O bafio ou a liberdade de espírito
O André Abrantes Amaral acha que "o que sobressai da nossa vivência diária é a inexistência de qualquer interesse na monarquia". Usa, majestaticamente presumo, a primeira pessoa do plural. E adiante, descobre o óbvio: "a nossa vida não muda por haver um rei, a vida da nossa família não se altera, nem a dos que nos são próximos, nem sequer a dos milhões de seres humanos que vivem neste país melhora por existir um rei." Mas sente ainda a necessidade de dizer que há monárquicos. Enquanto o André se espraia pelos seguríssimos dados adquiridos, tudo bem. Os problemas surgem quando começa com base neles a efabular, a tresler. Os ditos monárquicos, grupo bafiento em que este vosso amigo se integra, "escrevem, lamentam, orgulham-se e sentem-se importantes. Porquê? Porque acreditam numa coisa que não interessa a ninguém. Nem a eles."
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Haverá aqui certamente um passo lógico que escapa aos que não foram brindados com o esmalte do génio. Que (alguns) os monárquicos escrevam e se lamentem, é próprio da sua condição de tresmalhados do regime a que a indiferença de muitos nos condena. Mas orgulhamo-nos de quê? Sentimo-nos importantes por alma de quem? Porque acreditamos numa coisa (sic) que não interessa a ninguém. É pecado capital, o da soberba, confundirmo-nos a nós próprios com toda a gente. Pretendermos que os outros vêem o mundo pelas mesmas palas que nos encaminham o olhar. Que o assunto não lhe interessa a ele, é pacífico, nada a opor. Que, por isso, não interessa a mais ninguém, é onanismo. E que esse "não interesse" é fonte de importância e orgulho de alguém, pura tacanhez.
Orgulhosos e importantes devem achar-se os que apesar de escreverem e de igualmente se lamentarem têm a pretensa superioridade de acreditarem em coisas que interessam a toda a gente, porque os que não se interessam com essas coisas em que eles tão piamente acreditam, ainda não são propriamente gente.
Nunca será monárquico o que não ama o seu País. Nunca compreenderá o esforço de quantos procuram elevar a dignidade nacional, o que se compraz com o hedonismo levado à razão de Estado. Nunca alcançará o que me move, orgulhos e importâncias à parte, os que acreditam que não há pátria para além do dinheiro e da liberdade da sua circulação. Nunca perceberá o que me vai na alma o que confunde bafio com liberdade de espírito e pragmatismo liberal com bolas de naftalina.
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