Legitimidade do estado de Israel
Gostaria hoje de lançar uma discussão aberta sobre a questão da legitimidade do estado de Israel. Não pretendo discutir a questão dos territórios ocupados em 1967, a questão dos Montes Golã, a situação de Jerusalém Oriental ou a legitimidade dos colonatos. Essas questões têm sido amplamente discutidas nos nossos meios de comunicação social e conduzem sempre ao mesmo impasse de posições em que israelitas invocam o seu direito de se defenderem dos ataques externos e palestinianos reivindicam o seu direito de retomar aquilo que lhes foi tomado.
Por isso, regressemos a 1948, à proclamação do estado de Israel ou mesmo a finais do Século XIX e ao início do movimento sionista, para analisar a questão mais fundamental do direito de um povo chegar a um território habitado por outro povo, introduzir-se com maior ou menor aceitação nesse território, aumentar os seus números e, um belo, dia, declarar esse território como pátria desse povo que passa a controlar os seus destinos e a sujeitar à sua lei os povos que já ali habitavam antes.
O fundamento da reivindicação israelita tem duas bases: o facto de aquele território ser a sua pátria histórica, de onde foram expulsos há quase dois mil anos pelos romanos, e o facto de, como povo na diáspora, terem sofrido todo o género de inenarráveis perseguições, desde a inquisição católica até ao pesadelo do Holocausto.
São argumentos de peso que não podem ser simplesmente rejeitados como fazem muitas correntes anti-semitas primárias. No entanto, são também argumentos que levantam fortes problemas, do ponto de vista do precedente histórico e do direito internacional.
Assim, a primeira questão que se põe é se o direito de regresso de um povo ao seu território ancestral não sofre nenhum tipo de prescrição. Se assim for, estamos, por exemplo, preparados para aceitar um direito do povo árabe regressar à Península Ibérica, onde viveu e prosperou civilizacionalmente durante pelo menos seis séculos? A sua saída ocorreu há uns meros oito séculos (ou cinco, se considerarmos Granada), muito mais recente, portanto, do que a saída judaica da Palestina. Qual é o critério de diferenciação entre as duas situações? Mais chocante ainda é a situação dos povos nativos do continente americano. A sua expulsão de terras que ocuparam desde os confins da história ocorreu há uns meros 150 anos. Em alguns casos, essa expulsão ocorre ainda hoje. Estamos preparados para reconhecer o direito dos povos nativos do continente americano a declararem a retoma da sua soberania sobre todo o continente, com base no princípio do retorno aos territórios ancestrais? Penso que essa questão poderá ser um ponto de partida para uma discussão frutuosa nos comentários deste post.
Finalmente, no que toca ao argumento das perseguições de que foi alvo o povo judeu na diáspora, qual será o fundamento histórico e jurídico desse argumento. Para começar, é preciso apontar o facto de que a perseguição movida ao povo judaico foi essencialmente uma perseguição europeia. As três grandes perseguições de que foi vítima o povo judaico foram a inquisição católica europeia, o holocausto nazi e os pogroms russos, quer antes quer depois da revolução bolchevique. E, no entanto, a Europa nunca foi punida por essas perseguições que moveu contra um povo que residia no seu seio. Quando se começou a falar na possibilidade de se criar uma pátria onde os judeus pudessem exercer a sua auto-determinação, nunca se pensou em atribuir-se-lhes um território europeu ou um conjunto de cidades-estado onde pudessem traçar o seu próprio destino. Em vez disso, pensou-se em África, na Ásia, até na Oceania.
Pelo contrário, os territórios árabes foram, ao longo da história, os territórios que melhor toleraram a presença da comunidade judaica. As comunidades judaicas de Marrocos foram historicamente das que gozaram melhor tolerância religiosa, ao ponto de, em 1948, aquando da declaração de independência de Israel, 250 mil judeus ainda viverem em Marrocos, muitas delas consecutivamente desde o início da diáspora no ano de 69. Mais nenhum território permitiu uma presença judaica, com liberdade religiosa, durante tantos séculos. Na própria palestina, ao longo dos séculos, as comunidades judaicas que permaneceram gozaram quase sempre da tolerância dos povos que foram sucessivamente dominando aquele território. O território teve historicamente uma população muito esparsa, o que permitia uma convivência fácil entre comunidades de diferentes religiões e culturas. Esse convívio fácil manteve-se até 1948 quando uma comunidade judaica que ainda era minoritária no território decidiu unilateralmente declarar um estado judaico, sem perguntar a opinião da população muçulmana maioritária.
