A Marcha dos Pinguins
Um dos fenómenos mais interessantes da vida natural da Grande Lisboa é a migração diária dos pinguins entre o Tagus Park e o Oeiras Parque. Todos os dias, entre as 13H e as 15H, centenas ou mesmo milhares de pinguins deslocam-se entre estes dois parques naturais, no cumprimento de um ritual ancestral, guiados pelo instinto de sobrevivência inscrito nos seus genes. Se no Tagus desenvolvem as tarefas que a sua organização social complexa determinou para cada um, no Oeiras Parque vão recobrar energias e entregar-se a pequenos prazeres que os fazem quase parecer seres humanos dotados de discernimento e livre arbítrio. Vale a pena ficar a observar. Estes simpáticos animais convivem extraordinariamente bem com a presença humana, pelo que não é sequer necessário construir abrigos de observação.
Tudo começa no restaurante. Os pinguins chegam habitualmente, embora nem sempre, separados por género. Os machos são muito mais fáceis de identificar pelas suas roupagens pretas e brancas, distinguindo-se apenas pela penugem sedosa do peito, a «gravata», que pode ser rosa, verde-alface ou azul-bébé. Esta penugem, curiosamente, vai sofrendo de década para década pequenas mutações genéticas ainda não explicadas pela ciência. É assim que, por exemplo, as cornucópias que ostentavam em tempos desapareceram quase por completo, bem como as bolinhas (pintas), e sendo as riscas cada vez menos observadas. As fêmeas, embora tenham um ar de espécie, variam muito mais na sua aparência física, ostentando cores muito vistosas e deslocando-se, também elas em grupos do mesmo sexo, menos numerosos, mas mais ruidosos.
Chegados portanto ao restaurante, os machos realizam diversos rituais característicos, como a escolha dos vinhos ou a discussão das duas migrações anuais de longo curso, a de Inverno, em direcção à Sierra Nevada, e a de Verão, para destinos paradisíacos nas Antilhas, como a Tailândia. Acabado o repasto, segue-se o ritual mais curioso, que é conhecido por Exploração de Gadgets. Percorrendo as montras das lojas das várias especialidades, em cujo reflexo aproveitam para ajeitar a penugem, analisam a oferta existente e adquirem telemóveis, charutos, iPods, máquinas fotográficas digitais, produtos de beleza masculina, etc. (Os pinguins de menor estatuto social limitam-se a ir ao hipermercado abastecer-se de DVDs.)
De seguida, regressam ao Tagus Park, onde se dedicam às exaltantes tarefas necessárias à sobrevivência do grupo, como por exemplo analisar os gráficos de vendas de telemóveis, charutos, iPods, máquinas fotográficas digitais, produtos de beleza masculina, etc, nos intervalos do Solitaire ou da consulta à carteira de acções. À noite, regressam aos ninhos, onde saúdam distraidamente as companheiras, antes de se dedicarem ao desfrute dos gadgets adquiridos à hora do almoço, na migração diária entre Parques. Este tempo de qualidade toma-lhes longas horas, razão que muitos apontam para as baixas taxas de reprodução da espécie, que se cifra ultimamente em um ou dois pintos por vida fértil. Se puder, desloque-se ao Oeiras Parque à hora da Grande Marcha dos Pinguins. Descobrirá que a sua viagem não será em vão.
Tudo começa no restaurante. Os pinguins chegam habitualmente, embora nem sempre, separados por género. Os machos são muito mais fáceis de identificar pelas suas roupagens pretas e brancas, distinguindo-se apenas pela penugem sedosa do peito, a «gravata», que pode ser rosa, verde-alface ou azul-bébé. Esta penugem, curiosamente, vai sofrendo de década para década pequenas mutações genéticas ainda não explicadas pela ciência. É assim que, por exemplo, as cornucópias que ostentavam em tempos desapareceram quase por completo, bem como as bolinhas (pintas), e sendo as riscas cada vez menos observadas. As fêmeas, embora tenham um ar de espécie, variam muito mais na sua aparência física, ostentando cores muito vistosas e deslocando-se, também elas em grupos do mesmo sexo, menos numerosos, mas mais ruidosos.
Chegados portanto ao restaurante, os machos realizam diversos rituais característicos, como a escolha dos vinhos ou a discussão das duas migrações anuais de longo curso, a de Inverno, em direcção à Sierra Nevada, e a de Verão, para destinos paradisíacos nas Antilhas, como a Tailândia. Acabado o repasto, segue-se o ritual mais curioso, que é conhecido por Exploração de Gadgets. Percorrendo as montras das lojas das várias especialidades, em cujo reflexo aproveitam para ajeitar a penugem, analisam a oferta existente e adquirem telemóveis, charutos, iPods, máquinas fotográficas digitais, produtos de beleza masculina, etc. (Os pinguins de menor estatuto social limitam-se a ir ao hipermercado abastecer-se de DVDs.)
