assimetrias culturais
Visitei ontem o Palácio Nacional de Queluz (PNQ) um dos mais emblemáticos monumentos nacionais. Sempre ouvi dizer isto, pelo menos. É hoje, para quem não saiba, um Museu. Enquanto o Ministério da Cultura se dá ao desvario de entregar nas mãos de um dito comendador da república milhões de euros, para alimentar uma colecção que poderia ser reunida num par de anos através de aquisições selectivas (ou nem tanto) nos leilões da especialidade, colecção que, em última análise, só não será dele se ele a não quiser de volta, o nosso património histórico, majestoso, irrepetível, é votado ao abandono.
O estado do PNQ descreve-se com os traços que caracterizam a miséria. Os jardins, que dizem estão a ser restaurados, estão negligentemente tratados, a pintura do exterior do palácio é uma vergonha, a patine do rocócó é agora de um ouro vibrante, para americano se exaltar. A iluminação do museu é gritante (a ausência de luz contrasta com os reflexos impostos), a descrição das peças (as que têm a sorte de ser descritas...) é escassa e a exposição muito pouco amiga do visitante. Não há sequer um guião ou um plano de visita, em português. Está esgotado. Há muito. Só há em inglês. Custa 1 euro.
Cuidar do património edificado, oferecer o enquadramento histórico que lhe dá sentido é passadismo. Bom, bom é o espírito coleccionista do dito comendador da república. Como sopram frescos, posto que assimétricos, os ventos da cultura em Portugal!
3 Comments:
Hoje em dia querem à força incutir-nos as qualidades da arte contemporânea, que aquilo é que é bom, que os nossos palácios, museus e outros locais supostamente dedicados à cultura estão ali sempre e que, enfim, não são pertinentes nem prioritários.
Se anda em busca de desgostos culturais outro local a visitar é o Museu Regional de Beja.
Quando o estado gasta balúrdios em peças de arte que se podem ver em qualquer Carrefour ou Continente, está tudo dito (refiro-me às embalagens de detergente empilhadas). Tem de haver dinheiro para receber a colecção do Hermitage e lamber as botas ao Putin!
Esta gentinha que decide sobre o que deve ter ou não valor cultural está rendida ao mau gosto da modernice. E a modernice é que nós vemos e sabemos. Qualquer idiota tece loas ao lixo, pois de arte e cultura...vou ali, já venho.
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