"Missão Vitalícia"
"No dia 2 de Julho de 1932 morreu, com apenas 42 anos, o último Rei de Portugal. No exílio inglês, rodeado dos seus livros e mergulhado na mais doída saudade, dos amigos e, sobretudo, da sua Pátria Portuguesa. Tendo subido inesperadamente ao Trono, em 1908, depois do bárbaro assassinato do Rei Dom Carlos, seu Pai, e do seu irmão mais velho, o Príncipe Real, Dom Luís Filipe, o jovem Rei assumiu a espinhosa missão de tentar contrariar uma decadência que se tornava, pela inépcia e voracidade de uma medíocre classe política, cada vez mais aguda. Procurou, pelo magnetismo que a sua condição permitia, reconciliar as pessoas com o Estado. Tentou, como se esperaria de um chefe de Estado na flor da juventude, transportar, praticamente sozinho, o andor de uma Pátria dormente (e doente), para o altar da modernidade. Poucos terão cultivado, de forma afinal tão simples, o equilíbrio entre um Passado glorioso, posto que irressuscitável, e um Futuro de esperança fundado no que de melhor poderia oferecer a tradição das seculares instituições portuguesas. Interrompido, de direito e de facto, este esforço régio, viu-se o nosso País rebaixado à categoria de palco da mais despudorada luta de ambições inconfessadas, ainda que pretensamente generosas. E o Rei, condenado a um penoso exílio (que de início não queria) consumia-se na dor de quem se sabia impotente para travar os apetites pantagruélicos dos aventureiros amorais que enxameavam na cena política portuguesa de então. É tocante a correspondência deste e doutros Reis (ou de outros membros da família real) exilados. São páginas marcantes que mostram que neles a nobreza de carácter não permite que floresçam sentimentos mesquinhos e rancorosos. Só aqueles que acompanham quem sofre, preocupadamente, com os destinos do País. E os que mordem quem respira saudade. No silêncio que a distância tornava inevitável, tudo faziam para ajudar Portugal e os Portugueses. Este espírito de entrega, de dedicação, é próprio dos que abraçam a chefia de Estado com a certeza de que têm de servir, com elevação, o País e as pessoas que nele vivem ou que por ele suspiram. A missão que assumem os soberanos é ditada muito mais pela consciência do que representam do que pela circunstância do que são e é por isso que apenas cessa quando baixam à sepultura. Não digo que a república não possa conhecer chefes de Estado honrados e respeitáveis. Temo, porém, que só a Monarquia possa gerar uma genuína representação simbólica, capaz de agregar, sem quaisquer reservas mentais, o que fomos e o que queremos ser, no respeito pela contingência e pela diversidade do que somos. É este o trunfo maior da Instituição Real. E continuarmos a abdicar da Coroa é condenar o Estado a esta escusada renúncia."
(texto do Nuno Pombo, publicado no Semanário do passado dia 13/07)
12 Comments:
Excelente texto.
Um excelente texto, de facto. Só tem uma pequena falha lógica: os portugueses não querem ter rei e não vale a pena continuar a somar argumentos quando a mais do que esmagadora maioria dos portugueses gosta do sistema republicano e não põe sequer a hipótese de trocar.
Caro José Luís Malaquias,
A lógica da falha apontada, falha apenas num ponto que, esse sim, é lógico. Nunca ninguém perguntou aos portugueses o que é que queriam, nem em 1910 nem agora...
A "esmagadora maioria" como diz nunca foi ouvida... Não é apenas dos sound bytes dos jornais, consumidos pela ética republicana e maçónica vigente no nosso país, que se faz a opinião do povo... talvez se o deixassem falar ouvissem algumas verdades e deixavam assim de ter taxas de participação nas eleições a cair a pique...
Os políticos pensam que sabem o que o povo quer, mas a prova é que o povo está a ficar cada vez mais farto das intrigas políticas no nosso país...
Muito bom comentário este último.
Fiquei espantado: finalmente o Pombo saiuu-se com um texto decente.
Quanto ao Malaquias, continua o mesmo cabotino.
...