Hoje, o ocidente, que historicamente perseguiu o povo judaico, defende que a Palestina e o povo árabe, que historicamente toleraram o mesmo povo judaico, lhe cedam uma parte do seu território para constituir o porto seguro para o povo tradicionalmente perseguido. Isso constitui a base para a resolução de um povo? O que poderemos então dizer do povo curdo que luta há séculos pela criação do seu próprio estado num território onde, aliás, é maioritário e continua a ser perseguido? O que podemos dizer dos Tutsis que viram três quartos da sua população ser dizimada em poucos meses no Ruanda? O que podemos dizer das tribos índias da Amazónia que vão sendo lentamente dizimadas pelo avanço da exploração económica da floresta?
Essas perseguições são base bastante para criação de um estado a qualquer preço? Então, teremos de criar dezenas de Israeis por esse mundo fora.
Espero com estas notas lançar uma discussão um pouco diferente sobre o problema israelo-palestiniano nas páginas deste blogue. Fico a aguardar os comentários e as tareias que serão, sem dúvida, muitas e desapiedadas...
Por isso, regressemos a 1948, à proclamação do estado de Israel ou mesmo a finais do Século XIX e ao início do movimento sionista, para analisar a questão mais fundamental do direito de um povo chegar a um território habitado por outro povo, introduzir-se com maior ou menor aceitação nesse território, aumentar os seus números e, um belo, dia, declarar esse território como pátria desse povo que passa a controlar os seus destinos e a sujeitar à sua lei os povos que já ali habitavam antes.
O fundamento da reivindicação israelita tem duas bases: o facto de aquele território ser a sua pátria histórica, de onde foram expulsos há quase dois mil anos pelos romanos, e o facto de, como povo na diáspora, terem sofrido todo o género de inenarráveis perseguições, desde a inquisição católica até ao pesadelo do Holocausto.
São argumentos de peso que não podem ser simplesmente rejeitados como fazem muitas correntes anti-semitas primárias. No entanto, são também argumentos que levantam fortes problemas, do ponto de vista do precedente histórico e do direito internacional.
Assim, a primeira questão que se põe é se o direito de regresso de um povo ao seu território ancestral não sofre nenhum tipo de prescrição. Se assim for, estamos, por exemplo, preparados para aceitar um direito do povo árabe regressar à Península Ibérica, onde viveu e prosperou civilizacionalmente durante pelo menos seis séculos? A sua saída ocorreu há uns meros oito séculos (ou cinco, se considerarmos Granada), muito mais recente, portanto, do que a saída judaica da Palestina. Qual é o critério de diferenciação entre as duas situações? Mais chocante ainda é a situação dos povos nativos do continente americano. A sua expulsão de terras que ocuparam desde os confins da história ocorreu há uns meros 150 anos. Em alguns casos, essa expulsão ocorre ainda hoje. Estamos preparados para reconhecer o direito dos povos nativos do continente americano a declararem a retoma da sua soberania sobre todo o continente, com base no princípio do retorno aos territórios ancestrais? Penso que essa questão poderá ser um ponto de partida para uma discussão frutuosa nos comentários deste post.
Finalmente, no que toca ao argumento das perseguições de que foi alvo o povo judeu na diáspora, qual será o fundamento histórico e jurídico desse argumento. Para começar, é preciso apontar o facto de que a perseguição movida ao povo judaico foi essencialmente uma perseguição europeia. As três grandes perseguições de que foi vítima o povo judaico foram a inquisição católica europeia, o holocausto nazi e os pogroms russos, quer antes quer depois da revolução bolchevique. E, no entanto, a Europa nunca foi punida por essas perseguições que moveu contra um povo que residia no seu seio. Quando se começou a falar na possibilidade de se criar uma pátria onde os judeus pudessem exercer a sua auto-determinação, nunca se pensou em atribuir-se-lhes um território europeu ou um conjunto de cidades-estado onde pudessem traçar o seu próprio destino. Em vez disso, pensou-se em África, na Ásia, até na Oceania.
