terça-feira, junho 12, 2007

Patetas e estúpidos

Corre por aí certa indignação pelo facto de haver quem se insurja contra a trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional. Claro que esta indignação é apenas uma patética manifestação de um republicanismo serôdio. Os acólitos desta decrépita república, e são muitos e apresentam-se bem nutridos, estão-se relativamente nas tintas para o Aquilino ou para o que ele terá debitado. A ideia de mudar de poiso os ossinhos do escritor nem terá sido deles.
O que eles não levam à paciência é haver quem exerça o outrora tão exaltado direito à indignação para outro fim que não seja o de mandar a polícia à merda, o de mostrar o cu a ministros ou de passar portagens sem pagar. O que não toleram estes patetas é haver quem se mexa para pôr fim à comédia com que a cambada do costume se diverte, como se o País fosse o seu clube recreativo. O que não aguentam estas criaturas, no fundo, é que haja quem não queira engolir o que eles tão pacientemente ruminam.
Os balofos iconoclastas da situação até podem ter umas vagas luzes sobre quem foi o Aquilino. E até podem ter lido um livrinho ou outro da sua autoria. Não fazem é a mínima ideia do que seja um Panteão Nacional. E não se pense que são só os pretensos revolucionários de esquerda que mergulham nas tépidas águas deste tipo de confrangedora ignorância. Também temos uma direita jacobina que afina pela mesma batuta e estuda pela mesma sebenta. E essa direita é mais estúpida ainda do que a mais estúpida das direitas.

44 Comments:

Blogger Daniel Oliveira said...

Contou o número de insultos, personalizados, que tem só neste post? Como não faço ideia quem você seja (e parece-me que não perco grande coisa), não levo a mal. Suponho que será um adolescente uma crise de afirmação. Só assim se compreenderia.

Passar bem.
Uma coisa é certa. Pelo menos na sofisticação intelectual, os monárquicos portugueses têm o rei que merecem.

6/13/2007 1:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Nuno Pombo,
Veja se entende que a questão é muito simples: os motivos invocados na petição não são suficientes para afastar Aquilino do Panteão. Se houver bons motivos, e desconheço se os há ou não, apresentem-nos. Se forem assim tão graves as ofensas de Aquilino à Nação, se realmente tiver sido condenado, insisto julgado e condenado, por algum crime terrível, se a sua obra não tem valor suficiente para merecer tamanha honra, pois então apresente os seus argumentos e cá estarei para o ouvir. Mas, pedir para se assinar uma petição daquelas? Tenha é muito juízinho nessa cabecinha, homem! Chame-me ignorante por não saber determinados factos da História Portuguesa, da vida do Aquilino e dos seus hediondos actos, até posso aceitar, mas não me faça de parvo, pedindo-me para assinar uma petição com tão imberbes argumentos.

6/13/2007 4:11 da manhã  
Blogger José Luís Malaquias said...

Cresci com o Romance da Raposa, evoluí para o Malhadinhas, fiquei de respiração suspensa a ler o Quando os Lobos Uivam que, para quem estiver atento, tem lá a explicação para tantos incêndios que temos hoje em Portugal, deliciei-me com a inocência de Cinco Reis de Gente mas, sobretudo, consolei-me sozinho num Natal, a 16 mil quilómetros de casa, a ler a História do Menino Deus.

Sinceramente, pouco me interessa se ele era republicano, monárquico, de esquerda ou de direita. Se era ateu ou crente, se era apoiante ou opositor do regime. Como afirmou Salazar, "É um grande escritor". O Panteão é o local onde o país homenageia os seus grandes homens. E não conheço ninguém, por mais empedernidamente de direita, que me consiga ler o Malhadinhas sem soltar umas sinceras gargalhadas, apreciar o génio da obra e reconhecer naquele humilde mercador a centelha do que é ser português. É para pessoas como Aquilino que existem Panteões Nacionais.

Não gosto de reis nem de raínhas mas ninguém me ouvirá jamais criticar o génio de um D. João I ou D. João II. Estou, sobretudo, convicto de que o Infante D. Henrique foi o grande impulsionador do único genuíno Plano Tecnológico que tivemos em Portugal.

Não deixo a minha opinião sobre esses grandes vultos da história ser toldada pelas minha convicções republicanas.

Mas, sobretudo, não aceito que se tente passar como crime nacional ser defensor do regime político que está consagrado na nossa constituição e expresso no nome oficial do nosso país: "República Portuguesa".

Já agora, vamos também marzupiar esse perigoso republicano que foi Egas Moniz, que até ousou integrar um governo da Primeira República?

6/13/2007 5:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Aquilino Ribeiro, grande escritor sem dúvida.
Perante o que se conhece da sua vida é uma ofensa para o povo Português colocá-lo no Panteão.
E se tal sucedesse, teria de haver obras de grande monta para uma ampliação que não se justifica.
Já agora, aonde está o dinheirito para tantas fantasias?

.
Nuno

6/13/2007 6:32 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

Caro Nuno:

Por amor de Deus! Quero lá saber do que foi a vida pessoal ou cívica ou política do Aquilino! Se admirasse a escrita de Saramago - que não admiro - pouco se me daria ter sido saneador-geral no DN durante o PREC! A obra tem de valer por si, e só a obra pode levar um artista ao Panteão...
O José Luís Malaquias enunciou exemplarmente tudo o que é admirável em Aquilino. Acrescento-lhe uma obra, «Terras do Demo», crónica do atavismo luso, e um atributo, a originalidade. Insisto. Porque é que um artista vai para o Panteão? Não é pela obra? (E já estou a admitir que haja alguma coisa de censurável na vida de Aqulino.)
Não estarás tu a alinhar no jogo ideológico, no «Quem não é por nós...»?

6/13/2007 9:54 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Outros curiosos pormenores deste Sr Aquilino Ribeiro :

«(...) Em 1931 vai viver para a Galiza mas a partir de 1932, já com 47 anos, permanece no país e recebe reconhecimento pelas suas obras literárias. Em 1960 é proposto para o Prémio Nobel da Literatura. Tendo a família de Sofia Mello Breyner, próxima do Paço, documentação sobre o regicídio, a própria Sofia disse em comentário a um livro escrito por JMR que "o Aquilino esteve no Terreiro do Paço com um revólver e tal facto fora do conhecimento internacional mas a família Breyner decidiu não incluir essa informação no livro de memórias do avô… E depois rematou: - «Porque é que acha que nunca lhe deram o Nobel? Eles sabiam que ele participou no Regicídio e a sociedade não dá prémios Nobel a assassinos».
(In Portas do Cerco)

6/13/2007 11:33 da manhã  
Blogger Nuno Pombo said...

Caro Daniel Oliveira,
Por acaso pensa que o insulto só dói quando nos atinge a nós próprios? O que o Daniel queria era elogiar os que assinaram a dita petição quando lhes chamou patéticos, não? O que queria o CAA era afagar os que ele apelidou de estúpidos? Não me ofendi, mas folgo em saber que o facto de ter insinuado que era um pretenso revolucionário de esquerda o incomodou.
Abraço

6/13/2007 12:29 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Lembra-se disto, Nuno ? (Acho que o Nuno que escreveu sobre o assunto):
Afinal, idosa pagou creme de 3,99 euros
2007/06/13 | 13:11
Estava a ser julgada por furto. Processo já custou centenas de euros

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=820547&div_id=291

Pobre de quem é pobre.

6/13/2007 2:22 da tarde  
Blogger Nuno Pombo said...