Não fiquei espantado: ainda não foi desta que do jerico comentador se escapuliu um comentário decente.
Eheheheh
Permito-me discordar do primeiro anónimo. Em democracia qualquer ideia pode ser posta à votação. Para isso servem os partidos. E os monárquicos, de facto, tentaram-no com a criação do PPM.
Simplesmente, os resultados foram de tal modo desastrosos que hoje os monárquicos renegam o PPM e arranjam desculpas como: A monarquia não se sujeita a eleições. A verdade é que a expressão do monarquismo em Portugal é microscópica. Se não acreditam, submetam as vossas ideias à votação em eleições legislativas democráticas e eu engulo o meu chapéu se obtiverem sequer 5% dos votos.
Caro José Luis Malaquias,
Pode começar a engolir o seu chapéu, porque na democrática república portuguesa não se pode sujeitar a monarquia a eleições...
Pasme-se, é inconstitucional!
Caro Pestana,
Por muito desgosto que isso lhe dê, não me vejo a sofrer de indigestões assim tão cedo. Eu disse que comia o chapéu no dia em que 5% da população manifestasse inequivocamente preferências monárquicas e não quando o meu caro amigo entendesse que não era possível fazer essa pergunta.
E, no entanto, permita-me discordar. Sem ser um constitucionalista, sei que o sistema constitucional português tem muitas formas de fazermos avançar as ideias em que acreditamos. O PPM, um partido com que sempre simpatizei para lá das suas causas monárquicas, é um perfeito exemplo de como se pode tentar defender ideais monárquicos no seio do sistema constitucional português. Portanto, mesmo sem referendarmos a questão monárquica, temos maneiras de auscultar a população portuguesa sobre se simpatizariam com um tal sistema. E o facto é que ninguém consegue mobilizar politicamente os portugueses para essa questão. Ora, a crer nos nossos monárquicos, os portugueses estão secretamente a ansiar pelo regresso da ordem monárquica e só uma mordaça os impede de exprimir essa preferência. Tal não é claramente o caso. A monarquia simplesmente não tem seguidores de relevo em Portugal e não passa de um fenómeno das franjas aristocrato-saudosistas da população.
Meu Caro,
A Monarquia não é uma simples política, e está longe de poder ser sufragada numa qualquer eleição legislativa. Não estamos a falar de chegar mais à esquerda ou mais à direita. É isso que querem atirar aos olhos das pessoas, mas é precisamente esse o erro de pensamento que distingue a Monarquia de um simples ideal comunismo, fascista, social democrata ou democrata cristão. A Monarquia é uma forma de organização do Estado, com a qual se podem e devem compatibilizar as várias formas de governo e de ideologias políticas. Tal como eu disse no comentário acima, a Monarquia, a forma Monárquica do estado, não se pode, nem se deve, submeter a eleições legislativas, nem o PPM é exemplo disso. A grande maioria dos monárquicos não se revê no PPM, nem nunca se reviu, há monárquicos mais de esquerda como os há mais de direita. Daí não existirem "maneiras de auscultar a população portuguesa", no actual quadro constitucional português. A única forma seria alterar a constituição nesse sentido, prevendo essa possibilidade. Se bem que a maioria dos constitucionalistas portugueses defende que a forma republicana de estado está de tal forma identificada com a Constituição que, para efectuar tal alteração, não basta uma simples revisão, mas sim uma nova constituição. Enfim, como vê não é assim tão fácil. Só mais uma coisa, tal como eu não voto no PPM e sou monárquico, a grande maioria do povo pode simpatizar com a monarquia e, se calhar nem vai votar. Também admito que talvez possa não haver uma maioria monárquica em Portugal (o que nunca saberemos), mas uma coisa lhe garanto, em 1910 também não havia uma republicana.
TPestana disse... at 8/06/2007 9:47 AM
Meu caro,
Não vale a pena responder ao Malaquias Malacueco - ele sabe tudo porque é definitivamente parvo...
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Olha, o pateta do Nuno anónimo voltou para mal dos frequentadores deste espaço. És um merdas, sabias ó palhaço de merda?
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