Pelo contrário, os territórios árabes foram, ao longo da história, os territórios que melhor toleraram a presença da comunidade judaica. As comunidades judaicas de Marrocos foram historicamente das que gozaram melhor tolerância religiosa, ao ponto de, em 1948, aquando da declaração de independência de Israel, 250 mil judeus ainda viverem em Marrocos, muitas delas consecutivamente desde o início da diáspora no ano de 69. Mais nenhum território permitiu uma presença judaica, com liberdade religiosa, durante tantos séculos. Na própria palestina, ao longo dos séculos, as comunidades judaicas que permaneceram gozaram quase sempre da tolerância dos povos que foram sucessivamente dominando aquele território. O território teve historicamente uma população muito esparsa, o que permitia uma convivência fácil entre comunidades de diferentes religiões e culturas. Esse convívio fácil manteve-se até 1948 quando uma comunidade judaica que ainda era minoritária no território decidiu unilateralmente declarar um estado judaico, sem perguntar a opinião da população muçulmana maioritária.
Hoje, o ocidente, que historicamente perseguiu o povo judaico, defende que a Palestina e o povo árabe, que historicamente toleraram o mesmo povo judaico, lhe cedam uma parte do seu território para constituir o porto seguro para o povo tradicionalmente perseguido. Isso constitui a base para a resolução de um povo? O que poderemos então dizer do povo curdo que luta há séculos pela criação do seu próprio estado num território onde, aliás, é maioritário e continua a ser perseguido? O que podemos dizer dos Tutsis que viram três quartos da sua população ser dizimada em poucos meses no Ruanda? O que podemos dizer das tribos índias da Amazónia que vão sendo lentamente dizimadas pelo avanço da exploração económica da floresta?
Essas perseguições são base bastante para criação de um estado a qualquer preço? Então, teremos de criar dezenas de Israeis por esse mundo fora.
Espero com estas notas lançar uma discussão um pouco diferente sobre o problema israelo-palestiniano nas páginas deste blogue. Fico a aguardar os comentários e as tareias que serão, sem dúvida, muitas e desapiedadas...
34 Comments:
O exemplo judaico não pode ser aplicado aos árabes da Península ibérica.
Os árabes não eram autóctones, eram invasores e foram expulsos, e ainda bem para nós, pelos descendentes directos dos visigodos, povo que derrotaram em 711
A questão ainda se complica mais a confirmar-se a tese de que os Ashkenazim são de origem Khazar. Isto significaria que 85% dos judeus actuais não seriam originários povos semitas.
Ora aí está uma conversa que nunca vai acabar...;)
Meu caro Luís Bonifácio,
De acordo com os próprios textos judaicos, os judeus não eram autóctones. Eles viriam da Ásia Menor, de acordo com o chamamento de Abrãao. Mesmo depois disso, terão migrado para o Egipto e regressado mais tarde. Para não falarmos do exílio na Babilónia...
Este tema interessante deve ser acompanhado de outros em paralelo. Quem são os Palestinianos? De onde vieram? Qual é a sua capital histórica? O seu território? Os seus líderes?
Por outro lado, e colocando o sionismo como um movimento nacionalista do século XIX, então pergunto, mereciam os bulgaros e os gregos a independência? E os italianos? Não se esqueçam que os Israeis foram criados antes de Israel. Onde nasceram os gregos que foram habitar Salónica? Onde nasceram os antepassados dos italianos que vivem em Trento?
Esta discussão, de facto, não terá fim, mas se querem discutir a legitimidade da existência do Estado de Israel, então, façam o mesmo para a maior parte dos Estados Europeus.
NWM
Os pontos que NWM levanta são muito interessantes.
Mas há, do meu ponto de vista, uma diferença fundamental entre os búlgaros e o gregos, por um lado, e os israelitas, por outro.
É que os gregos e os búlgaros que tiveram a independência eram os que já lá estavam naquele território. A independência foi o resultado da vontade da maioria da população.
No caso de Israel, são povos que vieram essencialmente de fora e que, à data da declaração de independência, não constituiam sequer a maioria da população do território. Seria um pouco como se os ucranianos ou os brasileiros residentes em Portugal decidissem hoje declarar a independência da Estremadura de acordo com uma constituição por eles redigida.
Pois é meu caro,
Está ai precisamente o engano.
Os Gregos vieram quase todos da... Turquia.
Já agora, se não haviam Judeus suficientes na, então, Palestina, havia sim mais Judeus em Salónica que Gregos ou Turcos. Aplicamos a mesma regra ou não?
