
OTA(rios)
O Governo adiou por 6 meses a escolha definitiva da OTA como local para o novo aeroporto, de forma a estudar a hipótese Alcochete. Esta é, aparentemente, uma boa notícia, mas como já outros disseram, não passa de areia que nos é deitada para os olhos. Ao fim de anos de supostos "estudos" e alguns milhões já enterrados na OTA, já para não falar dos interesses que foram criados, parece-me óbvio que dificilmente a OTA deixará de ser opção. As recentes declarações de Mário Lino e de outros membros do Governo são disso indício. A decisão de "estudar" Rio Frio, mais que uma concessão, é uma operação de cosmética que visa tornar o processo transparente, permitindo, igualmente, serenar Cavaco e alguns dos opositores à solução OTA. Tenho para mim que, para além dos "ambientalistas" da Quercus, outros obstáculos surgirão (por demais conhecidos do Governo, como não poderia deixar de ser), inviabilizando Alcochete e tornando a OTA como única hipótese possível. Se os nosso políticos fossem sérios (estes que lá estão e aqueles que os precederam), a decisão acerca de um eventual novo aeroporto teria sido estudada de forma competente e transparente. Como o não foi, penderá para sempre a suspeita de que tal decisão se baseou em favores e amiguismos. Nós, entretanto, vamos ladrando.
Nota: post corrigido. Tinha escrito, por lapso, Rio Frio, quando me queria referir a Alcochete.
13 Comments:
O amigo Rui Castro que me desculpe, mas acabou de dar mais um exemplo da ignorância e da ligeireza com que se conduz este processo de encravamento da opção Ota.
A solução que o governo hoje decidiu juntar ao estudo comparativo foi a solução de Alcochete e não a solução de Rio Frio. Os activistas usam indistintamente as designações "margem Sul", "Alcochete", "Rio Frio" e "Poceirão" como se se referissem todas à mesma solução miraculosaa que resolve todos os alegados problemas da Ota. Na realidade, trata-se de soluções muito diferentes umas das outras. Umas obrigariam à construção de uma nova travessia do Tejo, outras não. Todas elas obrigariam à construção de uma via ferroviária para trazer os passageiros para Lisboa. Algumas são ambientalmente desastrosas, outras são neutras ou más, consoante as opiniões. Umas teriam espaço para espansão, outras estariam tão ou mais estranguladas do que a Ota.
Mas, sobretudo, a Ota continua a ser tratada pelos lisboetas como se de um assunto local se tratasse. O Conselho de Lisboa tem 600 mill habitantes, a Grande Lisboa tem entre 1,5 milhões e 2,5 milhões consoante a fronteira que se considere. A faixa litoral a norte do Tejo tem SETE milhões de habitantes. O novo aeroporto não vai ser um aeroporto concelhio, nem mesmo metropolitano. Vai ser um aeroporto nacional. Tem de ter em conta as necessidades dos lisboetas, mas também dos conimbricences, leirienses, viseenses, aveirenses e até, em grande medida, portuenses. Para quaisquer um desses, a Ota tem:
-fácil acesso por duas auto-estradas.
-fácil acesso por via ferroviária e, a médio prazo, alta velocidade.
-maior centralidade.
Por isso, a opção não pode estar refém do facto de 600 mil portugueses terem de perder vinte minutos a percorrer os 53 quilómetros que os separam da Ota.
O Rui Castro também ataca com a famosa frase assassina dos "interesses instalados". Nunca cheguei a perceber quem são esses interesses. Não os identificando, deixamos as maiores conspirações na mente dos portugueses. Já ouvi até dizer que a família Soares era dona dos terrenos da Ota e, por isso, queria fazer lucro especulativo. A teoria é empolgante, não fosse o facto de João Soares ser um dos grandes adversários da construção do novo aeroporto. Por isso, continuo à espera de saber quem são os "interesses" (presumo que, por comparação, na margem Sul só haja "desinteresses")
Por fim, Rui Castro ataca a seriedade dos políticos porque não tornam o processo transparente. Este processo arrasta-se há quarenta anos. Achamos mesmo que ainda não foi suficientemente debatido?
