Portas e a gripe das 24 horas
Confesso que quando, em 2002, vi Paulo Portas a ir para o governo fiquei preocupado.
Mais preocupado fiquei, dois anos depois, quando o vi regressar ao governo de mão dada com Pedro Santana Lopes.
Poderia dizer-se "Demagogia ao poder" e fiquei a duvidar seriamente dos méritos do nosso sistema político. Pensei mesmo que a doença era grave.
Portas e PSL tiveram um percurso político bastante semelhante. Ambos pensaram iniciar as suas carreiras pela destruição da dos outros. Portas espalhou o seu veneno pelas páginas do Independente, atacou tudo e todos e não deixou pedra sobre pedra. Santana Lopes andou a percorrer congresso após congresso do PSD, tentando estragar as vitórias de um após outro líder, na esperança de um dia ser líder por exclusão de partes.
No mundo de comunicação social sedenta de tiragens e audiências, a estratégia de ambos consegue excelentes resultados iniciais, na fase em que é necessário passar de ilustre desconhecido a participante na vida política. As cenas de faca e alguidar abrem bem os telejornais e fazem excelentes capas nos tablóides, pelo que permitem uma ascenção inicial muito rápida na vida política.
Nesse aspecto, como táctica de entrada no organismo, assemelham-se às famosas gripes de 24 horas, que entram de rompante no organismo e parecem tomar conta de tudo, dos pulmões ao pingo no nariz.
O mal das gripes de 24 horas, do ponto de vista dos vírus, é que a sua enorme rapidez de contágio também faz com que a reacção do organismo seja imediata e, depois de não ter mais por onde se espalhar, o vírus é rapidamente debelado.
Algo de semelhante se passou no último ciclo político com os nossos dois demagogos. A mesma estratégia destrutiva que os catapulta para o topo precipita também a sua queda. Não só a sua fase de contágio cria inúmeros anticorpos no sistema político (aquelas primeiras páginas do Independente deixaram rancores profundos) como, pelo facto, de não haver nenhuma base construtiva os impede de se afirmarem como protagonistas de pleno direito. Chegados à ribalta, os nossos demagogos têm duas opções: ou se tentam tornar políticos "sérios", numa cambalhota de personalidade pouco convicente - e, nesse caso, perdem os favores dos meios de comunicação social por se tornarem chatos e cinzentos - ou mantêm a sua postura de Átilas e nunca podem aspirar a uma posição de governo, pois um governo tem de construir e não destruir. Não serve de nada ter um primeiro-ministro cuja função é descascar na oposição ou nos outros ministros.
Assim, a infecção rápida provocada por quem ascendeu numa plataforma anti-construtiva está na génese da sua também rápida cura.
Os governos de Portas e Santana Lopes enrodilharam-se nas suas próprias contradições internas e foram indo de vitória em vitória até à derrota final.
Com Portas II à frente do CDS, tivemos a experiência engraçada de um vírus de 24 horas que volta a tentar a sua sorte no mesmo organismo. Felizmente, o sistema imunitário é uma coisa maravilhosa e não deixa normalmente uma infecção declarar-se segunda vez, pois criou entretanto bons anticorpos. O vírus Portas aparentemente não conseguiu sofrer mutações suficientes nestes dois anos no deserto para poder ludibriar o sistema imunitário. Tentará, sem dúvida, sofrer ainda mais mutações, para ver se consegue entrar. Penso que já não conseguirá. O sistema imunitário é uma coisa maravilhosa e o nosso sistema político também nos vai conseguindo surpreender pela positiva.
Mais preocupado fiquei, dois anos depois, quando o vi regressar ao governo de mão dada com Pedro Santana Lopes.
Poderia dizer-se "Demagogia ao poder" e fiquei a duvidar seriamente dos méritos do nosso sistema político. Pensei mesmo que a doença era grave.
Portas e PSL tiveram um percurso político bastante semelhante. Ambos pensaram iniciar as suas carreiras pela destruição da dos outros. Portas espalhou o seu veneno pelas páginas do Independente, atacou tudo e todos e não deixou pedra sobre pedra. Santana Lopes andou a percorrer congresso após congresso do PSD, tentando estragar as vitórias de um após outro líder, na esperança de um dia ser líder por exclusão de partes.
No mundo de comunicação social sedenta de tiragens e audiências, a estratégia de ambos consegue excelentes resultados iniciais, na fase em que é necessário passar de ilustre desconhecido a participante na vida política. As cenas de faca e alguidar abrem bem os telejornais e fazem excelentes capas nos tablóides, pelo que permitem uma ascenção inicial muito rápida na vida política.
Nesse aspecto, como táctica de entrada no organismo, assemelham-se às famosas gripes de 24 horas, que entram de rompante no organismo e parecem tomar conta de tudo, dos pulmões ao pingo no nariz.
O mal das gripes de 24 horas, do ponto de vista dos vírus, é que a sua enorme rapidez de contágio também faz com que a reacção do organismo seja imediata e, depois de não ter mais por onde se espalhar, o vírus é rapidamente debelado.
Algo de semelhante se passou no último ciclo político com os nossos dois demagogos. A mesma estratégia destrutiva que os catapulta para o topo precipita também a sua queda. Não só a sua fase de contágio cria inúmeros anticorpos no sistema político (aquelas primeiras páginas do Independente deixaram rancores profundos) como, pelo facto, de não haver nenhuma base construtiva os impede de se afirmarem como protagonistas de pleno direito. Chegados à ribalta, os nossos demagogos têm duas opções: ou se tentam tornar políticos "sérios", numa cambalhota de personalidade pouco convicente - e, nesse caso, perdem os favores dos meios de comunicação social por se tornarem chatos e cinzentos - ou mantêm a sua postura de Átilas e nunca podem aspirar a uma posição de governo, pois um governo tem de construir e não destruir. Não serve de nada ter um primeiro-ministro cuja função é descascar na oposição ou nos outros ministros.
Assim, a infecção rápida provocada por quem ascendeu numa plataforma anti-construtiva está na génese da sua também rápida cura.
Os governos de Portas e Santana Lopes enrodilharam-se nas suas próprias contradições internas e foram indo de vitória em vitória até à derrota final.
Com Portas II à frente do CDS, tivemos a experiência engraçada de um vírus de 24 horas que volta a tentar a sua sorte no mesmo organismo. Felizmente, o sistema imunitário é uma coisa maravilhosa e não deixa normalmente uma infecção declarar-se segunda vez, pois criou entretanto bons anticorpos. O vírus Portas aparentemente não conseguiu sofrer mutações suficientes nestes dois anos no deserto para poder ludibriar o sistema imunitário. Tentará, sem dúvida, sofrer ainda mais mutações, para ver se consegue entrar. Penso que já não conseguirá. O sistema imunitário é uma coisa maravilhosa e o nosso sistema político também nos vai conseguindo surpreender pela positiva.
2 Comments:
Clareza meridiana. Este post dá-me esperança... Parabéns.
Gostava de ver todos os votantes com um sistema imunitário mais esclarecido.
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