NWM
Salazar devia ter consentido a instalação do estado de Israel no planalto central de Angola, com capital em Nova Lisboa. Com a História mundial teria sido diferente...
"Esse convívio fácil manteve-se até 1948 quando uma comunidade judaica que ainda era minoritária no território decidiu unilateralmente declarar um estado judaico, sem perguntar a opinião da população muçulmana maioritária."
A opinião foi pedida. Foi perguntado se pretendiam a fundação de dois Estados, um judaico e um palestiniano. Do lado judeu a resposta foi positiva. Do outro lado não: um Estado palestiniano sim, mas só isso, nunca convivendo com Israel. Só aí é que os judeus partiram para a declaração unilateral de um estado judaico. Estou a simplificar um pouco, mas a história e mais ou menos esta.
NWM:
Não sabia dessa relação demográfica em Salónica. Mas então, isso só vem reforçar o meu argumento. O estado de Israel deveria ter sido formado em Salónica, onde moravam os judeus e não era preciso expulsar os habitantes anteriores e nunca na Palestina, onde morava um outro povo que foi expulso para dar lugar ao estado de Israel.
CMF:
Há muitas formas de pedir a opinião. De todas as formas, por que haveriam os palestinianos de consentir a formação de um estado judaico num território que ocupavam há centenas de anos e onde ainda eram a população maioritária? Ainda hoje, a "oferta" que fazem ao povo palestiniano de um estado autónomo abarca as zonas mais inóspitas da Palestina, em bantustões territorialmente separados, com todo o género de restrições à sua livre movimentação. Tendo em conta que, há 60 anos, era a terra deles, temos de concordar que não é fácil de engolir.
Terra de quem. Nesse contexto, a terra dos Palestinianos hoje é a Jordânia. Isso também não é fácil de engolir. Já agora para os entendidos em desmitificar a criação do Estado de Israel. Quantos "palestinianos" existiam na Palestina em 1800, 1900 e 1947? Já agora quantos palestinianos existem hoje?
Outro mito. Os Judeus nunca viveram melhor em Marrocos ou noutros países árabes, como foi dito. Vejam a entrevista de Bat Ye'Or na Atlantico de Junho e saibam que os massacres de Judeus em Marrocos no principio do século XIX, no Egipto e no Iraque no século XX.
A questão do país a quem pertence uma dada terra é muito fluída.
Olivença será nossa ou será espanhola? A Alsácia será francesa ou alemã? O Alto Adige será austríaco ou italiano. Até aí estou de acordo com o nosso anónimo. Mas em todas essas disputas, só está em causa a bandeira que flutua sobre o território, não as pessoas que lá vivem. Podem ter de mudar de passaporte, mas não têm de abandonar as suas casas.
Relativamente, à demografia da palestina nos anos que menciona, poderá encontrá-la no seguinte link:
http://en.wikipedia.org/wiki/Palestine#Demographics
onde verá que, desde o século I até 1947, a comunidade judaica era minoritária. Em 1947 ainda estava abaixo de uma relação de 1 para 2, relativamente às comunidades cristã e muçulmana.
Assim, não se põe tanto a questão de saber se aquele território fazia parte da Jordânia ou de um novo país chamado Palestina. O que se põe é a questão da legitimidade de 630 mil judeus declararem unilateralmente um estado confessionalmente judaico num território que é partilhado por um milhão novecentos e setenta mil pessoas. E depois, é claro, põe-se a questão da legitimidade para expulsar de suas casas e do seu país as pessoas que se insurgiram contra essa usurpação e, agora, negar-lhes o direito de regresso a suas casas. Essas pessoas nunca venderam, doaram ou abriram mão da sua propriedade nem, tão-pouco, foram indemnizadas. Vivem há mais de 50 anos em campos de refugiados, em condições sub-humanas, enquanto uma qualquer família judaica beneficia da propriedade que lhes tomou. Isto atenta contra todos os princípios do direito à propriedade e à soberania dos povos. Além de que esses campos de refugiados foram o viveiro onde se criaram os grandes movimentos terroristas dos quais todos nós hoje pagamos o preço não apenas em insegurança mas sobretudo em restrições às nossas liberdades civis.
