segunda-feira, setembro 24, 2007

Cabeças debaixo da terra

A propósito da recente medida de troca de seringas nas prisões, algumas cabeças bem-pensantes têm-se insurgido contra esta complacência, como se estivéssemos a ceder aos princípios morais da sociedade.
Essas opiniões não são mais do que cabeças bem enterradas debaixo da terra que ignoram que esta medida serve mais para proteger a sociedade como um todo do que propriamente os reclusos.
Ninguém está a propor distribuir droga nas prisões. Se alguém o faz serão possivelmente os mesmos guardas prisionais que agora se insurgem contra esta medida. Se a droga circula nas prisões, só a eles mesmos se podem culpar por incompetência da vigilância ou por cumplicidade activa nas redes de tráfico.
Mas o facto mantém-se que a droga lá circula no sítio onde as pessoas teoricamente mais estariam fisicamente impedidas de a consumir. E se esse facto é indismentível, também é indismentível o facto de que a população prisional tem altíssimas taxas de infecção por HIV e Hepatite B. Sendo também dado que essa população não ficará eternamente na prisão, acabarão por vir cá para fora contribuir para a disseminação de tão terríveis doenças. Ainda que não venham cá para fora, irão aumentar substancialmente a despesa da sociedade em cuidados médicos aos reclusos, para não falar das responsabilidades morais de um estado que deve zelar pela saúde das populações, incluindo as prisionais.
Assim, a distribuição de seringas é uma medida do mais elementar bom senso. Se, por poucos cêntimos, podemos evitar a propagação de doenças avassaladoras, com custos económicos brutais, criminoso seria não o fazer. Os críticos podem enterrar a cabeça na areia pelo tempo que quiserem mas não vão circular nem mais nem menos drogas nas prisões pelo facto de serem injectadas com seringas limpas e seguras.
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