sexta-feira, novembro 30, 2007

A Pobreza dos Números

Decorre este fim-de-semana mais uma campanha de recolha de alimentos do Banco Alimentar contra a Fome. Qualquer um de nós que vá a um supermercado durante os próximos dois dias terá uma grande probabilidade de se deparar com alguns dos cerca de 17 mil voluntários que participam na campanha. No total, são 13 bancos, a operar em todo o país, que apoiam anualmente cerca de 220 mil pessoas através da recolha e posterior distribuição de alimentos. Vamos todos ajudar.

As duas campanhas anuais de recolha de alimentos junto de supermercados são apenas a face visível do trabalho deste conjunto de instituições. A obtenção de alimentos passa principalmente pelo aproveitamento de desperdícios das actividades agrícola, piscícola e alimentar. Um exemplo é a actual tentativa de aproveitamento para consumo de milhares de toneladas de peixe que todos os anos são pescados e deitados para o lixo (ou mortos para o mar), de acordo com as regras da Política de Pescas da União Europeia (UE). Com a escassez de algumas espécies que existe nas nossas águas é incompreensível como esta situação se continua a manter.
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Mas o que o exemplo do Banco Alimentar mostra é a vitalidade que existe em alguns sectores da nossa sociedade civil. Um conjunto de voluntários, organizados de uma forma descentralizada e independentes de qualquer interesse que não o de ajudar aqueles que necessitam, garante alimentação a um elevado número de beneficiários. O papel do Estado deveria passar, cada vez mais, por complementar a actividade deste tipo de instituições e não pretender substitui-las, como alguns defendem.

Os beneficiários dos bancos alimentares não são os pobres que costumamos ver na televisão, onde a miséria se sobrepõe a tudo o resto. A definição de pobre habitualmente utilizada a nível internacional refere-se àqueles que têm rendimento inferior a 1 USD por dia. O grosso encontra-se na Ásia, apesar de normalmente as televisões os mostrarem em África.

Em Portugal, segundo a União Europeia (UE), existem quase 2 milhões de pessoas – 19% da população – que não são considerados pobres mas sim em risco de pobreza. Não são pobres segundo a definição internacional, pois não recebem menos de 1 USD por dia, mas estão em risco de se tornarem. A definição de «risco de pobreza» da UE é muito mais abrangente do que a simples definição de pobreza, pois inclui a proporção da população com um rendimento igual ou inferior a 60% da mediana do país. Apesar desta grande diferença, entrou rapidamente no discurso político, pelas mãos daqueles que tentam justificar as políticas sociais gastadoras e sem controlo dos estados previdência que visam a obtenção de fins igualitaristas, que em Portugal haveria 2 milhões de pobres.

Mas, como o demonstram os números, e o confirma a UE, é falso que haja 2 milhões de pobres em Portugal. Só a falta de argumentos permite a equiparação hipócrita dos pobres e miseráveis deste mundo com os carenciados em Portugal. E é triste ver como se usa a chantagem emocional para, com base em argumentos ditos sociais, se tentarem justificar políticas de ataque aos que criam riqueza em Portugal. A política social deve passar, principalmente, pela criação de empregos e pela ajuda aos que estão no fundo da “escala”. Ajuda que dignifique os seus beneficiários sem os tornar dependentes e que esteja virada para a partilha e para a dignidade do Homem.

O Estado deve apoiar aqueles que realmente necessitam e não deve apoiar de forma igual nem deve pretender que todos venham a ter iguais rendimentos. È isto o que o Banco Alimentar faz. Os pobres e carenciados que o Banco ajuda possuem, muitas vezes, alguns rendimentos, uma pensão ou outro tipo de subsídio do Estado. São idosos, desempregados ou membros de agregados monoparentais. Mas apesar disso precisam de ajuda. O sucesso de capitalismo permitiu um aumento exponencial da população mundial e a redução dos níveis de pobreza, tanto absolutos como relativos. Mas mesmo nos países desenvolvidos ainda existe quem precisa da nossa ajuda. Vamos todos ajudar neste fim-de-semana contribuindo para a campanha do Banco Alimentar.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Esta situação não tem comentário de possível bom senso.

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11/30/2007 7:10 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Para além da colaboração nos fins de semana de supermercado, podem nas Vs declarações de IRS indicar o NIF do BA, de modo a que ele possa receber a percentagem que a lei prevê do V.rendimento

11/30/2007 10:13 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

Nem só de pão vive o Homem, mas também. Boa bola, Ricardo.

11/30/2007 10:21 da manhã  
Blogger Ricardo Pinheiro Alves said...

Obrigado

11/30/2007 12:05 da tarde  

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