A questão dos campos de refugiados é muito interessante. Os palestinianos são os únicos refugiados do mundo cuja condição passa de pai para filho. Em todos os outros casos tal nunca aconteceu. Se assim fosse o mundo estaria cheio de refugiados e os Judeus ainda hoje seriam refugiados. Relativamente ao direito de propriedade como sabe muitos das terras árabes foram adquiridas por Judeus. Contudo, e já que falamos de direito à propriedade estou por aguardar as indemnizações que os "pacíficos" países como o Egipto ou o Iraque devem por ter expoliado propriedade judaica.
Relativamente ao viveiro dos movimentos terroristas. Os autores materiais do 11 de Setembro, dos atentados de Londres e de Madrid não vieram de nenhum campo refugiado. Os autores morais são milionários ou intelectuais. Os autores morais dos atentados terroristas em Israel são líderes de grupos religiosos sobretudo em Gaza e no Líbano. Os autores materiais deixaram à sua família fortunas em dólares pelos pagamentos feitos pelo Iraque de Saddam, pela Al-Qaeda e pelo Irão. De facto sofrem muito...
NWM
"Há muitas formas de pedir a opinião."
A tal "opinião" começou a ser pedida, pelos ingleses, ainda antes do início da II Guerra, quando a crescente entrada de judeus na Palestina, fugidos à perseguição nazi, levou os árabes a atacá-los violentamente. Já nessa altura se percebia que os judeus não eram bem-vindos na Palestina (fosse qual fosse a solução), e que nunca sobreviveriam excepto se um Estado diferente fosse criado. Achar que judeus e muçulmanos, no século XX, poderiam viver em paz num estado multiconfessional e democrático é pura ingenuidade desmontada por claríssimo factos históricos. A criação do Estado de Israel foi talvez a única forma de evitar a verdadeira Solução Final, aquela que terminaria o trabalho iniciado pelo nacional-socialismo.
Os campos refugiados palestinianos são, de facto, um caso único no mundo. O que acontece é que os palestinianos são usados como moeda de troca pelas tiranias muçulmanas que os rodeiam e que os aceitam como refugiados mas não os deixam transitar para uma vida normal. Conseguem, com isso, manter uma pressão política sobre o mundo para contrariar a existência de um estado de Israel. Penso que, até aí, eu e NWM estamos de acordo. Até lhe dou de barato que os países árabes e persas limítrofes são de uma hipocrisia gritante e contribuem decididamente para que o problema não se resolva. Mas isso não impede que o problema original, o despoletar de toda esta situação, tenha nascido da imposição artificial de um povo num território ao qual não tinha direito por qualquer interpretação da lei e do direito internacionais.
O problema é mantido pela intransigência dos países árabes que não deixam os palestinianos seguir em frente com as suas vidas? é sim senhor. Mas foi originalmente criado por eles? Isso não foi, por qualquer exagero da imaginação.
O argumento de CMF já compreendo menos bem. Então, se a opinião foi pedida e foi amplamente rejeitada, avança-se na mesma com a transmigração? Então para que se pediu a opinião? É que nesta questão de base é que nasce todo o problema. Israel pode ter toda a razão que se quiser, de 1950 em diante. Pode ser a única democracia do Médio Oriente. Pode ser vítima de um terrorismo cruel. Mas, na sua génese, na sua legitimidade, está ferido de morte, pois nasceu de uma ocupação selvagem e ilegal de um território que não lhe pertencia.
Então vamos a essa ocupação "selvagem" e "ilegal":
"We consider Palestine as part of Arab Syria, as it has never been separated from it at any time. We are connected with it by national, religious, linguistic, natural, economic and geographical bonds." Resolution of the First Congress of Muslim-Christian Associations February 1919, quoted in Porath, Palestinian Arab National Movement: From riot to Rebbellion, pg. 81-82, Frank Cross and Co. London
"It is common knoweledge that Palestine is nothing but southern Syria." Ahmed Shuqeiri, PLO chairman, quoted in Avner Yaniv, PLO (Jerusalem:Israel University Study Group of ME Affairs, August 1974), p.5
"desolate country whose soil is rich enough, but is given over wholly to weeds-a silent morunful expanse....A desolation is here that not even imagination can grace with the pomp of life and action...We never saw a human being on the whole route...There was hardly a tree or a shrub anywhere. Evedn the alive and the cactus, those fast friends of the worthless soil, had almost deserted the country." Mark Twain, The Innocents abroad, 1881 a respeito de uma viagem à Palestina
"The road leading from Gaza to the north was only a summer track suitable for transport by camels and carts... no orange groves, orchards or vineyards were to be seen until one reached Yabna [a Jewish village]...The western part, towards the sea, was almost a desert... The villages were scattered over the area, as owing to the prevalence of malaria, many villages were deserted by their inhabitants." Palestine Royal Commission Report p.233
E para terminar:
"It is absolutely necessary that an entente be made between the Zionists and the Arabs, because the war of words can only do evil. The Zionists are necessary for the country:the money which they will bring, their knoweledge and intelligence, and the industriousness which characterizes them will contribute without doubt to the regeneration of the country" Dawood Barakat, editor Egyptian paper Al-Ahram, quoted in Neville Mandel, "Attempts at an Arab-Zionist Entente:1913-1914"MEStudies (April 1965), p.243
Espero que seja suficiente para "provar" a ocupação ilegítima de deserto que constitui a maior parte do território Israelita.
