quinta-feira, setembro 13, 2007

amen

"As putas das criancinhas
Não esperava, depois de tantos anos de instrução, ter que explicar isto outra vez. A única coisa que se deve exigir a Scolari é que seja um bom selecionador nacional. Não se contrata um treinador para ser um "exemplo", como dizem, sintomaticamente, Daniel Oliveira e Tiago Mendes. É a mesma coisa com os politicos. Eu quero poder votar num mentiroso. Se um mentiroso me governar melhor que uma pessoa honesta, porque razão me hei-de prejudicar? No futebol escolhe-se os melhores treinadores e os melhores jogadores, não as melhores pessoas ou as que dão melhor exemplo, porque o objectivo do futebol é ganhar. Na politica vota-se nos que têm as melhores politicas, não nos que são mais honestos, porque o objectivo da democracia é poder escolher aquele politico que nos poderá governar melhor. Se uma pessoa se obrigasse a votar no mais honesto e não no que tem melhores politicas para o país, temos que reconhecer que Francisco Louçã mereceria 99 por cento dos votos. Mas eu prefiro José Sócrates ou Paulo Portas a Francisco Louçã, porque prefiro ser governado por boas politicas que por pessoas honestas.Mas Tiago Mendes vai mais longe que Daniel Oliveira, que se limitou à cruzada moral típica dos outdoors do seu campo político.Depois de, com uma cara de pau sem limites, negar ter feito a comparação entre o soco de Scolari e a tragédia de Heysel, Tiago Mendes diz que a acção de Scolari é a "negação do espirito desportivo". Esta merda põe-me doente. Muito exactamente, o que é o "espirito desportivo", caralho? Onde é que está escrito que o selecionador "é um pedagogo"? Está a ressacar, o Tiago Mendes, é isso? Um gajo agora porque é competente na sua profissão também tem que ser boa pessoa? E o futebol, é um projecto de educação e elevação moral nacional ou um local onde se joga futebol? Estamos onde, foda-se? Se é que as duas palavras fazem sentido juntas, o "espirito desportivo" manifesta-se em, exclusivamente, duas coisas: vitória e/ou beleza estética. Não há mais nada no mítico "espírito desportivo". Tudo o que vá para além disso consta do prémio Fair Play da FIFA, uma excelente competição para os Suiços e os Suecos. Mesmo o vocábulo 'desportivismo' só deveria ser utilizado para significar que a vitória e a derrota deve ser recebida por vencedores e perdedores com a noção de que 'para o ano há mais', e não como uma avaliação de conduta. Todo o texto do Tiago Mendes é uma confusão ilimitada de tudo com nada, um tratado de ignorância desportiva e de obliquidade moral. Reparem na frase seguinte, em que se discorre sobre o futebol nacional:"Continuar-se-á a optar por seleccionadores de sangue quente - mais adaptável à “natureza latina” dos nossos jogadores, dirão alguns -, que primam pelo culto dos mergulhos, das dores fingidas e outras pieguices, pela conversa interminável sobre os árbitros e outras desculpabilizações possíveis, etc." Tiago Mendes não sabe de onde vem o "culto dos mergulhos" (como, aliás, muita gente) e desconhece conversas interminávies sobre árbitros noutros paises. Em face disto, Tiago Mendes conclui que precisamos de "dois ou três anos de reflexão" para acertarmos o passo, e aprendermos um pouco sobre "humildade, dedicação, mérito, esforço, responsabilidade e fair-play." Realmente, se há coisa que, por exemplo, Figo, Cristiano Ronaldo ou Simão Sabrosa precisam é de lições de "humildade, dedicação, mérito, esforço e responsabilidade". Aliás, Figo, Cristiano Ronaldo e Simão Sabrosa são três dos melhores executantes mundiais da sua profissão porque tiveram ao longo das suas carreiras uma enorme falta de humildade, de dedicação, de mérito, de esforço e responsabilidade. Não vamos aqui devolver o conselho de "dois ou tres anos de reflexão" ao Tiago Mendes. No próximo ano, quando estiver a correr nos campos verdejantes de Oxford, pode ser que um relampago de claridade lhe ilumine o cortex. Suponho que não estará demasiado fora do horizonte o dia em que o desporto será destruido pelos moralismos que as pessoas querem encavalitar em cima das leis e regras de cada modalidade. Quiseram (mas não foram a tempo) tirar o prémio de melhor jogador do mundial de 2006 a Zinedine Zidane porque este espetou uma magnifica cabeçada num outro jogador. Quiseram tirar-lhe o merecidíssimo galardão porque Zidane se portou mal? Não! Porque a sua má acção apareceu na televisão e ele é um "exemplo" para as putas das criancinhas. Podemos votar e escolher quem nos governa; estando no blogue em que está, imagino que o Tiago Mendes seja um liberal, que acredite nas pessoas e na sua capcidade de decidir o que é melhor para si e para os seus; que defenda que o Estado paternal deva re-exportar muitas das suas actuais responsabilidades de volta para a esfera da liberdade individual de cada um; mas quando se trata de futebol somos todos, para além de orfãos, estúpidos."
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