Mas vamos supor que não. Quem o deverá debater?
a) os professores de engenharia do IST.
b) os professores de engenharia do país todo.
c) a população de Lisboa?
d) a população do país todo?
Como licenciado em engenharia (não civil, note-se ;-), posso-lhe garantir que, para qualquer uma das soluções, lhe arranjo pareceres de viabilidade e de optimização de grandes figuras da engenharia mundial. Já se construiu aeroportos no mar, dentro das cidades, a 100 km das cidades, no deserto, em pântanos, nas montanhas. Qualquer um dos projectos é perfeitamente viável do ponto de vista de engenharia e a única coisa que interessa ouvir de engenheiros e construtores é o preço final. Tudo o resto é conversa fiada, pois quem vai pagar e usar o aeroporto é que tem de decidir o que quer gastar e onde. Portanto, a decisão não é de engenharia, é uma decisão puramente política e não nos podemos deixar cegar pelos altos galões de quem nos vem dizer que "eu é que sei, porque sou catedrático de engenharia". Os especialistas só nos têm de dizer o custo de cada opção e deixar-nos a nós, os eleitores, através dos nossos representantes democráticos, escolher a opção que mais nos convém a nós e não aos engenheiros.
Portanto, claramente a decisão é de quem vai pagar e usar o aeroporto, que é a generalidade da população portuguesa. Como o nosso regime não é referendário, são os nossos representantes eleitos que anunciam as suas escolhas antes de cada eleição e nós votamos em quem queremos. Há pelo menos 5 ciclos eleitorais que os partidos vão a votos, figurando quase sempre a questão do aeroporto nos respectivos programas eleitorais. Quem não os lê só se tem de censurar a si mesmo. Quem os lê, não pode dizer que o processo foi feito de forma pouco transparente.
Por isso, a minha opinião é de que a escolha da Ota não peca por falta de transparência ou debate mas sim por excesso. Qualquer que seja a escolha, há sempre fortes inconvenientes. A remoção de terras aumenta o custo da Ota? Claro que sim. Fazer uma linha férrea para a margem Sul custa ainda mais? Custa sem dúvida nenhuma. Por isso, podemos adiar indefinidamente a decisão, apontando sempre os defeitos à escolha que já foi feita ou podemos assumir uma escolha e seguir em diante. Os construtores e especialistas, esses, adoram este impasse, pois continuam a facturar estudos atrás de estudos e, no final, qualquer que seja o resultado, vão ter as suas encomendas garantidas.
José Luís Malaquias said... 6/11/2007 11:07 PM
Para "engenheiro" escreveu uma enorme lista de disparates...
Nuno
Este país não Ota nem Desota...
http://in-direita.blogspot.com/
A sua argumentação está cada vez mais rica e elaborada, meu caro Nuno. Quanto ao "engenheiro", eu fiz questão de escrever este artigo como não engenheiro (que não sou, visto que me recuso a inscrever no resquício corporativista da Ordem dos Engenheiros) e não especialista, mas como cidadão. A decisão não deve ser tomada por engenheiros e especialistas mas sim pelo conjunto dos cidadãos e dos seus representantes democráticos. Os engenheiros são bons como "assistentes de loja", que nos dizem o preço de cada opção de venda. Mas a escolha daquilo que se compra é dos consumidores que, neste caso, somos todos nós, o conjunto de cidadãos nacionais.
De todas as formas, fico satisfeito por os meus posts lhe continuarem a provocar tão violentas reacções. Alguma coisa devo andar a escrever bem.
José Luís Malaquias said... 6/12/2007 3:57 PM
Você está bastante errado. Os seus comentários não me excitam minimamente. Pelo contrário, apenas lamento que salte para conclusões rápidas e descabidas.