Querida Isabel,
Vou ler com toda a atenção a notícia que fez o favor de enviar e agradeço ter-se lembrado.
Como se recordará, apenas falei, na altura, "a propósito" desse caso e não do processo em concreto (que não conhecia nem conheço). Apenas procurei contrariar a ideia (e insisto nisso), por perigosa, de que a reacção punitiva do furto apenas se pode admitir para situações em que o furtado tem valor superior a uma determinada fasquia. E também não concordo, por demagógica, com a comparação do valor do que é furtado com os custos do processo. Foi só isso. Concordo quando diz "pobres de quem é pobre", mas não procuremos aliviar as agruras dessa condição pela fixação de diferentes regras penais.
Obrigado uma vez mais.

6/13/2007 4:24 da tarde  
Blogger Nuno Pombo said...

Caros Zé Luís e Jorge Lima,
É diferente, de facto, discordar "convosco". E acontece amiúde, mas sempre com a elegância de quem pretende apenas discutir diferentes perspectivas.
Deixem-me, por comodidade, dirigir-me a ambos. Não pus em causa, nem ponho, os méritos literários do Aquilino. Também tive o gosto de ler boa parte dos livros a que se referem e não devo ter sentido menos agrado. Reconheço-lhe o traço de grande escritor. Acho é que o Panteão Nacional não é o talhão das letras. Que ergam um e que nele se depositem os restos mortais dos nossos maiores escritores. Nada contra. Mas um Panteão Nacional, a meus olhos, é mais do que isso. Não é por ele ter sido republicano que me oponho à dita trasladação. É por me parecer que não merecem essa honra aqueles que, sendo homens dos nossos tempos, entenderam legítima a utilização, como argumento político, da eliminação física dos adversários. Isso fere a minha sensibilidade cívica, desculpem, mas não diminui a qualidade literária do Aquilino, entendamos. Mas notem que, se bem leram o que escrevi, notarão que não me opunha tanto à ideia de trasladarem os ossos do escritor. Cada um pensa como pensa... O que me incomoda é que os moralistas do costume, que usam e abusam do que entendem ser as mais amplas liberdades, venham apodar de patéticos e estúpidos, com sistematicidade, os que não pensam da mesma maneira que eles. Foi isto. Abraços,

6/13/2007 4:42 da tarde  
Blogger Nuno Pombo said...

Caro Daniel Oliveira,
Esqueci-me de lhe dizer outra coisa, se me permite. É verdade que sou um adolescente numa crise. Saiba que recebo as suas atenções como carinhos de um nonagenário que se julga no fulgor do seu pensamento, sobretudo por sabê-lo incapaz de insultar quem quer que seja...
E, insulto por insulto, o que é que quer dizer quando fala em sofisticação intelectual e do rei que merecemos (como se ele viesse a propósito da nossa conversa)?
Sei bem, pelos seus escritos, que lhe sobra "sofisticação intelectual". Ainda bem que desse mal, não padeço. E espero que quando for assaltado pela sua idade ainda tenha a verdura suficiente para me escapar dela. Passar melhor ainda.

6/13/2007 4:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caros leitores deste post,
Apesar de considerar a linguagem empregue pelo Sr. Nuno Pombo um pouco excessiva, o que, na minha opinião, era desnecessário, devo dizer que partilho a ideia expressa pelo autor deste Post.
Apesar de todos quantos frequentam este blog concordarem que Aquilino Ribeiro foi, sem qualquer tipo de dúvida, um escritor sublime, e que a sua escrita roça a magistralidade (grupo onde me incluo), não podemos ignorar os factos históricos que rodeiam e, se me permitem a expressão, "assombram" a vida deste grande senhor da nossa literatura. É um facto, e por o ser não pode ser desmentido, que Aquilino participou activamente no régicidio. Régicio este que, apesar de ser Republicano desde que ganhei consciência política, foi um episódeo lamentavél e uma verdadeira "nódoa" na nossa grandiosa História.
Que exemplo é que todos nós queremos dar aos nossos filhos?
Só as grandes personalidades devem fazer parte do Panteão Nacional, e não podemos considerar um assisino de a maior personalidade do Estado na altura uma grande personalidade.
Não estaremos aqui a abrir um precedente para a "banalização" do Panteão Nacional?
Pela mesma ideia, não deveria Lee Oswald ser "enterrado" juntamente com as grades personalidades Norte-Americanas?
Espero ter contribuido para esta pacífica discução,
Abraços,

Ricardo Fernandes

6/13/2007 5:59 da tarde  
Blogger CAA said...

Ok. Vamos lá, então, comparar "estupidezes"?

6/13/2007 6:06 da tarde  
Blogger CAA said...

Ricardo Fernandes,

«Pela mesma ideia, não deveria Lee Oswald ser "enterrado" juntamente com as grades personalidades Norte-Americanas?»

Que eu saiba, esse senhor nãon era escritor ou coisa semelhante, pois não?

6/13/2007 6:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ó Caa, leva a taça! No que respeita a estupidezes és imbatível!

Nuno

6/13/2007 6:24 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

O post que o Nuno Pombo teve a amabilidade de me dirigir a mim e ao Jorge, por ter um outro tom e concretizar muitas ideias que tinham ficado ambíguas, merece uma resposta muito cuidada. Vamos lá ver, então.
Em primeiro lugar, o que é um Panteão Nacional. De acordo com o Dicionário da Porto Editora, é um "edifício nacional onde se depositam os restos mortais daqueles que mais engrandeceram a pátria". Portugal, infelizmente, desde o Infante D. Henrique que não lidera o mundo na investigação científica. Não somos, há muitos anos, uma grande potência militar. A filosofia portuguesa não dá cartas no mundo. Onde ainda vamos tendo algum nome é na área das letras. Até há quem diga que somos um país de poetas, o que muito me penaliza, pois preferia ser um país de cientistas. Mas cada um é o que é e não adianta chorar sobre leite derramado. Portanto, se há alguém que indubitavelmente engrandece portugal são os seus maiores escritores. De resto, no nosso Panteão, já se encontram os restos mortais de João de Deus, Almeida Garrett e Guerra Junqueiro. Recentemente, foram para lá deslocados os restos mortais de Amália Rodrigues que, não sendo primariamente escritora, era também uma artista da palavra.
Por comparação, podemos ainda olhar para o Panteão de Paris, o de inspiração mais próxima do nosso Panteão Nacional, onde estão escritores como Victor Hugo, Émile Zola, Voltaire, entre outros.
Penso que podemos, pois, arrumar a questão de um Panteão ser um local apropriado para escritores. Eles são, de facto, das ocupações mais representadas no nosso Panteão Nacional e no Panteão de Paris.

