quarta-feira, fevereiro 20, 2008

QUARESMA – TENTAÇÃO DO CONSUMO

O tentador aproximou-se e disse-lhe: se tu és filho de Deus, ordena que estas pedras se transformem em pão. Respondeu-lhe Jesus: está escrito, nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 1-11).

Jesus não nos pede que nos desisteressemos dos bens temporais. No Pai Nosso ensina-nos mesmo a pedir pelo pão de cada dia. O que nos pede é que lutemos contra a ilusão de que a nossa felicidade coincide com o alcance das metas materias que fixamos. De certo modo, todos nós somos escravos do consumo: pensemos no nosso carro, esse pequeno deus!; nos livros que nunca chegamos a ler; nas roupas que temos a mais; no conforto das nossas casas; nos brinquedos dos nossos filhos; etc. Todos eles nos fazem mais felizes no dia-a-dia mas não nos trazem a felicidade enquanto sentimento pleno e intrínseco. O que Jesus nos diz é que precisamos de outro conforto, de outro alimento diferente do “ter”. E é tão fácil comprová-lo: basta pensarmos nos nossos filhos, nas crianças em geral, que não necessitam só de bem estar material mas, acima de tudo, precisam da atenção, do tempo, da palavra e do amor dos pais.
Por que não tentamos, nesta Quaresma, dar mais de nós próprios aos outros? Mais tempo, mais carinho, mais atenção, mais compreensão.
(cont.)

23 Comments:

Blogger joaquim said...

O que Ele nos diz também é que o "combatermos" o supérfluo, não seja para "engordar" as nossas contas, mas para dar àqueles que não têm sequer o necessário.
E isto envolve não só os bens materiais, mas também os bens espirituais, afectivos, o abraço, a escuta atenta, enfim o amor.

2/20/2008 10:43 da manhã  
Blogger R said...

Isso é um bláblá um tanto ou nada disparatado.
O homem vive da conquista e a sociedade cada vez mais enfatiza esse aspecto. O consumo ilimitado de bens, extrapõe às relações. O vazio que o sistema social cria é que nos impele à indulgência, porque nós só damos com consentimento ou aval do SR. Jesus.

2/20/2008 11:06 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Parece que o Sócrates instalou Internet no hospício do vicisitudes...

2/20/2008 11:27 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O que é que quer dizer "extrapôr a...?" (aliás, também nâo percebi o sentido das outras...frases? somas de palavras?).
Uma coisa reconheço: o brilhante resultado das sucessivas políticas de "sucesso escolar", que Sócrates tão orgulhosamente se gaba de ter aumentado!
A minha penitência da Quaresma tem sido corrigir os testes do(a)s vário(a)s Vicissitudes!

2/20/2008 12:19 da tarde  
Blogger R said...

"extrapola" (ultrapassa)às relações. Escrevi com alguma rapidez.

A minha resposta foi à visão do Joaquim, como já depreendi estes comentários são cuspidos por gente que carece de racionalidade e sofre de confusões gravíssimas do que é uma "SOCIEDADE". Se o Joaquim ou a MJ ou o outro birola do exterminador (que bonito nick sabe?), acham que uma sociedade se sustenta em "os bens espirituais, afectivos, o abraço, a escuta atenta, enfim o amor", são gente que serve para ser queimada viva junto aos monumentos onde concretizavam os autos de fé.

Repito, SOCIEDADE QUE SE SUSTENTE nesses sentimentalismos.

2/20/2008 12:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vicissitudes, o meu amigo permita-me que lhe diga que o seu problema foi ter nascido depressa demais.

2/20/2008 1:54 da tarde  
Blogger R said...

E como o seu nível demonstra, ao invés de responder à questão fica preso à incúria de retaliar epítetos. Consigo acabou a conversa.

2/20/2008 2:04 da tarde  
Blogger joaquim said...

Não se incomode, vicissitude(s), continuarei a tratá-lo com a delicadeza com que voçê não trata os outros.

2/20/2008 5:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara JLM,

Bravo pelos textos que nos obrigam a parar para pensar. È muito bom que os IV's tenham também momentos destes e não sejam só "fados e guitarradas".

O outro alimento diferente do "ter" que precisamos urgentemente é o "ser" como Jesus foi. È o mais apetecível mas também o mais difícil.

2/20/2008 5:56 da tarde  
Blogger Rui Castro said...

Joaquim e Vicissitudes,

Se há texto a propósito do qual não devia haver zangas, este é um deles.

São os 2 muito bem-vindos a esta nossa casa.

Como diz o Jorge Lima, porque é que não podemos ser todos amigos!?

Abraço aos 2.

Rui Castro

2/20/2008 6:13 da tarde  
Blogger joaquim said...

Rui Castro

Não estou, nem nunca estive zangado.

Aliás é isso mesmo que quero afirmar com a resposta que dei, que muito provavelmente não foi assim entendida.