A minha argumetação, se assim se pode chamar, é apenas a que você merece. Nunca ouviu dizer que não vale a pena gastar cera com ruim defunto? E já estou a gastar muita.
Mas sempre acrescento que não se deve falar e, menos ainda escrever, sobre o que não se sabe.
Nuno
Oh, ande lá Nuno, tenha pena de mim. Elucide-me. Ensine-me os meus erros, salve-me do caminho sem retorno do engano e da asneira. Tenha lá paciência com quem não teve o privilégio da sua instrução e entendimento.
Por favor, não me deixe ficar neste canto perdido. Está tudo tão escuro....
Caro Malaquias,
A norte do Tejo existem 7 milhões e 2 AEROPORTOS. ALiás, num raio de 100 km do aeroporto Sá Carneiro existem 4,5 milhões.
A ideia de que a OTA é nacional é uma ofensa para quem vive a norte de Coimbra.
Este tipo de afirmações são indignas. Você é Português mesmo ? Estou geografia quando era jovem ? Ou é ignorante interesseiramente ?
Sem a veleidade de ser Engº.
NAL/NAER LISBOA: RELATÓRIO DA ANA (1994)
“Da comparação das quatro opções consideradas, conclui-se”:
Da análise global de um conjunto de aspectos objectivos, a melhor opção é Montijo B e a PIOR a Ota;
No aspecto operacional a melhor opção é o Rio Frio a e a PIOR a Ota;
Na perspectiva da engenharia a melhor é Montijo B e a PIOR a Ota;
No aspecto ambiental a melhor é Rio Frio e a pior é Montijo A;
Na perspectiva da acessibilidade a melhor é o Montijo A e B e a pior Rio Frio *;
No aspecto do esforço financeiro nas infra-estruturas e da própria TAP a melhor é Montijo B e a PIOR a Ota;
Na perspectiva da operação simultânea com a Portela e dos investimentos inerentes a melhor solução é o Montijo B e a PIOR a Ota.
Conclusões da ANA de 1994, esmagadoras para a decisão do governo em 1998/99, que, com base no risco de colisão com aves, conduziu à precipitada escolha da Ota (Engº Arménio Matias/ADFER)**.
* Sem contar com a ponte Vasco da Gama e o futuro acesso do TGV/Madrid a Lisboa.
** Artigo no DN, 1Ago05; relatório no site «adfer».
PS: que se passou, entre 1994 e 1998/99?
José Luís Malaquias said... at 6/13/2007 3:05 PM
Para o elucidar, você deveria ter tido mais aprendizagem. Muito mais.
Não é aqui, nestas curtas linhas, que poderei levar até si tudo quanto a ciência e a filosofia hoje é - e quem sou eu para o fazer.
O conhecimento e a compreensão tomam-nos muito tempo, um largo período da nossa vida, e, às vezes, por mais que se queira não se atinge.
Compreendo a sua aflição: sente-se num buraco escuro e sem saber bem o que se passa à sua volta. Sente-se numa confusão.
Eu percebo.
Provavelmente, será tarde para si - não sei a sua idade - mas, se puder, existem várias universidades espalhadas por este mundo onde, tenho por certo, embora dependendo de si, poderá adquirir as bases mais elementares que lhe faltam.
Não sou conselheiro nessa matéria. Mas, mesmo assim e já que o solicita, se quiser um conselho estou pronto a facultá-lo. Exponha o seu curriculum, as suas carências e as suas possibilidades (infelizmente, não se pode ir para qualquer lado sem as ter). Então, talvez eu possa sugerir-lhe ou indicar onde poderá, eventualmente, melhorar os seus conhecimentos e até, porque não, progredir para uma competência estimável.
Eu, pelo menos, ficaria encantado.