Coloca-se então a questão pessoal de Aquilino Ribeiro e das suas afinidades com a carbonária e possível amizade com os regicidas. A questão é, de facto, bicuda, pois também sou completamente averso à violência. Para mim, a patente da vítima é irrelevante, desde o Rei até ao jardineiro. No entanto, está longe de ser esclarecido o grau de envolvimento de Aquilino no acto em si. Mas, sobretudo, não é para mim claro que um possível envolvimento o afastasse da Galeria das Grandes Personagens da nossa história. Senão, vejamos:
Quer se goste ou não, Filipe I, II e III foram reis do nosso país, chegando mesmo a constituir a chamada dinastia Filipina. No caso de Filipe III, a sua legitimidade no trono era por demais incontestável. Era um mau rei para Portugal? Até seria, mas esse é o custo a pagar pelo sistema monárquico. Não se pode mudar de rei só porque não se gosta dele. Quem defende a monarquia tem de aceitar esse princípio. Logo, com que legitimidade é que D. João IV usurpou o trono de Portugal? Como bom monárquico, devia respeito e obediência ao detentor da coroa portuguesa. No entanto, conspirou contra o rei, desfenestrou um seu representante em Lisboa, expulsou a Duquesa de Mântua e, possivelmente, não matou o próprio rei porque ele não estava acessível.
Assim, pergunta-se. A Dinastia de Bragança pode reclamar-se do hediondo crime de que foi vítima em 1908 quando ela própria foi fundada em moldes parecidos menos de três séculos antes? Será que D.João IV, em vez de ser honrado como o restaurador da independência, não deveria ser ostracizado por ter atentado contra a dignidade do legítimo soberano de Portugal? As diferenças entre 1640 e 1908 são bem mais ténues do que os nossos livros de história, na sua tradição de Estado Novo, nos quiseram fazer querer. A haver diferenças, elas residem no facto de os revolucionários de 1908-10 não o terem feito em nome de um projecto de poder pessoal, mas sim em torno de um ideal em que acreditavam.
Repito que, para mim, qualquer derramamento de sangue, seja de D.Carlos seja de Miguel de Vasconcelos, seja de um soldado numa linha da frente, está errado. Nada justifica que se ceife uma vida humana. Mas não temos aqui uma duplicidade de critérios, quando comparamos dois instantes de profunda mudança em Portugal?
Assim, claro que não acho que o lugar de D.João IV na nossa história possa ser posto em causa pelo sangue com que manchou as mãos (poucos foram os reis que as levaram alvas para o túmulo), mas também não acho que um grande vulto das nossas letras mereça menor tratamento por, ao lutar pelos seus ideais, poder ter cometido actos que hoje reprovaríamos, sobretudo quando esses actos nunca foram sequer demonstrados.

6/13/2007 8:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

CAA,

Esta discussão deve ser feita com racionalidade e com serenidade. Sou certamente mais novo que o Sr. e não é esse factor que me leva a utilizar expressões como "comparar "estupidezes"?".
Mas cada um terá as suas maneiras de conduzir um diálogo...

José Luís Malaquias,

A descrição que o Sr. faz do Pantão Nacional corresponde inteiramente à verdade e ai estamos em pleno acordo. Mas certamente que o Sr., quando estava a redigir o seu post, se deparou com esta questão: Será que nomes imortais e escritores de elevadissima qualidade como João de Deus, Almeida Garrett e Guerra Junqueiro estiveram involvidos em algo parecido com o que Aquilino Ribeiro esteve?
A resposta é simplesmente não.
Como já tive oportunidade de referir, Aquilino Ribeiro foi, indiscutivelmente, um grande escritor, mas esse facto não pode fazer dele um ser impune à Justiça.
Na minha opinião, é necessário fazer uma clara distinção dos factos: Aquilino Ribeiro teve, de forma directa ou indirecta, um envolvimento na morte de um chefe de estado, ou seja, não teve um passado digno de uma personalidade que deve figurar no Panteão Nacional.
O seu talento como escritor não pode apagar o seu passado.

Com a distância histórica de mais de 95 anos, acho absurdo este facto ser ignorado.
Como o Sr. referiu, e bem, o Pantão Nacional é o sitio onde residem os restos mortais daqueles que mais "engrandeceram a Pátria", e o gesto de conspirar para cometer um homicio não me parece um acto que engrandeça a Pátria.
Quer se queira quer não, a História irá fazer predurar a relação entre Aquilino Ribeiro e os regicidas, e acho que não é correcto que um dia diremos aos nossos filhos que uma pessoa, por matar ou ajudar a matar (descupem a violência dos termos), seja glorificada e "santificada".
Já para não referir o comportamento descriminatório que esta transladação constitui em relação aos Monarquicos, o que nos levaria a outra discussão...

Em suma, no Panteão Nacional devem permenecer as personalidades que tenham contribuido para o desenvolvimento do País, pressuposto que, por ter deixado um "ponto negro" na nossa História, Aquilino Ribeiro não cumpre.

Abraços,

Ricardo Fernandes

6/13/2007 9:40 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Caro Ricardo Fernandes,

Retomando a segunda parte da minha argumentação anterior, depreendo então que, acto contínuo, teremos de ir retirar as ossadas de D.João IV do Panteão dos Braganças. Aplicando os mesmíssimos critérios, ali temos uma personagem histórica que conspirou contra o rei legítimo de Portugal, D. Filipe III (eu sei, eu sei, também não gostava dele, mas era o nosso rei e soberano; como o sistema monárquico não prevê "eleições antecipadas" para mudar de governo, era aquele o rei que tínhamos de aceitar). D. João IV cometeu um crime de alta-traição contra o rei de Portugal, crime punível com a morte e queda em desgraça do nome de família. Matou ou mandou matar uma alta figura do governo, nomeada pelo próprio rei. Expulsou D. Isabel de Mântua, a quem o rei confiou o governo do país na sua ausência. E só não cometeu um regicídio, porque o rei estava ausente. Logo, a geração dos Braganças é ilegítima, foi criada a partir de um crime de usurpação da coroa ao rei legítimo e teve essa usurpação manchada de sangue.

Além disso, podemos ainda dar como atenuante para os regicidas o facto de terem agido em nome de um ideal em que acreditavam, sabendo que com toda a probabilidade estariam a dar a vida pela sua causa. D. João IV, pelo contrário, cometeu o seu crime de usurpação, com toda a probabilidade, em nome de um projecto de poder pessoal para si e para a sua família.
Portanto, caro Ricardo Fernandes, não transladamos Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional, em nome de um crime de que poderá ou não ter sido cúmplice, mas esvaziamos por completo o Panteão dos Braganças, por albergarem os beneficiáriso directos de um outro crime ainda mais hediondo contra os soberanos legítimos de Portugal.

6/14/2007 2:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

jorge lima said... at 6/13/2007 9:54 AM

..."Não estarás tu a alinhar no jogo ideológico, no «Quem não é por nós...»?...

Não nos conhecemos e o tratamento de tu é de quem se conhece ou car je tutois tous ceux qui j'aime (Prevert).

No Panteão só cabem figuras de relêvo em Portugal e sem suspeita de conjura contra a Pátria.

Nuno

6/14/2007 6:12 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Anónimo said...
Ó Caa, leva a taça! No que respeita a estupidezes és imbatível!

Nuno

6/13/2007 6:24 PM


Este Nuno é outro que não eu.
Eu não escreveria este disparate!

Nuno

.

6/14/2007 6:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Há, infelizmente, uma data de gente de craveira (bastante)inferior e que procura elevar as suas ideias recorrendo a um palavreado em que julga ir buscar o convencimento dos pobres que não sabem nada, que são incultos.
Isto tem vindo a acontecer e é triste.
É um pouco o que se tem passado desde a revolta dos cravas no fatídico 25 de Abril de 1974.
Desde então uma data de idiotas andam a enganar, e de que maneira, o Povo Português.
É uma chatice.
Os Filipes, I, II E III, eram reis, sim, mas de Castela. D. joão IV era o legítimo Rei de Portugal, que, como se sabe, todo o Povo queria.
Quem não entende isto ou é tonto ou tem as ideias dirigidas a fins que não são, seguramente, do interesse nacional.
Como também não se entende a insistência destes papagaios na constante destruição de Portugal.
Se se preocupam tanto com os Panteões Nacionais de outros países e já que aparentam ter meios para se deslocalizarem, termo hoje de moda, porque não emigram para os USA e defendem que Lee Oswald tem os seus direitos ao Panteão.
Este tema, posto desta maneira, é bastante estúpido e eu, como qualquer, sinto-me incomodo por participar. Se o faço é na esperança de que alguém ponha luz na discussão.

Nuno

6/14/2007 7:11 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

Anónimo das 9:54 (aka Nuno)

«Não nos conhecemos e o tratamento de tu é de quem se conhece ou car je tutois tous ceux qui j'aime (Prevert).»