De seguida, regressam ao Tagus Park, onde se dedicam às exaltantes tarefas necessárias à sobrevivência do grupo, como por exemplo analisar os gráficos de vendas de telemóveis, charutos, iPods, máquinas fotográficas digitais, produtos de beleza masculina, etc, nos intervalos do Solitaire ou da consulta à carteira de acções. À noite, regressam aos ninhos, onde saúdam distraidamente as companheiras, antes de se dedicarem ao desfrute dos gadgets adquiridos à hora do almoço, na migração diária entre Parques. Este tempo de qualidade toma-lhes longas horas, razão que muitos apontam para as baixas taxas de reprodução da espécie, que se cifra ultimamente em um ou dois pintos por vida fértil. Se puder, desloque-se ao Oeiras Parque à hora da Grande Marcha dos Pinguins. Descobrirá que a sua viagem não será em vão.
29 Comments:
Este post é, antes de mais e nomeadamente, fabuloso
Esta vida de pinguim não é fácil...
Espectacular, caro Jorge! Todos temos um pouco de pinguins... Eu sou duma tribo das Amoreiras... Abraço,
joão távora,
fala por ti...
Sim, Jorge
Deve ser mais ou menos isso :)
Clap,clap, clap....muito bom!
fantástico, hilariante, na forma e no conteúdo!
Uma apresentação muito , sui generis de comparação!
Que criaturas peculiares são os pinguins. Felizmente nós, os humanos, somos completamente diferentes.
Marta disse... at 7/11/2007 8:38 PM
Ah somos?
hehehehe
Nuno
Brigado a todos
Olha, o Nuno voltou.... que pena!
Não voltei nada - é outro Nuno...
Sorte de quem não tem de viver a marcha dos pinguins. Mas há pinguins que gostam da sua marcha. O que vale é que há lugar para tudo e para todos.
Caro Jorge . Folgo em ver-te, de novo, na observação da Natureza, area em qué ès seguramente um dos "Richards Attendburgos" mais notáveis da nossa geração. Espero continuar a ver-te em trabalhos deste calibre. Sugestão:Que tal um artigo sobre a competição pelo Ninho da Sete Colinas, que tem atraido espécimes tão curiosos.Um abraço
PMR
No melhor espirito de correcção fraterna, acho que o Paulo confundiu os irmãos, Richard é o actor e cineasta, David o naturalista e homem de televisão.
O Paulo confunde os irmãos, lactu sensu, com o esplendor do seu name-dropping. E sim, Paulo, estou a preparar um artigo com uma previsão dos resultados das eleições de domingo, que espero postar o mais tardar segunda-feira.
Será então um verdadeiro prognóstico!
Não sei, Marta, sou agnóstico...
E a previsão de resultados não é uma questão de fé?
«Marta, Marta, andas inquieta com muitas coisas, mas uma só é essencial!» Lc 10 qualquer coisa
"Mariazinha fui
Em Marta me tornei
Vou daquilo que fui
Para aquilo que serei"
José Mário Branco, Aqui dentro de casa
Tinha graça responder com outra do Zé Mário Branco, com a mesma keyword...
Aparece por aqui um Nuno qualquer que não sou eu.
Parece que o sujeito é da "casa" e, sendo, que se identifique.
Por mim, continuo co o meu direito de ser só Nuno e tenho uma imensa vontade de o mandar pastar onde come a mãezinha.
Vai-te embora melga!
olha parece que, agora sim, o nuno voltou... que pena.
Jorge,
Pontapé na língua é também esse o que deste: lactu sensu??? ou lato sensu?
Lato sensu é, de facto a única entrada que encontro no meu velhinho Porto Editora, o que me deixa a única saída de me apresentar perante o meu amigo/a (tu? que m..., porquê o anonimato? Eu não sou inspector da DREN!) qual Egas Moniz de corda ao pescoço. Para Pontapé na Língua,por outro lado, também acho que não tem classe, considerando as pérolas que a Marta tem trazido. Resta-me a consolação de o Google dar vários lactu sensu. Haverá dupla grafia? Confesso: I don't give a s... Mas obrigado por me iluminar/es, lato sensu.
Também , o António Lobo Antunes , se tem dedicado ao estudo dos pinguins ( desde há longa data ) ,nas suas magnificas crónicas. Eu como sou provinciana , no meu " habitat natural " , ainda não existe " vida natural ".....Mas....não resisto a umas pequenas migrações , à capital. Enquanto " stôra " , tenho a obrigação de frequentar espaços , como a Bertrand , Fnac...nada mais me levaria , a um local desses!!! Obviamente.
Caro Jorge
Obrigada pelas palavras. Está na sua vez de dar mais um Pontapé na Língua... ou na gramática, se preferir.
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