Nuno
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Caro José Silva,
Se a norte do Tejo só existem 2 aeroportos (presumo que se refira à Portela e a Pedras Rubras) para 7 milhões de habitantes, claramente a zona mais populosa do pais está mal servida de aeroportos. É normal, num país desenvolvido, haver um aeroporto em cada cidade do tamanho de Braga, Coimbra ou Aveiro. Nós, por cá, não temos dinheiro para tanto, pelo que temos de ter aeroportos nacionais em vez de aeroportos locais. Não percebo onde está a dúvida. Visto que tanto Pedras Rubras como Faro são aeroportos comparativamente pequenos, com muitas limitações de operacionalidade, tem de haver um grande aeroporto nacional para servir toda a população e, como tal, deve estar colocado o mais próximo possível do centro de gravidade dessa população.
Concordo consigo que seria de pensar seriamente em expandir Pedras Rubras, visto servir uma população maior, num raio de 100 km que o próprio aeroporto de Lisboa. Mas, como ambos sabemos que isso não vai acontecer num país macrocefálico como o nosso, tentemos ao menos puxar o único aeroporto de grande dimensão do país mais para perto da população que vai ser servida.
Por isso, parece-me que os dados que apresenta sustentam a minha tese.
Por favor, corrija-me se percebi mal o que quis dizer.
Caro BM,
Ainda bem que começa por dizer que não está aqui como engenheiro, pois esta não é uma decisão de engenheiros. É uma decisão da população que vai pagar e depois usar o aeroporto.
Se quiser ir a uma loja comprar umas calças que o empregado da loja considera de um horrível mau gosto, acha que ele tem alguma coisa que opinar? Não é ele que as vai pagar e não é ele que as vai usar. Só tem de vender as que lhe pedirem, pois a única opinião que interessa é a do cliente.
Os engenheiros podem dar-nos todos os pareceres e mais alguns. Podem quantificar os custos de todas as opções. Mas a escolha, essa, é do cliente, que somos nós, pois ninguém vai pagar o aeroporto por nós e ninguém vai ter de sofrer as consequências de uma má escolha senão nós. Se os engenheiros decidissem que a escolha ideal, ideal, era no Pulo do Lobo, tínhamos nós todos de atravessar o país para apanhar um avião, só porque o engenheiro acha que a localização é ideal? Ideal para quem? A escolha só tem de ser ideal para as pessoas que vão pagar e que vão usar. Se elas preferirem, no seu conjunto, ter um aeroporto um pouco mais caro mas que lhes poupa a construção e travessia de uma ponte, os engenheiros só têm de acatar e construir o que se lhes manda.
Os engenheiros continuam a inundar-nos com pareceres dos mais diversos quadrantes e com as mais díspares opiniões. Mas o eleitorado continua a eleger governos que colocam a Ota no seu programa de governo. Por isso, não será hora de o empregado da loja se calar e ir lá buscar as calças que o cliente lhe pediu?
Meu caro e inestimável Nuno,
A si, nem sei por onde começar. As suas palavras restabeleceram-me a esperança e a vontade de viver.
Graças a si, finalmente, voltei a ter um projecto de vida.
Fiquei especialmente seduzido pela ideia de me matricular numa universidade, para sair destas trevas da minha ignorância.
Acha que a Universidade onde eu dei aulas durante dez anos estará disposta a aceitar-me como aluno? Talvez se eu pedir com muitos bons modos?
Por favor continue a enviar-me essas orientações de vida que tanto têm feito pelo meu reencontro com o saber...
Do sempre seu,
Zé
José Luís Malaquias said... at 6/15/2007 4:57 AM
Não lhe poderei enviar orientações nenhumas que, aliás, nunca enviei, enquanto não conhecer o seu curriculum.
Todavia, como é evidente, a universidade onde diz ter dado aulas durante dez anos - o que é obra e deixa graves consequências... - será seguramente a menos indicada para reiniciar a sua educação.
Nuno
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