democracia." (João Miguel Tavares)
nota: as minhas dúvidas quanto à cruzinha em dias de eleições não são idênticas às do JMT, mas a análise que este faz do actual PSD não podia estar mais correcta.

2 Comments:

Blogger Viriato said...

Sem dúvida um excelente retrato do actual PSD... Espero é que este filme tenha um fim rápido... O cenário de estar perante um boletim de voto com o contexto actual no centro-direita (estou também a falar do CDS e do sr. portas), é um grande pesadelo!

3/18/2008 3:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A grande questão é qual será a saída desta merda.
(Com pontinho.)
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3/19/2008 7:12 da manhã  

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