segunda-feira, março 10, 2008

Em Espanha ganhou o PSOE

Numa coisa concordo com o Ricardo, também acho que as eleições de ontem tiveram um resultado curioso: quer os socialistas quer os populares fortaleceram as suas bases de apoio. Mas só nessa.
Parece-me, no mínimo, temerário estabelecer paralelismos imediatos entre os partidos espanhóis e os portugueses. Ao fazê-lo, corremos o sério risco de medir os outros pelas nossas circunstâncias e pela nossa escala e, assim, escamotear os problemas infinitamente mais complexos que marcam a sociedade espanhola de hoje.
Sejamos claros, se o PSOE tem algumas similitudes com o PS português, o PP espanhol tem muito pouco que ver com o PSD. A sua origem, a sua história, a sua classe dirigente, os seus percursos, são muito distintos. Até os seus resultados. O PP conseguiu a partir da direita o que o PSD nunca foi capaz nem tinha base doutrinária para conseguir a partir do centro(esquerda ou direita conforme os dias): unir todos à direita do centro.
Pergunto-me qual seria a opção "democraticamente aceitável" e realista para um eleitor espanhol dessa área. Para além do PP, nenhuma.
Se atentarmos nas restantes alternativas partidárias com alguma expressão parlamentar, percebemos rapidamente por que motivo foram vitimadas pelo voto útil. São formações políticas assentes na contestação, no secessionismo e na ruptura com a "convivência" saída do processo de transição que culminou na Constituição de 1978.
Obviamente que há diferenças de grau entre elas. A CiU destaca-se amplamente pela moderação e contrasta até com o próprio PNV, originariamente democrata-cristão, firme como a gelatina no que toca a repudiar os crimes dos cabrões abertzales, e com a Izquierda Unida a quem já só sobram como bandeiras o ambiente e a perspectiva de género.
Fora disso, temos o partido de Rosa Díez que tem um deputado...
Ao perceber que a ERC e a IU foram as principais derrotadas da noite não consigo deixar de saudar os espanhóis por terem escolhido caminhos de maior moderação ainda que, objectivamente, isso tenha contribuído para a vitória de um tipo intragável como ZP.
Não se pode falar em derrota da democracia quando mais de três quartos dos eleitores foram votar, em alguns casos temendo pela própria vida, em eleições livres e justas. As leis destas coisas explicam que quando há uma afluência grande às urnas os partidos maiores tendem a reforçar-se. As coisas são como são. E isto nada tem de podre, nem de amiguista. É a vida.
Os espanhóis, os tais que o Ricardo diz que ontem perderam, conferiram 322 dos 350 lugares de deputado ao PSOE e ao PP. Optaram por reforçar os partidos de âmbito nacional em detrimento das forças mais desagregadoras. Não os tomo por manipulados, nem por tolos nem por desinformados. Espero é que, daqui a quatro anos, escolham melhor.
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