sexta-feira, setembro 28, 2007

A liberdade religiosa de alguns

A justificação avançada por muitos para as medidas governamentais em matéria de assistência sacerdotal aos doentes só pode ser compreendida no quadro de um jacobinismo reinante ou, em alternativa, como expediente discursivo de quem procura racionalizar uma obsessão por certo explicável pela psicanálise.
Pois que, não só a liberdade religiosa não implica a imposição legislativa do ateísmo militante – mas tão só a desobstrução à prática de qualquer credo religioso –, como se sabe que o princípio da igualdade em que aquela se louva está longe de ser desvelável em termos meramente formais. Impondo o entendimento hodierno acerca do direito justo que o mesmo seja eivado pela notas da materialidade, afirma-se, unanimemente, dever-se tratar como igual o que for igual e como diferente o que diferente for.
Posto isto, pergunto eu se fará sentido, a par das capelanias hospitalares, criarem-se as correspondentes mesquitas ou templos budistas, porquanto, contra a vontade de muitos, a população portuguesa continua na sua maioria a ser católica. E porque, em dessintonia com o laicismo obnubilador da religiosidade enquanto dimensão fundamental da pessoalidade do ser consigo e com o outro, entendo ser atendível o sentimento de fé inspirador de quantos não seguem Cristo e a Igreja de Roma, acharia, ainda assim, defensável que se criassem as estruturas viabilizadoras da prestação de análoga assistência aos que, pertencendo a uma minoria e estando aos cuidados do serviço nacional de saúde, o pretendessem.
Que faz o Governo? Constatando que todos têm fome, mas só alguns acedem à comida saciadora da necessidade, não procura alimentar uns e outros, mas – almejando alcançar um desiderato igualitário paupérrimo – opta pela condenação de todos à privação ou, outrossim, coloca obstáculos que, em muitas situações, redundarão na impossibilidade de saciar o desejo espiritual.
Mas mais. Este mesmo Estado que se mostra purista em alguns casos, num perfeito venire contra factum proprio, serve-se da Igreja para suprir a sua incapacidade em matéria de assistência social. Este Estado que agora se quer liberal, mas que muitos reclamam social e o continua a ser, usa e abusa dos meios postos em movimento pelas estruturas da hierarquia episcopal e diocesana para se ver livre da concretização da ameaça real da falência no que respeita ao auxílio dos mais carenciados. Quantas são as obras com directa ou indirecta inspiração católica que cumprem, entre nós, esse papel? Estarão os arautos da ingénua (ou nem tanto) neutralidade confessional do Estado dispostos a levá-la às últimas consequências também aqui?

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não sei como é que o Engenheiro Socrates aguentou tanto tempo fingir que era namorado desta senhora. Devia ser muito cansativo estar sempre a ter de lhe explicar tudo aquilo que vai além de 1 metro de distância. Esta senhora não consegue perceber nem sequer aquilo que é logico e racional para qualquer pessoa: pragmaticamente ainda está muito longe, se é que alguma vez vai chegar, o dia em que o Estado Português deixa de ter necessidade que a Igreja o ajude a cumprir o seu papel de estado social em váriadas áreas.

9/28/2007 12:17 da tarde  

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