Faça o favor de ligar os neurónios, que a delicadeza será já tarde. Eu trato por tu o meu amigo Pombo, e não a si, sublinho, si. Mesmo num sentido Prevertido, não me enganaria. Já Você, sublinho Você, tem sido responsável por que diversas suas opiniões abstrusas, perdoe-se-me a redundância, sejam confundidas com as do Nuno Pombo, sublinho Pombo. Você é Nuno, mas não Pombo. Quando muito, Bombo. Da Festa.

6/14/2007 11:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Todos sabemos quem é o bacharel Oliveira! Todos sabemos quem é o conde Castel-Branco! Todoa sabemos quem é Margarida Moreira! O Oliveira aparece na tv, logo existe e nunca, nunca insultou ninguém. Quem o minus habens do Oliveira?

6/14/2007 11:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Todos sabemos quem é o bacharel Oliveira! Todos sabemos quem é o conde Castel-Branco! Todoa sabemos quem é Margarida Moreira! O Oliveira aparece na tv, logo existe e nunca, nunca insultou ninguém. Quem o minus habens do Oliveira?

6/14/2007 11:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caros leitores,

Após esta acessa discução, de uma coisa podemos ter a certeza, e a História não nos desminte, que é o de Aquilino Ribeiro estar efectivamente envolvido com os regicidas.
O Sr. José Malaquias deu oportunamente o exemplo da dinastia filipina. À luz da definição do que é o Panteão Nacional, e apesar de ser um "crime" de contornos semelhantes aos de Aqulino Ribeiro, o que D.João IV fez foi (e ai estaremos todos de acordo) um acto que engrandeceu a Pátria. Porque? Porque devolveu a soberania de Portugal aos Portugueses. Porque se insurgiu contra a situação política de então, fazendo de Portugal um país autónomo e independente face a Castela.
Outro ponto que separa estas daus personagens, é o D.João IV tinha o apoio da esmagadorada maioria do Povo Portugues, que legitimou o que viria a acontecer. No que toca a Aquilino Ribeiro, hoje somos quase unânimes quando referimos que a Républica é o melhor regime, quando comparado com a Monarquia, não podemos afirmar que o que este cometeu foi legitimo, pois na altura os monárquicos, que, divididos em dois grandes partidos, condenaram tal ataque.
Lembro também o facto de os restantes países Europeus terem ficado profundamente chacados com este ataque, que foi desprestigiante para a imagem de Portugal e dos Portugueses.

Ricardo Fernandes

6/14/2007 12:25 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Os pontos que o Ricardo Fernandes levanta parecem-me todos correctos, quando considerados separadamente, mas todos juntos deixam-me um pouco confuso.

Vou fazer um ponto prévio só para dizer que não aprovo o regicídio, não por se tratar de um rei, mas por se tratar de dois seres humanos (além dos próprios conspiradores) que perderam a vida que, para mim, é sempre sagrada.

O exemplo de D. João IV era apenas comparativo. Não gosto da ideia de ser governado por reis, mas ainda menos gostava de partilhar um soberano com Espanha.

Queria apenas demonstrar que os grandes homens da história não são santos, por muito que os manuais de história os tentem pintar nessas cores. A história, infelizmente, é feita de chacinas, assassínios selectivos, injustiças, usurpações e traições. Só um ingénuo pensará o contrário.

No entanto, no meio de tanta crueldade, quero pensar que existe um sentido preponderante na história, em direcção a um mundo mais humano em que a violência é progressivamente menos necessária. Muitas contendas que dantes seriam resolvidas pelas armas, hoje podem se-lo mais eficazmente pelas palavras (embora as excepções gritantes do holocausto, do Ruanda ou do Cambodja me façam às vezes ser bem menos optimista)

Dito isso, o que é que me baralhou, então, no comentário de Ricardo Fernandes?

Para começar, parece defender uma monarquia - o sistema por excelência em que não se pode escolher o soberano - mas aceita como justificação para a deposição de um rei e de uma dinastia a preferência esmagadora do povo português. Nesse caso, não será preferível termos um monarca eleito pelo povo, também conhecido por Presidente da República? Se a preferência do povo é o critério para se poder substituir um chege de estado, então não temos uma monarquia mas sim uma democracia e isso é o que os republicanos sempre defenderam.

Depois, Ricardo Fernandes admite que a República reune a preferência quase unânime dos Portugueses, mas diz que o que separa Aquilino Ribeiro (no seu ideário republicano) de D. João IV é que D. João IV tinha o apoio dos portugueses. Em que é que ficamos? A república tem e tinha ou não o apoio dos portugueses? E, já agora, como é que sabemos que D. João IV a tinha, se a Universidade Católica ainda não andava a fazer sondagens no terreno? Quero apenas tirar de tudo isso que o valor histórico de cada pessoa é o conjunto do legado que nos deixou e não um episódio de juventude que, para mais, não está sequer demonstrado e pode ser apenas um mito. Aquilino Ribeiro vai para o Panteão Nacional porque, quando morreu, deixou o país um pouco melhor do que o encontrou. Deixou uma obra, deixou os ideais porque sempre se bateu, mesmo com risco da própria vida e deixou um retrato literário muito fiel do que foi, na primeira metade do Século XX; esse povo português que agora o homenageia. O seu caixão é transportado para o Panteão pela própria mula do almocreve Malhadinhas.


Diz ainda Ricardo Fernandes que D. João IV engrandeceu a pátria. Os republicanos também não a engrandeceram, quando trouxeram ao povo português o sistema político quase unanimemente preferido pelos portugueses? 1 de Dezembro de 1640 e 5 de Outubro de 1910 datas muito felizes para a história do nosso país, pois aproximaram, cada uma à sua maneira, o governo do seu povo. Teria sido bem melhor que ambas tivessem decorrido sem derramamento de sangue. Mas a história é como é e não como gostaríamos que fosse, pelo que não podemos escolher, como cerejas, aquilo de que gostámos e aquilo que nos causou repulsa.

Para saber se Aquilino Ribeiro participou em alguma acção pontual reprovável, é hoje demasiado tarde. Para vermos o conjunto do seu legado e o legado dos demais republicanos, estamos sempre a tempo e opinião quase unânime é a de que foram grandes homens e deixaram uma grande obra.

6/15/2007 4:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

jorge lima said... at 6/14/2007 11:45 AM

"Anónimo das 9:54 (aka Nuno)

«Não nos conhecemos e o tratamento de tu é de quem se conhece ou car je tutois tous ceux qui j'aime (Prevert).»

Faça o favor de ligar os neurónios, que a delicadeza será já tarde. Eu trato por tu o meu amigo Pombo, e não a si, sublinho, si. Mesmo num sentido Prevertido, não me enganaria. Já Você, sublinho Você, tem sido responsável por que diversas suas opiniões abstrusas, perdoe-se-me a redundância, sejam confundidas com as do Nuno Pombo, sublinho Pombo. Você é Nuno, mas não Pombo. Quando muito, Bombo. Da Festa.


Ainda bem que você, que ninguém sabem quem é, esclareceu um ponto importante: eu não sou Pombo.
Aparentemente, o "bombo" será o Pombo e a equipa que o acompanha - como você - e aplaude já que dão algum gozo a quem vem visitar este blog. Só não se tem imenso gozo pela pena que causa a leviandade com que são tratados assuntos que se pretendem sérios.

Nuno

.

6/15/2007 5:36 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

Caro Nuno Não-Pombo:

De facto ninguém «sabem» quem eu sou. Por mim, tranquilo. Antes anónimo que conhecido pelas más razões.

Apareça. De preferência longe daqui, já que lhe custa tanto a leviandade deste blogue.