Abraço ao Rui e ao vissicitude(s)

2/20/2008 7:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro vicissitudes:
Continuo sem perceber... o seu discurso parece saído de um daqueles documentos do Ministério da Educação de que o Nuno Crato cita alguns exemplos! A única coisa que se percebe é uma embirração primária em relação ao Cristianismo - banalíssima - que revela uma tremenda ignorância da História - também banalíssima. Sugiro-lhe que leia "A Vitória da Razão", de Rodney Stark (um autor agnóstico).

2/20/2008 9:38 da tarde  
Blogger R said...

Rui e Joaquim. Não foi uma forma tentada de os maltratar. Aliás, nada tenho contra o Cristianismo. A minha opinião foi do que depreendi e depreendi que o Joaquim tinha uma visão de uma sociedade que se baseasse nesses valores.
Mostrei aversão ou tentei mostrar à opinião, não à pessoa nem ao credo.

Mj, primário? Mais uma vez, o Cristianismo é bonito, mas serve essencialmente para duas coisas, 1º equilibrar o "Estado", criar Valores. Agora, criar valores não é CONSTRUIR sobre esses valores. Fiz-me entender? alguém me entendeu?? Acham que isto é heresia? fui indelicado? Não compreendo.

Mais uma vez Joaquim, agradeço a boa disposição e entendimento, Rui Castro idem.

2/21/2008 9:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Agora sim, foi claríssimo - peço-lhe desculpa por ter descarregado em cima de si a irritação em que fico quando corrijo testes!
Mas insisto no conselho que lhe dei: leia o Stark - vai ver que muda de opinião! Já na capa pode ler o subtítulo: "Como o Cristianismo gerou a liberdade, os direitos do Homem, o capitalismo e o milagre económico no Ocidente". A minha formação profissional é de História, com particular interesse pela Idade Média, por isso estou à vontade para lhe dizer que este livro não traz qualquer novidade aos especialistas desta época. No entanto, contraria radicalmente o que é divulgado nos manuais do ensino secundário e na cultura bera dos maus filmes e telenovelas, onde Idade Média é sinónimo de Idade da Pedra.
A História tem sido deturpada POR RAZÕES IDEOLÓGICAS, e isso não é só de agora. Foi um processo iniciado na Roma de Petrarca, e enormemente acelerado a partir do séc. XVIII (caso se interesse pelo assunto, o livro "A Idade Média, essa impostura", do Jacques Heers, é magistral na detecção e descrição de todo o processo).

Se ler estes livros vai perceber que os cristãos não deixam de ter os pés bem assentes na terra quando levam a sério tudo o que Jesus nos disse, incluindo isto:"Procurai o Reino de Deus e a Sua Glória, e tudo o mais vos será dado por acréscimo".

Um abraço - passe o sentimentalismo que, apesar de tudo, não atrapalha! :)

2/21/2008 12:44 da tarde  
Blogger R said...

O Cristianismo criou Liberdade? O Capitalismo?

Mj, discordo.

Discordo por várias razões.

1º A Liberdade que o Cristianismo ofereceu na Idade Média (mesmo depois da Reforma) e nos países centralizados com o Catolicismo Apostólico Romano, foi meramente uma Liberdade de "Penitência". Uma vida de sacrifício, que só era compensada depois da morte garantindo um lugar no Céu. Aconselho a leitura de James Joyce.

Quanto aos direitos do Homem, já é discutível e sabe que é extenso.

Quanto ao Capitalismo, há confusões. O Capitalismo casa bem com o protestantismo dos países nórdicos mas não com os países "católicos". (devido às taxas de rendas etc), como eu li e bem, os protestantes tinham os pés assentes na terra e os católicos os olhos no céu.

Não generalize o termo "Cristianismo" num contexto Histórico.

Voltando outra vez ao tema do Joaquim, sou da opinião que são valores necessários a uma sociedade e ao ser humano. Cria um certo "idealismo" e a procura de valores mais altos, embora que não se confunda construir pedra sobre pedra nesses valores. É utópico.

E sim, esses valores existem.

2/22/2008 8:30 da manhã  
Blogger R said...

No 1º ponto, dou-lhe o exemplo do Puritanismo Inglês que fundou a América.

Acha que eles tinham "Liberdade"? num contexto lato é Liberdade no céu.

2/22/2008 8:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro vicissitudes:

Liberdade pura e dura, neste mundo não há: se alguém me quizer acorrentar, e tiver mais força, ou mais manha, do que eu - estou lixada! Mas a minha alma (ou o que quer que lhe queira chamar) só ma tomam se eu deixar. Sacrificar a vida por esta liberdade implica acreditar na vida eterna - e isso é uma questão de Fé. E foi porque um incontável número de cristãos deu a vida por esta liberdade que, hoje em dia, alguns de nós vivem num mundo em que, com mais ou menos hipocrisia, com mais ou menos eficácia, se tem em conta a liberdade como um direito inalienável do Homem.

