terça-feira, junho 26, 2007

PARA DESONESTIDADE, DESONESTIDADE E MEIA

Infelizmente, nem todas as almas se horrorizam com um aborto aos 8 meses, como acontece com Simone Veil, com a f., ou, supõe a f., com Lídia Jorge. Será que Simone Veil se horrorizava com esta prática em 1974? É provável que sim. É mesmo provável que defendesse a liberalização do aborto como forma de acabar com estas (e outras) situações (onde é que eu já ouvi esta conversa...?). Volvidos 33 anos, estas situações persistem, em Espanha como certamente em França. Grávidas, médicos & cª que abortam aos 8 meses certamente que não se horrorizam. Mas o que me inquieta é pensar que os franceses dos 80’s não se horrorizem como as f. dos 60’s, as Lídias Jorges dos 40’s e as Simones Veils dos 30’s, uma vez que a sua escala de “progresso” não começa no “todos os filhos que Deus quiser” nem sequer na “contracepção grátis para quem a procurar”, mas sim no “vive o momento, sê livre, entrega-te ao prazer, e depois logo se vê”.

Já o facto de Simone Veil defender que “cada vez há mais provas de que desde a concepção há um ser vivo” não passa, para mim, de um statement científico que dá um abanão às bases em que se fundamentam as mais antigas leis do aborto. Estes progressos da ciência deveriam pôr seriamente a pensar quem, em 1974, defendeu a liberalização do aborto por acreditar que até às 10/12 semanas não existia mais que um amontoado de células que não representavam um ser vivo.
Curiosamente, este fim de semana, num baptizado, o celebrante referiu esta afirmação de Simone Veil, partilhando a sua alegria pelo avanço da ciência, que vem de encontro aos valores defendidos pela Igreja. Ao contrário da “blogada lusa que se diz pela vida”, não o ouvi dizer que a senhora tinha mudado de ideias. Já eu, pensei de mim para mim: acredita que há um ser vivo, e ainda assim defende o aborto.

E daqui para a problemática do ser vivo, é um pulinho. Para “esta gente” (este tom de pretensa superioridade é um mimo) não há diferença entre um ser vivo e uma pessoa, escusam de perder tempo a explicar. Para a f. vejo luz ao fundo do túnel: antes das 10/12 semanas há um ser vivo, há uma “coisa humana”, há, portanto, um ser vivo humano. É a primeira definição de pessoa.

Concluindo, lamento não poder dizer que a f. mudou de ideias, porque não mudou. Como também não mudou o seu tipo de leitura, pobre e de estonteante má fé, no presente caso da entrevista de Simone Veil. Mas manteve aquele registo fácil da generalização, que dá jeito mas é pouco sério.

2 Comments:

Blogger José Luís Malaquias said...

E tunga, que esta já levou no bigode....

6/26/2007 9:55 da tarde  
Blogger Nuno D. Mendes said...

“cada vez há mais provas de que desde a concepção há um ser vivo”

Esta frase é um completo absurdo e é irrelevante para a discussão sobre o aborto.

A discussão é da esfera ético-moral sobre a protecção que devemos dar a um embrião ou feto humanos e não sobre a prova de que se trata de um "ser vivo" e não apenas um "amontoado de células".

Todos os seres vivos são um amontoado de células, e todas as células estão vivas (sejam humanas ou não). E esta tem sido a posição da ciência desde que se sabe o que é uma célula.

A dificuldade é que a nossa moral comum recorre a uma concepção essencialista da natureza humana.. como se houvesse uma barreira clara entre aquilo que é um ser humano e aquilo que não é um ser humano. Essa barreira não existe, seja qual for a nossa concepção de ser humano.

O único contributo da ciência para este debate foi demonstrar as fraquezas dos argumentos essencialistas. Todos as fronteiras que se estabelecerem entre humano e não humano são artificiais e não resultam da ordem natural.

7/01/2007 6:37 da tarde  

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