6/15/2007 9:04 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

jorge lima said... at 6/15/2007 9:04 AM

Você fica bem como anónimo.
A leviandade não será tanto do blog como de alguns peraltas, como parece ser o seu caso.
De todos os modos e graças a Deus, eu apereço aonde me dá na gana, como me afasto do que não me agrada.
Privilégios? Talvez.

Tenha senso.

Nuno

6/15/2007 9:35 da manhã  
Blogger Nuno Pombo said...

Caro Zé Luís,
Aceito a ideia que tem de Panteão Nacional. Aceitará também que, para mim, não seja apenas o critério da obra o que deve relevar. Em meu entender, não podemos optar por esquecer o Homem. E nessa matéria, o Aquilino ficaria melhor no talhão dos escritores do que no Panteão Nacional. Dito isto, volto a dizer que o meu texto inicial nada tinha que ver com a eventual trasladação dos ossos do escritor para o Panteão (com a qual, repito, não concordo). Pretendia apenas reagir, em tom equivalente, contra os que acham que são patéticos e estúpidos os que, por via pacífica como é a de uma petição, procuram evitar essa trasladação. Ser contra ou a favor da trasladação é igualmente legítimo e discutível. Agora, achar que não se pode "inteligentemente" pôr em causa a dita trasladação é inconcebível! E quanto a isto, estou em crer, estamos de acordo.

Já discordaremos novamente na referência que faz a D. João IV. Até porque o dito "Panteão dos Braganças" é só familiar. Não se depositam lá restos mortais em função de méritos pessoais. Apenas relevam o parentesco e a afinidade. E mais, Zé Luís: eu fala "nos nossos tempos". É sempre perigoso transpormos para o século XVII as bitolas da nossa modernidade. Já no século XX (quase trezento anos depois do tempo a que se refere) advogar a eliminação física do adversário é absolutamente inqualificável. Como digo, esse facto não retira méritos literários ao Aquilino, mas impede-me de o considerar um homem com a estatura daqueles que "engrandeceram a Pátria".
Abraço,

6/15/2007 10:10 da manhã  
Blogger Nuno Pombo said...

Caro Jorge Lima,
Quanto mais não seja, o facto de nos tratarmos por tu, permitirá aos leitores, distinguir se te referes ao Nuno Pombo ou ao Nuno Não-Pombo (a este, já larguei as pérolas que tinha).
Sempre me ensinaram que o direito ao nome é fundamental. E, depois de ter sido convidado a comentar de forma onomasticamente mais precisa os textos que se vão escrevendo, o Nuno Não-Pombo, por razões que só a razão dele conhecerá, optou por aquele semi-anonimato. O certo é que, para sermos rigorosos, se o direito ao nome é fundamental, o direito ao não-nome também. Se usar o nome de família, por exemplo, é, por absurdo, vexatório ou envergonhante, deve reconhecer-se o direito ao não uso. Porém, ubi comoda ibi incomoda... poderá querer ser-se- "simplesmente Nuno", mas não poderá dizer-se, depois, que o Nuno não é o Nuno.
Não devemos, por isto e por muito mais, perder tempo com comentários deste jaez.
Obrigado, meu Amigo
Nuno Pombo, sublinho, Pombo

6/15/2007 10:27 da manhã  
Blogger Jorge Ferreira Lima said...

Caro Nuno:

Permita-me tratá-lo sem apelido e na terceira pessoa, para baralhar um pouco mais o seu homónimo-que-não-gosta-que-o-tratem-por-tu-mesmo-que-não-o-tenham-tratado-por-nada.

Serve esta unicamente para congratular o meu amigo pela brilhante prosa sobre os malefícios do semi-anonimato e da usurpação de identidade. E com este, é o nono pombo que abate esta semana.

6/15/2007 12:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro José Luis Malaquias,

Primeiramente, deixe-me só esclaracer um ponto: não defendo a Monarquia, como aliás tive oportunidade de escrever em posts anteriores. Sou um Repúblicano assumido, como a grande maioria de nós o é. Já em relação à questão da democracia, esta é, e a História não me desmentirá, o sistema político que mais vantagens trás ao povo, e é, por execelência, o sistema por que a esmagadora dos paises civilivados se regem. Penso que todos aqui a defendemos.

Em relação à questão dos apoios populares, deixe-me relembrar-lhe as datas dos dois acontecimentos, que o Sr. evocou: a questão referente a D.João IV passou-se em 1640, data em que, por desconhecimento da Républica, a Monarquia recebia o apoio da totalidade da população. Logo as acções de D.João IV foram legitimas aos olhos do povo.
Quando me referi ao facto de a Républica ter o apoio da maioria da população, estava-me a referir aos tempos actuais.
O Sr. coloca a questão de como sabia que D.João IV tinha o apoio dos Portugueses. Pois bem, não estava vivo naquela altura, mas segundo os manuais de história (e admito a possibilidade de estes estarem errados), o povo sentia-se desconte com o Governação de Castela, em grande parte devido ao ao desprezo pelas populações Portuguesas, o que me leva a estrapular que, de facto, D.João IV tinha o paoio dos Potugueses.

No que toca ao facto de os républicanos terem engrandecido a Pátria, deixe-m que lhe diga que o que se passou em 1908, e que abriu caminho para o que se iria passar em 1910, na minha opiniao, não tem tanta relevância como o que aconteceu em 1640. Mais tarde ou mais cedo, a Monarquia acabaria por cair, enquanto que o que D.João IV fez, foi devolver a Portugal o estatuto de país livre e indenpendente, foi devolver a soberania de Portugal aos Portugueses.
E o "Panteão dos Braganças", como o Nuno Pombo fez refencia, é um Panteão familiar. O Panteão Nacional é o sitio onde estão os corpos de personalidades como antigos Presidentes da Républica.
Sem me querer repetir, Aquilino Ribeiro foi um grande escritor, mas foi um "criminoso", quer se goste da Monarquia ou não, por ter colaborado na Morte de uma pessoa.

O sr. José Malaquias afirma que a vida é sagrada, e ai estamos de acordo. Como explica então o facto de uma pessoa que esteve envolvida na morte de outrem posso ser "posta" ao lado de nomes como Manuel de Arriaga, Teófilo Braga e Óscar Carmona?
O talento de Aquilino não pode ser uma desculpa para encobrir o seu passado.

Ricardo Fernandes

6/15/2007 12:36 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Caro Nuno Pombo,

Como sempre tem acontecido, andamos aqui a percorrer os caminhos tortuosos da língua portuguesa para, no fim, chegarmos mais ou menos ao mesmo sítio.

Em relação à sua motivação original, tenho de lhe dar toda a razão. O direito à indignação não se esgotava em Mário Soares e acho que quem se sente indignado o deve exprimir, seja por abaixo-assinados, seja por posts, seja por artigos de opinião. Condenar as pessoas por fazerem um abaixo-assinado é tentar cercear o debate e, como tal, está errado. Por isso, em relação à sua queixa original, dou-lhe toda a razão. POde e deve indignar-se, se assim lhe dita a consciência.

Não discordamos tanto quanto pensa, relativamente a D. João IV. Obviamente que celebro todos os anos o 1 de Dezembro e folgo em saber que Portugal soube reagir à asfixia económica que os Filipes nos impuseram. A minha aparente condenação de D. João IV era apenas uma provocação intelectual para demonstrar que, por vezes, quando já não é possível mudar o sistema por dentro, temos de o mudar por fora. Não sei quais foram as motivações exactas dos regicidas, não sei se Aquilino Ribeiro esteve ou não envolvido, não sei se as coisas se poderiam ter passado de outra forma. Pessoalmente, gostava que 1910 tivesse acontecido sem 1908. Gostava que tivesse sido D. Carlos a partir em segurança para o exílio, em vez de D. Manuel II.