Quanto á relação entre capitalismo e protestantismo, é esse um dos pontos mais importantes do livro do Stark: a tese de Max Weber é do início do séc.XX; a do Stark do início do séc. XXI; entre as duas decorrem 100 anos de vastíssimos e importantíssimos estudos sobre a Idade Média, que mudariam completamente a visão que se tem da história da Igreja Católica se esses estudos saíssem das esferas dos especialistas - o que não acontece por razões ideológicas e por preconceito.
Se o preconceito não é um defeito seu, então não tenha medo de correr o risco de mudar de opinião - leia os livros de que lhe falei!

2/22/2008 12:40 da tarde  
Blogger R said...

"1º A Liberdade que o Cristianismo ofereceu na Idade Média"

Não mencionei a liberdade "total". Não advogo à Liberdade "total" nesse seu termo.

Parece-me justificação de culpa. Fizeram a Inquisição e como desculpa, "ah, não há liberdade total".


Não é um preconceito meu, agradeço o conselho e irei ainda HOJE adquirir o mesmo. Quanto ao mudar de opinião isso é outro aspecto, tenho de analisar, ponderar e pedir permisso à Coroa.

A Igreja Católica teve os seus feitos. Teve um contexto, como as ideologias. Ditadores etc.


A sua alma só a tomam de a deixar? Bom, citando um autor, leia o 1984 do Orwell. No fim de contas, acha que ele "deixou" que lhe levassem a alma?! (dei um caso vulgar)

2/22/2008 1:28 da tarde  
Blogger Ricardo Pinheiro Alves said...

caros MJ e Vicissitudes, só agora me apercebi, com grande pena minha, do interessante diálogo que aqui tiveram.

Já li o livro do Stark e aconselho vivamente porque nos tira o que erradamente estudámos no secundário.

Vicissitudes, não confunda ideias com práticas. Muito do que o Stark diz sobre o cristianismo passa-se antes das reformas e por isso aplica-se ao catolicismo. Não quer isto dizer que a prática dos católicos tenha sido perfeita. Mas as ideias em que hoje acreditamos têm origem especialmente na idade média. muito mais do que na Grécia antiga.

Leia o livro que vale muito a pena.

2/22/2008 3:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro vicissitudes

Se bem interpretei, chama liberdade total ao que eu chamo liberdade da alma. Repare que eu só refiro a liberdade da alma para lhe mostrar que foi ela que abriu o caminho ao outro tipo de liberdade: foi o dom da própria vida de incontáveis homens e mulheres de fé que tornou eficaz a luta pela liberdade, tanto a da alma como a outra.
Quanto á Inquisição, não vou tentar defender o indefensável! No entanto, tenha cuidado - também aqui a História tem sido deturpada e exagerada - como, no geral, toda a história da Igreja Católica. Leia o Jacques Heers e vai ver que tenho razão! De qualquer maneira, mesmo aceitando os exageros, compare as consequências da Inquisição com as do afastamento das referências cristãs - Terror, Vendeia, Staline, Hitler...
E agora, lá tenho que reconhecer a minha ignorância: não li o Orwell! Vou tratar disso depois de corrigir os últimos testes e de preparar as primeiras aulas do semestre; entretanto, a propósito de exemplos de quem não deixa que lhe tomem a alma, olhe para os católicos na China e no Iraque... recorde, para não sair da Pen. Ibérica, os católicos na Guerra de Espanha...

caro Ricardo

Deve poder avaliar o gigantesco trabalho que tenho para "desensinar" alunos que me chegam às mãos depois da lavagem ao cérebro do secundário! Há uns anos, depois da leitura (obrigatória) do Jacques Heers, um aluno disse-me qualquer coisa como isto; "É horrível perceber que tudo o que me ensinaram está errado!" Há pouco tempo encontrei-o e falei-lhe no Stark, ao que me respondeu que, agora, só lê literatura de época, no momento, os "Serões da Província".

2/22/2008 5:23 da tarde  
Blogger Ricardo Pinheiro Alves said...

MJ,

Pode enviar-me a referência do Jacques Heers, sff? Não sou historiador e não o conheço mas fiquei curioso em lê-lo. Muito obrigado.

2/22/2008 9:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ricardo, aqui vai a referência que me pede:

Jacques Heers, "A Idade Média, essa impostura", edições Asa, 1994. Provavelmente, estará esgotado, mas não deve ser difícil encomendar em francês ("Le Moyen Âge, une imposture", Librairie Académique Perrin, 1992) - acho que fica a lucrar, porque a tradução portuguesa tem erros que em certos casos chega mesmo a deturpar o sentido da frase!
Não tem nada que agradecer - não calcula o gosto que me dá!

Maria Joana

2/22/2008 10:37 da tarde  
Blogger Ricardo Pinheiro Alves said...

Muito obrigado Maria Joana. Espero em breve começar a "postar" sobre o livro do Stark com frequência. Só não o fiz ainda por falta de tempo.

2/22/2008 11:55 da tarde  

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