quinta-feira, dezembro 06, 2007

Imperdível: Contra o igualitarismo

A mulher e o cristianismo
06.12.2007, Alexandra Teté
Público

A ideologia do género pretende libertar a mulher de si mesma, da sua natureza, da sua própria feminilidade

Vasco Pulido Valente já disse o essencial, colocando a nu a frivolidade e a ignorância de certas intervenções ditas feministas no colóquio sobre "A mulher nas religiões". Ainda posso compreender o que frei Bento quis dizer quando afirmou que "o cristianismo é uma invenção de mulheres, seduzidas por um Cristo feminista", pese embora a ambiguidade e a irreverência forçada das suas palavras. É verdade que a notável expansão do cristianismo nos cinco primeiros séculos é fortemente devedora, no plano sociológico, do papel desempenhado pelas mulheres (e não apenas pela sua influência maternal e conjugal): mais disponíveis para a conversão, as mulheres gozavam nas subculturas cristãs de um estatuto superior - quer na família, quer na Igreja - ao das mulheres pagãs. A isso se associava a menor fertilidade destas últimas, resultante dos costumes sexuais pagãos, da prática do infanticídio sobretudo feminino e, em qualquer caso, do império masculino sobre a mulher e sobre a vida e morte dos seus filhos nascentes (Cf. por exemplo, The Rise of Christianity, de Rodney Stark, Princeton University Press).
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Em suma, de acordo com a mensagem de Cristo, as mulheres eram tratadas com respeito (um respeito inédito, aliás), como pessoas com igual dignidade, transcendendo os preconceitos do tempo. Para as mulheres, a conversão ao cristianismo correspondeu a uma libertação.

Ao contrário do feminismo de equidade, assente na igual e essencial dignidade pessoal de mulheres e homens, sem renunciar à conjugabilidade entre ambos e à especificidade feminina, a ideologia do género pretende libertar a mulher de si mesma, da sua natureza, da sua esponsalidade e maternidade e da própria feminilidade. Na sua versão mais extrema e radical, esta perspectiva despreza e reduz a feminilidade a um mero construto social que pode e deve ser desmontado. Esse feminismo de género remonta ao feminismo radical dos anos 60 e, mais recentemente, tem integrado a agenda ideológica progressista e invadido sub-repticiamente vocabulário, programas educativos e leis. Os efeitos perversos desta política de engenharia de mentalidades seriam de esperar: a deformação e degradação da mulher, estereotipada umas vezes como mulher-objecto e, outras vezes, como mulher-homem. E, claro, em nome da igualdade não surpreende o surgimento do homem-objecto e também do homem efeminado, bem como a promoção da homossexualidade.

Para essa visão, como atestam o zelo sectário e o tom censório exibidos por alguns dos participantes no colóquio referido, a tradição judaico-cristã é o último e principal obstáculo. Huxley ficcionou um admirável mundo novo em que a tecnologia genética (permitindo a manipulação e a produção industrial de seres humanos), a abolição da família e a promiscuidade sexual garantiam eficazmente todos os direitos sexuais e reprodutivos (com a máxima segurança e higiene, obviamente). Nesse pesadelo, a Bíblia e as histórias de amor (heterossexual) estavam encerradas no cofre-forte dos livros proibidos.
Associação Mulheres em Acção
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