Mas, no balanço, lastimo a morte de D. Carlos, D. Filipe e dos conspiradores abatidos no local, como lastimo a perda de todas as vidas sacrificadas em todas as mudanças de regime que, no final do dia, acabaram por ser positivas para o país como um todo. Seria injusto condenar a revolução de 1640 só porque o Miguel de Vasconcelos lá "tropeçou" do terceiro andar e seria injusto condenar todo o ideal republicano só porque dois conspiradores mais desnorteados resolveram recorrer a uma violência sem sentido.

Não sei, genuinamente, se Aquilino Ribeiro advogou a eliminação física de alguém. Se o fez, fez mal e, como o Nuno Pombo diz e muito bem, está mal pela bitola do Século XX, embora eu me atreva a dizer que já estava mal pela do Século XVII. Agora, as pessoas têm de ser vistas pelo todo da sua obra. Winston Churchill teve um dia que deixar os nazis bombardear uma aldeia inglesa de pessoas inocentes porque, tê-lo impedido teria revelado aos alemães que o seu código Enigma tinha sido comprometido. Vamos avaliar Churchill por essa decisão e por outras ainda mais reprováveis que teve de tomar ou vamos avaliá-lo pelo conjunto da sua obra, que foi manter um continente inteiro em liberdade?

Aquilino Ribeiro lutou por ideais legítimos e fê-lo com brilhantismo. Poderá ter dado passos errados pelo caminho? Não sei e nunca vi provas históricas conclusivas num ou no outro sentido. Mas, independentemente do veredicto, lutou por um ideal numa altura em que as coisas, infelizmente, ainda eram resolvidas de forma violenta de um e do outro lado da barricada.

A somar a tudo isso, era um escritor brilhante, mas esse é outro ponto em que parecemos estar todos de acordo.

6/15/2007 1:48 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Caro Ricardo Fernandes,

Com este seu último post fiquei a perceber muito melhor a sua linha de raciocínio.

Quanto à minha, como já disse no comentário anterior, de resposta a Nuno Pombo, não estava a tentar condenar D. João IV. Se vivesse em 1640, teria lá estado a apoiá-lo como, estou certo, a maioria dos portugueses (as songagens eram uma brincadeira; estou certo que que D.João IV reunia as preferências de então como de agora).

A minha argumentação centra-se em dois pontos.
1) está longe de ter sido provado o envolvimento de Aquilino Ribeiro no regicídio, pelo que temos de falar com a cautela devida a um acontecimento que pode ou não ter acontecido.

2) A morte de D.Carlos é lastimável como são todas as mortes prematuras. Ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. Mas uma morte de um rei, na minha escala de valores, tem o mesmo valor condenatório da morte de qualquer outro ser humano. E, no registo da história, contam-se pelos dedos de uma mão as alterações significativas que ocorreram sem derramamento de sangue.

Morreram inocentes em quase todas as grandes mudanças históricas e nós não condenamos o legado histórico dessas pessoas porque não conseguiram os seus objectivos de forma completamente pacífica. Admiro mais Ghandi do que Churchill, pois Ghandi não precisou de bombardear Dresden até ao tapete para libertar o seu povo. Mas não deixo de admirar Churchill pela ponderação do que ele fez de mau com o que ele fez de muito bom. O nosso critério não deve ser diferente se o sangue inocente derramado calhar ser azul.

Finalmente, Ricardo Fernandes apelida Aquilino Ribeiro como criminoso, apesar de não haver provas do seu envolvimento, mas exalta Manuel de Arriaga, Teófilo Braga e outros republicanos. Esses republicanos, que eu muito admiro, também estiveram em barricadas no dia 5 de Outubro. Também descarregaram as suas armas. Também terão deixado corpos tombados no chão. Estiveram mal, num mundo ideal em que as revoluções se fazem pelas palavras. Mas a história perdoa-lhes essas faltas em nome dos valores mais altos que defenderam. Porque é que o tratamento deverá ser diferente para aqueles cujas vítimas eram de sangue azul? O país sentirá a falta de todos os que morreram às mãos da revolução republicana - republicanos e monárquicos - mas, no final, não vou individualizar e realçar as culpas daqueles que tinham o Chefe da Monarquia no alvo das suas pistolas. Vou continuar a ver o derrube da monarquia como algo repugnante pelo sangue derramado mas exaltante pelos resultados conseguidos.

6/15/2007 2:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro José Luis Malaquias,

Parece que chegámos a um concenso sobre a questão de D.João IV.
No que toca aos dois pontos centrais da sua argumentação, deixe-me fazer-lhe alguns reparos:

No primeiro ponto, o Sr. diz que a ligação que Aquilino Ribeiro teve com os régicidas não está provada ou devidamente fundamentada. Pois bem, estive a fazer uma pesquisa na internet sobre esta mesma personalidade, e todos os sites e blogs a que fui, são unânimes no que toca à vida do escritor. Passo então a descrever os anos mais "obscuros" do passado de Aquilino:
Em 1906 vai para Lisboa, onde convive com os meis revolucionários.
Em 1907, por ser anarquista e na sequência de uma explosão no seu quarto na Rua do Carrião, a 28 de Novembro, em Lisboa, é preso
Em 1908, Aquilino Ribeiro evade-se da prisão onde estava detido, no dia 12 de Janeiro (regicidio foi a 1 de Fevereiro), vivendo posteriormente na clandestinidade ,em Lisboa, onde mantém contactos com os regicidas, refugiado numa casa de Meira e Sousa, na Rua Nova do Almada, em frente da Boa Hora.

Pois bem, ou todos os meios de comunicação em Portugal são falaciosos e contêm informação falsa, ou Aquilino Ribeiro teve, de facto, uma ligação com os assasinos do Rei.
O Sr. José Malaquias refere várias vezes ao longo do seus posts que é indiferente para o Sr. que morra um rei ou uma pessoa "comum". Aí estamos de acordo, mas numa coisa terá de concordar, o Rei, quer se goste quer não, era um chefe de Estado e tinha competências, sublinho competências, e notoriedade que uma pessoa como todos nós não têm. À luz dessa sua ideia, permita-lhe que lhe faça uma pergunta: Se Aquilino Ribeiro tivesse morto uma pessoa dita normal, numa luta ou num ajuste de contas, certamente todos o condenariam e a sua tranladação para o Panteão Nacional estava posta de lado, mas como era um Rei, a dignidade humana, que o Sr. tanto defendeu, é posta de lado e ignorada. Será esta atitude credivél?

Como o Sr. também afirmou, eu referi os nomes de Manuel de Arriaga, Teófilo Braga entre outros. Estas personalidades estão, e estão bem, no panteão nacional, não pelo facto de serem republicanos (o Panteão Nacional não se limita a distinguir républicanos, mas também personalidades que levaram uma vida apolitica, como é o caso de Aália Rodrigues, ou mesmo personalidades que conviveram com a Monarquia, como é o caso de Luís de Camões, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque, Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama e do Infante D. Henrique), mas sim pelo facto de estes terem dado tudo de si para o bem da Pátria, e se o Sr. olhar para o passado de cada uma das personalidades que estão no Panteão, verá que nenhuma está envolvida em nenhuma conspiração ou golpe de Estado.

É essencialmente por estes motivos que eu me oponho à transladação de Aquilino Ribeiro para o Pantão Nacional.

Ricardo Fernandes

6/15/2007 5:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Anónimo said...
jorge lima said... at 6/15/2007 9:04 AM

Você fica bem como anónimo.
A leviandade não será tanto do blog como de alguns peraltas, como parece ser o seu caso.
De todos os modos e graças a Deus, eu apereço aonde me dá na gana, como me afasto do que não me agrada.
Privilégios? Talvez.

Tenha senso.