NWM
"O argumento de CMF já compreendo menos bem. Então, se a opinião foi pedida e foi amplamente rejeitada, avança-se na mesma com a transmigração? Então para que se pediu a opinião?"
Em primeiro lugar, eu entendo a democracia como um meio, e não como um fim. Com a rejeição da criação de dois Estados, com os ataques árabes aos judeus, julgo que só havia duas soluções: ou a criação de um estado judeu, ou a evacuação dos judeus (sim, podes dizer que proporção era de 1 para 2, ou lá o que é, mas a verdade é que havia judeus na Palestina). A terceira alternativa descambaria facilmente no extermínio. Pergunto-te novamente: que solução defenderias? Abandonar os judeus à sua sorte num território que seria imediatamente partilhada pela potências em redor? (Sim, julgas que existiria hoje um Estado Palestino se os ingleses se tivessem ido embora sem esperar pela criação de Israel? Síria, Egipto e afins nunca estiveram interessados na existência da Palestina muçulmana, nunca...)
Quanto a "pedir opinião", podemos recordar também o conflito balcânico, a Bósnia, e Izetbegovic a recusar o plano Cutileiro. No entanto, no final, as coisas não ficaram como estavam. A opinião foi pedida, pois foi, mas no final acabou-se com um plano semelhante ao inicial.
Depois, temos os casos em que "maioria" opina, como no Kosovo. Só que há situações em a "maioria" não pode mandar (nenhuma situação na minha opinião, mas isso é outra história).
Há imensa gente a dizer uma data de coisas mas o Malaquias não entende.
O que ele quer é pôr toda a gente a discutir e a defender ideias para ele, Malacueco, entender.
É um tonto...
...
Mais uma vez, não discordo de ninguém que diga que os países árabes limítrofes têm uma posição absolutamente hipócrita no meio de tudo isto.
Se déssemos como assumida a criação do estado de Israel em 1948, concordo até que a paz tem sido boicotada sistematicamente pela Síria, pelo Irão, pela Arábia Saudita, nalguma medida pela Jordánia e, até 1976, pelo Egipto.
Concordo também com CMF. Se Israel não tivesse sido criado, não existiria provavelmente nenhum estado palestiniano e o território teria sido repartido entre a Jordânia e a Síria e até concordo com NWM que estaria muito menos desenvolvido economicamente, sendo pouco mais do que um deserto inóspito.
Agora, dito tudo isso, o povo muçulmano que lá vivia não tem culpa nenhuma dos vizinhos hipócritas que tem. E ainda que fosse verdade a tese da repartição do território, essa população viveria hoje nas suas terras sob uma bandeira jordana ou síria, numa cultura semelhante à sua própria cultura. Mas, em vez disso, foram expulsos das suas terras. Não lhes foi permitido ficar, sob que tipo de bandeira fosse. A população palestiniana é que é o alvo da minha defesa, não os seus líderes cleptocráticos e muito menos os tiranos árabes em redor. Mesmo hoje, com o território israelita mais do que consolidado, não lhes é permitido o direito de retorno, sob um estado israelita. Portanto, o pequeno palestiniano, o refugiado sem hipóteses de fuga, não pode regressar às suas terras porque Israel não lho permite e não pode seguir com a sua vida, porque os países árabes que o acolheram não lho permitem. Acho que é uma vergonha para a humanidade e uma chaga que nos choca a todos.
