terça-feira, outubro 23, 2007

O referendo do tratado 1

Não é que eu, por princípio, seja contra os referendos. Acho-os a forma suprema de democracia.
Quando comecei a ler um pouco sobre política, adorei o sistema suíço em que o governo só faz a gestão corrente, tudo o resto é decidido pelo povo.
O problema comecei a vê-lo em dois referendos sobre o aborto e um sobre a regionalização em que vi a demagogia a reinar suprema.
É que, descobri então, um referendo exige uma enorme maturidade do povo que o realiza. Eu sei que, com isto, pareço de facto um ditador a dizer que o povo não está preparado para essas coisas da democracia. Mas, de facto, o povo tanto se pode enganar com falta de democracia como com excesso aparente de democracia.
No referendo da Dinamarca a Maastricht, os dinamarqueses rejeitaram o tratado mas antes a edição de bolso do tratado tinha-se esgotado nas livrarias dinamarquesas. Estima-se que um terço da população dinamarquesa leu, de facto, o tratado antes de votar não. Aí, tenho a certeza de que a escolha foi de facto a do povo e se centrou no tratado que estava a ser referendado.
Já no caso francês e em boa medida no caso holandês, os referendos foram uma manobra de pura demagogia. Os franceses estavam-se a borrifar para o tratado que, na verdade, até os beneficiava, pois garantia a perpetuação da posição privilegiada na UE, mesmo após o alargamento a Leste. Ninguém lucra tanto como a Franca com a PAC que é, de longe, o maior instrumento económico da UE. Os franceses não votaram contra o tratado, votaram contra o Chirac porque estavam chateados com ele e com o PM. Tinham-lhes dito que o sonho das 35 horas semanais não ia durar, que a França não podia continuar com a cabeça de baixo da terra e eles zangaram-se e quiseram partir a louça. Por isso votaram contra o referendo pelo mesmo motivo que votaram no Le Pen há 7 anos.Não entendem o significado do voto mas, como uma criança que faz birra para se fazer ouvir, fazem a coisa mais chocante de que se lembram para chamar a atenção.
Ora, eu por princípio, acho que crianças birrentas não devem votar. Acho que quem vota por embirrações que não têm nada a ver com o que está em causa e que afecta a vida de muitos milhões de pessoas não devem votar, pois são uma presa fácil de demagogos.
Para isso é que Deus criou a democracia representativa, para funcionar como filtro contra demagogias fáceis sobre povos iliterados, sem deixar porém de manter um controlo democrático sobre as instituições.
Por isso, concordo que, de facto, dinamarqueses, suecos, até finlandeses votem em referendo. Portugueses, franceses, ingleses e italianos espero bem que não, que não votem. Se os primeiros votarem contra é porque há lá qualquer coisa que não deveria lá estar. Se os últimos votarem contra só significa que acordaram com um acesso bílis.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Malaquias,

Concordo inteiramente consigo. Os tugas, até para a votação do condomínio se estão a marimbar, quanto mais para esse tal de tratado, que para a maioria só serve para meia dúzia de maduros andar a curtir de cimeira em cimeira, para alguns dizerem porreiro, pá.

10/23/2007 10:39 da manhã  

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