Nuno


Este Nuno é outro que não eu.
Eu não escreveria este disparate!

Nuno

.

6/15/2007 6:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu sou o Nuno, Nuno. E tu, Nuno? És o Nuno?

6/15/2007 6:49 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Caro Ricardo Fernandes,

A discussão está a ser frutuosa, pois temos cada vez mais terreno comum. Vamos la tentar avançar mais um pouco.

Em relação às fontes que consultou, devem ser as mesmas que eu consultei Adoro a Internet pela quantidade da informação que se recolhe em pouco tempo. Agora, quanto à qualidade? Se tudo o que se encontra escrito na Internet fosse verdade, eu já teria perdido os meus fartos quilinhos a mais, tinha dotes e técnicas sexuais que levariam à loucura qualquer dama que me contemplasse de relance, tinha feito 20 vezes fortuna com negócios mais do que infalíveis e teria resolvido os problemas de herança da Senhora Obi Ta Qunen, da Nigéria, recolhendo uma generosa margem pelo meu incómodo.
Infelizmente, nem sempre é assim e a Internet como fonte imparcial deixa muito a desejar. Os historiadores profissionais dividem-se quanto à questão. Sendo inegável a ligação de Aquilino à causa Republicana, não é claro em qual das suas modalidades militou e qual o grau de envolvimento no regicídio (desde não saber de nada até poder ter estado presente, de arma na mão). Não vou invocar o In Dubio Pro Reum, no meu latim macarrónico, mas acho que não se pode pôr todos os ovos na cesta da culpabilidade.

Relativamente à distinção entre um rei e um mero mortal, os meus princípios morais não me permitem aceitar a ideia de que uma vida valha mais do que outra, sejam quais forem as circunstâncias. Aceito que um soberano corre mais riscos e merece uma maior protecção policial. O país tem a obrigação de zelar pela segurança dos seus dirigentes e minimizar os riscos. Mas esses riscos fazem parte do papel de um dirigente e quem não os quer aceitar tem de escolher outro modo de ganhar a vida.

E, finalmente, o meu caro amigo Ricardo Fernandes conduz-nos a uma parte da discussão onde eu não queria chegar, pela polémica que levanta, mas que agora tem de ser referida, pelos nomes do nosso Panteão que invocou, nomeadamente Luís de Camões, Vasco da Gama, o Infante de D. Henrique e Afonso de Albuquerque.

Luís de Camões foi, como sabe, um soldado. Andou pelo Norte de África a matar mouros na terra deles. Não está, pois isento de sangue. Mas é, ainda assim, dos que fica melhor no retrato.

O Infante D. Henrique, apesar do muito que fez pelo nosso país (talvez mesmo o que mais fez), tinha um negócio de escravos. As expedições que financiou com o seu próprio dinheiro, não tenhamos ilusões, não eram simplesmente motivadas pelo alargamento do conhecimento humano. Eram para ir comprar escravos por essa costa africana para os vir vender na Europa. Além disso, desde Ceuta à Serra Leoa, mandou passar pelo fio da espada todos os nativos que se lhe opuseram.

Vasco da Gama, como Vice-Rei da Índia, não foi propriamente um embaixador da boa vontade. Começou logo na viagem de ida, em que a armada portuguesa recorreu à pirataria junto ao Quénia, atacando as embarcações árabes desarmadas que ia encontrando pelo caminho.
Na sua segunda viagem, depois de ter bombardeado Calicut, por não aceitarem as suas condições negociais (em linguagem mafiosa moderna, fez-lhes uma oferta que eles não podiam recusar).
Depois, aguardou a chegada de um navio de Meca, pilhou a mercadoria, fechou os 380 tripulantes no porão e deitou fogo ao navio, que demorou 4 dias a afundar, arrastando consigo homens, mulheres e crianças. Depois disso, as suas condições negociais foram francamente melhoradas, vá-se lá saber porquê.

E chegamos a Afonso de Albuquerque. Aí, caro Ricardo Fernandes, nem sei por onde começar. Talvez por ter ordenado um dos primeiros genocídios de motivação religiosa da história. Em Malacca, ordenou o massacre de toda a população muçulmana num esforço para reduzir as divergências religiosas, na esperança de que isso obrigasse hindus e muçulmanos a converter-se ao cristianismo.
Mais tarde, reprimiu violentamente uma revolta em Goa. Desenvolveu vários actos de pirataria no Oceano Índico. E isto foram só as coisas que conseguiu fazer.
Outras que planeou mas nunca concretizou foi desviar o Rio Nilo para que o Egipto morresse de sede, roubar o corpo do Profeta Maomé e usá-lo como moeda de troca para fazer os muçulmanos abandonar a Terra Santa. Enfim, o ror nunca mais acaba.

Acha mesmo, caro Ricardo Fernandes, que um conspirador republicano (ainda que tivesse envolvimento num atentado real), se integraria assim tão mal no Panteão Nacional por causa dos seus "pecadilhos de juventude"? Com a fasquia tão alta quanto propõe, acho que o nosso Panteão Nacional ficaria reduzida à nossa saudosa Amália Rodrigue e, um dia, ao nosso querido Eusébio (isso, se não lhe atribuirem a culpa da perna partida do Pelé em 1966).

Como podemos fechar os olhos a tamanhas enormidades cometidas pelos grandes vultos da nossa história, em nome da grandeza que trouxeram ao país e agora fazemos uma tempestade num copo de água só porque um dos nossos maiores escritores teve por companheiros alguns revolucionários mais exaltados nos seus tempos de juventude?

6/15/2007 10:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Há uma maneira facílima de resolver este imbróglio.
Sem quaisquer laços e pouco ou nada me interessando o conteúdo, corto a direito e fico em paz.

Nuno

6/16/2007 5:41 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro José Luis Malaquias,

Permita-me que complete a "troca de galhardetes", e dizer que tem sido extremamente agradável levar esta discussão consigo.

Começo em relação à pesquisa que realizei na Internet. É certo e sabido que a internet está longe de ser o meio mais fiável e credivél de obter informações. Mas certamente que se o senhor pesquisar quem foi o primeiro rei de Portugal, todos lhe diram que foi D.Afonso Henriques, e se o Sr. pesquisar quem é o actual Presidente Norte-Americano, todos lhe diram que é George W. Bush. E foi exactamente isso que aconteceu, eu pesquisei sobre uma personalidade, e em todos verifiquei a mesma informação, o que lhe confere um grau de credibilidade certamente superior aos exemplos que o Sr. referiu. Mas deixe-lhe aqui um repto: faça o Sr. uma pesquisa para poder confirmar o que afirmei no meu post anterior.

No que toca ao que referi acerca do Rei, apenas referi um facto inegável: o de o Rei ser uma personalidade com competências ( e não capacidades) e notoriedade que lhe permitem ter um estatuto de superioridade "laboral" em realação a todos os que na altura viviam, assim como o actual Presidente da Républica tem sobre nós. Apenas isso. Nunca afirmei que o Rei era um ser superior ou divino.

Finalmente, após ler atentamente o seu post, depreendo uma coisa: o que eu disse estava correcto. O que referi foi (vou realizar um simples "copy past"): "e se o Sr. olhar para o passado de cada uma das personalidades que estão no Panteão, verá que nenhuma está envolvida em nenhuma conspiração ou golpe de Estado".
Esta afirmação, o Sr. não pode negar, pois cooresponde à verdade.
O passado das personalidades que referiu, todos concordamos que não foi brilhante nem o mais "apetecível". Mas um facto, e como tal, não pode ser desmentido, é que todos eles engrandeceram a pátria.
Luís de Camões deixou uma notável obra, digna de perdorar até à actualidade. O Infante D. Henrique foi o homem que "abriu" o Mundo e abriu portas à globalização. Vasco da Gama entre outros feitos memoráveis, descobriu o caminho maritimo para a India. Afonso de Albuquerque foi o homem que conquistou e consiguiu manter os territórios Portugueses "nas Índias". Como pode ver, são personagens dignas que figurarem no Panteão Nacional.
Fico sem reter, da linha de raciocinio do Sr. se acha que estas personalidades devem ou não figurar no Panteão Nacional. Mas de uma coisa estaremos de acordo: por terem realizado grandes feitos quando se vivia numa Monarquia, estas personalidades não podem ser ignoradas ou postas de lado.