Alguém que diga a este anónimo Nuno, que agora, e bem, não assina com três pontos, em singela homenagem às três cagadelas de mosca de que é feito, que vá pastar para o bilhar grande. Desaparece da blogosfera, seu monte de poia.
Queria dizer que o porcalhão do anónimo assina com três pontinhos, que são uma homenagem às cagadelas de mosca de que é feito.
Não gostaria de comentar as ultimas afirmações do dijo...
Todos os comentários anónimos são assinados por NWM, com excepção, por mero lapso, daquele em qu faço referência à BAT YE'OR.
Os três pontos, se quiser, que se venha defender. Contudo, o dijo demonstra aquilo que é: um grande ordinário.
O debate prosseguirá brevemente no blogue da Atlântico.
NWM
Este gfs%&%?$ vem da Palestina?
O três pontinhos escreveu:
Há imensa gente a dizer uma data de coisas mas o Malaquias não entende.
O que ele quer é pôr toda a gente a discutir e a defender ideias para ele, Malacueco, entender.
É um tonto...
Para já, parece verdade. Depois, onde está a ordinarice?
Ou há mais filiados no clube dos tontinhos?
A ordinarice veio do gfs%&%?$.
E com esta acabo.
NWM
Sabem que dia é hoje ? Sexta-feira: dia de IPA ! 'Bora lá publicar o problema de hoje !...
Esse gfs%&%?$ que, por acaso, julgo saber de que animal se trata, podia, ao menos, aparecer para se limpar.
Qual quê? Faz parte do mundo rasteiro...
...
(toma lá três pontinhos!)
hehehehehehe
Nuno, mete os três pontinhos onde couberem... (e mais três).
gfs%&%?$
Sabes para onde te mando, não sabes?
Então que te dê muito gozo...
Como vês, até nem te quero mal.
A propósito, não me parece que seja necessário meter os três de uma só vez, até porque "três" é coisa que já não tens ha muito tempo. Tens ido ao dentista?
...
hehehehe
"Por isso, regressemos a 1948, à proclamação do estado de Israel ou mesmo a finais do Século XIX e ao início do movimento sionista, para analisar a questão mais fundamental do direito de um povo chegar a um território habitado por outro povo, introduzir-se com maior ou menor aceitação nesse território, aumentar os seus números e, um belo, dia, declarar esse território como pátria desse povo que passa a controlar os seus destinos e a sujeitar à sua lei os povos que já ali habitavam antes.
O fundamento da reivindicação israelita tem duas bases: o facto de aquele território ser a sua pátria histórica, de onde foram expulsos há quase dois mil anos pelos romanos, e o facto de, como povo na diáspora, terem sofrido todo o género de inenarráveis perseguições, desde a inquisição católica até ao pesadelo do Holocausto.
São argumentos de peso que não podem ser simplesmente rejeitados como fazem muitas correntes anti-semitas primárias. No entanto, são também argumentos que levantam fortes problemas, do ponto de vista do precedente histórico e do direito internacional."
É a primeira vez que venho visitá-lo. O post chamou-me a atenção. O que lhe posso dizer é que o excerto que seleccionei contém informação histórica totalmente errada, como seja o facto de os judeus alguma vez terem saído da Palestina. Os judeus (como os portugueses)sempre emigraram em grande número e há comunidades judaicas em Roma desde muito antes de Júlio César, a quem, aliás, ajudaram. Foi também através dessas comunidades que os apóstolos iniciaram a divulgação do criastianismo na cidade.
Digamos que o número de israelitas diminuiu na área actualmente coincidente com o seu estado a partir da revolta de Massada, esmagada pelos romanos, devido a um maior fluxo emigratório, acrescido pelas sucessivas invasões e consequentes alterações políticas que se registaram na região. Pode compará-la a uma situação inversa à que se observa no Portugal de hoje, em que há dez milhões de habitantes para cinco milhões que vivem lá fora.
Aliás, ainda há pouco tempo, num documentário sobre os sentimentos mútuos entre palestinianos e israelitas transmitido num canal de televisão (não me lembro qual, era da TVCabo), dois amigos falavam exactamente disso, da amizade que unia as suas famílias desde há cerca de dois séculos. Quem estava ao meu lado, na altura, estranhou o facto, precisamente porque os lugares-comuns politicamente orientados sobre o assunto são o pão nosso de cada dia.
Infelizmente, algumas boas obras sobre o tema, publicadas na década de 60, estão esgotadas no nosso país. Se se interessar, poderei indicar-lhas.
Depois de tudo isto, poderei dizer-lhe que, apesar destes reparos, gostei do seu blog e voltarei a visitá-lo.
Agradeço muito o contributo de Joaquim Simões que veio precisar um pouco mais a discussão mas não penso que altere muito a tese central.
No meu post original, nunca disse que os judeus desapareceram da Palestina. Refiro-me até implicitamente aos que ficaram como uma minoria. Refiro até que as comunidades muçulmanas foram, até 1948, as que melhores relacionamentos tiveram com a comunidade judaica. Foi assim em Marrocos e foi assim na própria palestina. Até o próprio Exodus, de Leon Uris, obra muito apologética do retorno judeu à Palestina, reconhece o bom acolhimento que os primeiros judeus tiveram por parte de palestinianos muçulmanos que já lá viviam.
Mas a minha tese refere-se aos judeus israelitas como nação e não como seres humanos individuais. Não tenho nada contra famílias judaicas optarem por se mudar para a Palestina, comprarem aí legitimaente terras e até um dia, quando fossem uma maioria, optassem por se constituir como estado. O que não posso aceitar é uma entrada forçada de um povo num território e, enquanto ainda minoria, a sua declaração como estado soberano, independentemente da opinião da maioria da população, com a sua consequente expulsão dos terrenos de que eram legítimos proprietários.
Olá, pessoal...
Estamos aqui a discutir o INDISCUTÍVEL! A ninguém foi passada a escritura de terra alguma. Todas as nações que hoje existem demarcaram territórios, ao longo da história da humanidade, de forma arbitrária e primitiva, como o animal irracional que mija no terreno para impor limite, mediante ameaça, para quem ousar transpô-lo. A geopolítica sempre foi e sempre será dinâmica. Os países mudarão suas dimensões, outros desaparecerão, línguas morrerão, etc, etc, tudo isso ao sabor dos INTERESSES ECONÔMICOS. Sempre haverá os comandantes e os comandados, os que mandam e os que obedecem nessa transformação. E, para resignar, consolar, dar esperança, motivar,.. o comando sempre saberá ministrar o ópio, o panis et circensis que alienam e fantasiam, extravasando a dor da realidade, um dos mais poderosos: a religião. Desde a pré-história aos dias de hoje, milhares e milhares de civilizações com suas infindáveis religiões premonizaram, igualmente, incontáveis fins do mundo com base em seus enigmáticos livros incontestáveis, como é todo livro religioso, com os seus Jesuses, Maomés, Alás, Oxalás, Brahmas,Moiséses, etc, etc... Eu fico me perguntando pra onde iriam todos eles quando um meteoro resolver nos "visitar". Vou sintetizar: a humanidade precisa dar um salto de qualidade em sua concepção de realidade que terá implicação fundamental na continuação da sua existência. Estamos destruindo a vida no planeta com os nossos maus hábitos que só nos levam a toda decadência que já começamos a presenciar. Uma guerra, hoje, facilmente poderá ganhar proporções mundiais, recheada de arsenais altamente destrutivos (bombas nucleares, de nêutrons, biológicas, químicas) que com certeza cruzarão a fronteira da SUSTENTABILIDADE da vida na terra, em caráter IRREVERSÍVEL, por NADA. Nada que valha a pena! Crenças, ganância, preconceitos, etc, etc, ...
Ao contrário dos drusos e outros povos citados acima Israel foi um estado soberano com governo e tudo que tem direito. Esses povos sempre foram nomades esses apenas viviam de terra em terra ao contrário dos judeus que sempre se esforçaram para voltar ao mesmo lugar.
Concordo em parte. Eles não foram bem expulsos eles foram entimados pelo egito à se retirar. Isso pq Israel "seria aniquilado" na guerra dos 6 dias, e não queriam vítimas árabes. 2 milhões na época e os que ficaram foi sim lhes oferecido cidadania israelense (cuja minoria pequenina aceitou). Israel quer toda a palestina por isso avança nos acentamentos e quer uma maioria judaica por temer a sharia (leí islâmica, anti judaica, anti democrática, anti tudo que é cool ou livre ou igual aos gêneros, aos gays ao escambal que recentemente 80% dos "palestinos" são a favor) mas certamente se tivessem toda a região da "palestina" começariam a desenvolver a minoria árabe tal como a residente no Estado Judaico De Israel.
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