Deixo uma pergunta aos Sr. que, desta vez, espero que responda: Se se provar que Aquilino Ribeiro esteve efectivamente ligado ao regicidio, será que o Sr. ainda acha que este deviam ser transferido para o Panteão nacional?

Ricardo Fernandes

6/16/2007 5:01 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Caro Ricardo Fernandes,

Em relação à pesquisa, fiz uma pesquisa à moda antiga, com consulta a fontes corroboráveis e o que encontrei como posição dominante entre os historiadores é que não existem provas concludentes do seu envolvimento ou não envolvimento.

Acho que as figuras presentes no Panteão estão lá porque fazem parte de um consenso histórico que, depois de avaliar o quanto engrandeceram Portugal e o quanto envergonharam Portugal, deixaram um balanço positivo na memória colectiva dos portugueses. Os portugueses identificam-se com a sua memória de povo e, do mesmo modo que eu não me orgulho de tudo o que fiz na vida, mas não vou renegar a minha memória porque me estaria a renegar a mim próprio, também Portugal não renega a sua memória, com pontos altos e pontos baixos, recolhendo no Panteão Nacional as memórias mais significativas da sua história.

Não vou, obviamente, responder à questão hipotética que me põe, porque é um campo mais do que minado. Imagine que eu lhe perguntava: "Se demonstrarmos que D. Maria e D.João VI receberam subornos de Napoleão para deixarem Portugal à mercê das suas tropas, deveremos retirar a titularidade do trono a toda a Casa de Bragança, por traição à pátria?" (facto inventado por mim agora, note-se). Claro que o Ricardo Fernandes não me responderia porque era uma pergunta estúpida, sem fundamentos, que estava subliminarmente a impôr a premissa da pergunta como verdadeira.

Agora, se me perguntar: "Acha que Aquilino Ribeiro deveria ser desqualificado do Panteão Nacional porque esteve envolvido com o movimento republicano e esse mesmo movimento, na sua guerra à monarquia, assassinou o Rei?" Já estamos a falar de uma premissa mais consensual e verosímil. Nesse caso, caro Ricardo Fernandes, digo-lhe que essa associação não só não o desqualifica como o promove, pois o movimento republicano, tal como Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, o Infante D. Henrique, fazem parte da nossa memória colectiva. Tiveram os seus momentos altos e os seus momentos baixos, dos quais até concedo que o Terreiro do Paço foi um momento baixo. Mas, no seu todo, o movimento engrandeceu Portugal e, não sendo feito de santos, conseguiu que, no final, os proveitos fossem maiores do que os defeitos.
Somando essa coragem política de pertencer a um movimento que o pôs repetidamente na prisão ao conjunto monumental da sua obra, acho que estão mais do que reunidas as condições para ascender ao Panteão, onde estará na companhia de outros portugueses que, não sendo santos e tendo pesadas faltas no seu historial, deixaram uma marca importante na memória colectiva dos portugueses.

6/16/2007 9:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro José Luis Malaquias,

Ainda relativamente à vida de Aquilino Ribeiro, mesmo que o seu envolvimento não esteja 100% provado (embora várias fontes apontem nesse sentido), não acha o Sr. que o facto do escritor se ter evadido de uma cadeia, pouco tempo antes do régicidio, não indicia um comportamento no minimo estranho por parte de um conceituado escritor? Não acha o Sr. que a sua provada convivência com Républicanos o pederia ter influenciado a participar no régicidio? Aquilino Ribeiro era, sem espaço para dúvidas, um homem dotado de uma extrema inteligência, e essa inteligência, aliada à causa républicana, poderiam ter feito como que Aquilino comete-se um acto só por aquilo em que acreditava.

O Sr. diz, e muito bem, que o movimento republicano, onde Aquilino Ribeiro está incluido, faz parte da nossa memória colectiva. Pois bem, o problema de Aquilino Ribeiro não é o de ser républicano, mas é de ser um républicano extremista. Um golpe de Estado, que foi o que Aquilino ou os seus companheiros fizeram acontecer, e sobretudo pelos contornos que teve, só pode ser planeado por extremistas.
Diz o Sr. num dos seus post anteriores que admita Gandhi. Pois bem, Gandhi foi um exemplo exactamente contrario ao de Aquilino Ribeiro. Gandhi lutou sem lutar, ou seja, conseguiu a independencia do seu pais sem derramamento de sangue, o que foi exactamente o que Aquilino e os seus companheiros não fizeram.
A Monarquia já se encontrava desgastada, mais tarde ou mais cedo, iria cair, vários historiadores o dizem. Não seria mais proveitoso uma mobilização e uma campanha pacifica onde nenhum sangue teria de ser derramado? Certamente que a resposta do Sr. é sim. Mas no entanto, defende a glorificação de alguem que derramou ou planeou a derramar sangue. Isso actualmente chama-se Terrorismo.
Para uma pessoa como o Sr., que me parece dotada de uma inteligência notável, e que defende a vida, não lhe parece um pouco contraditório a imortalização de quem foi possivelmente um violador da dignidade humana? Alguém que, em vez de engrandecer o nome de Portugal no resto de mundo (coisa que as personalidades que estão no Panteão fizeram), fez exactamente o crontário?

Ricardo Fernandes

6/17/2007 4:46 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Caro Ricardo Fernandes,

Os seus argumentos são ponderosos e, de facto, não reclamo uma coerência de posições total nesta matéria.
Sou adepto da não violência e preferia que a Monarquia tivesse caído de podre. Nesse aspecto, condeno quem exerceu a violência para precipitar a queda da monarquia. Como, é claro, condeno quem a exerceu para retardar a mesma queda.

Agora, se vamos elevar a fasquia tão alta, pessoas do calibre de Ghandi contam-se pelos dedos de uma mão. Se só acedesse ao Panteão quem tem a consciência tão limpa e que atingiu revoluções sem derramar sangue, poderíamos fazer um único Panteão Mundial para admitir todos os qualificados. Caberiam lá Ghandi, Martin Luther King, a Madre Tersa de Calcutá e, de momento, não se me oferece mais ninguém. Até Nelson Mandela teve a sua fase bombista.

Praticamente todos os actuais habitantes do Panteão Nacional teriam de ser despejados, com excepção de Amália.

Por isso, para finalizar, que acho que mais ninguém além de nós ainda lê este post, acho que a adesão ao Panteão tem de ser sempre um compromisso entre a grandiosidade da obra e os pecadilhos (ou pecadões) cometidos para lá chegar.

Aquilino não deixará a marca histórica de um Afonso de Albuquerque, mas deixa uma marca pelo menos tão importante como a de Amália. Por outro lado, Aquilino pode ter cometido alguns excessos ideológicos mas, seguramente, não cometeu os genocídios de Afonso de Albuquerque. Não consigo encontrar um critério coerente para admitir uns e excluir o outro.

Terei todo o gosto em prosseguir esta conversa por e-mail, se assim o entender, mas penso que já não voltarei tão ao fundo deste blogue para acompanhar este post, por muito prazer que me tenha dado esta nossa troca de ideias.

6/20/2007 1:42 da manhã  

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