quarta-feira, junho 20, 2007

isto assim não pode ser

se os meninos continuam a escrever coisas tão boas nas caixas de comentários e não em posts autónomos juro que me vou embora. Aqui fica a tréplica do ZLM (Zé Luís Malaquias) à resposta do Pombo:
"Meu caro Nuno Pombo,Tenho de lhe confessar que o seu post (resposta ao meu post) me deixou profundamente irritado. Não irritado consigo, certamente, pois tudo o que diz é correcto e escrito de forma brilhante, como é seu hábito. Como diletante que sou, escrevo com o coração ao pé da pena e misturo conceitos e correntes ideológicas, metendo tudo em dois grandes sacos, de esquerda e de direita, quando a realidade ideológica é bem mais complexa e tem todo um historial de 3 séculos por trás. O Nuno Pombo obriga-me a precisar conceitos e isso retira-me do meu pequeno mundo a preto e branco para um mundo com um sem número de cambiantes cinzentas. É muito mais complicado vender o nosso peixe a uma pessoa de conceitos tão bem definidos, pois temos de estar sempre à defesa quando começam a ser atacados aqueles que nos precederam nas nossas famílias ideológicas. Mas penso que, para simplificar a discussão, poderíamos estar de acordo em pôr para trás toda a tralha ideológica que já vem desde o Século XVII. Nem o Leviatã de Hobbes se concretizou; nem a mão invisível de Adam Smith é tão invisível como isso; a revolução de Marx como estádio final do capitalismo ficou no caixote de lixo da história; Ricardo, Keynes, Galbraith, Friedman, o Reaganomics sucederam-se mais rapidamente do que as modas nas passereles de Milão. Vamos, por isso, começar de novo, fazer um reset ideológico e definir uma nova esquerda baseada nos princípios de defesa do indivíduo, da família, da solidariedade (intergeracional, internacional, inter-étnica, intercultural), da redistribuição da riqueza (no respeito pela propriedade individual) e no apoio aos mais necessitados e aos elementos mais frágeis da sociedade (crianças, idosos, deficientes, doentes crónicos, etc.) A direita, definimo-la como os princípios da defesa da eficiência económica a todo o custo, do laissez faire das empresas, da desregulamentação extremada, da desintervenção do estado de todas as áreas que não tenham a ver com a soberania, da intervenção bélica em defesa dos interesses económicos. É uma direita que mede o seu sucesso pelo crescimento do PIB e que acha que tudo o resto cabe a cada um resolver por si. Posta a diferença nesses termos simplificados, com um pontapé em toda a carga ideológica que está por trás, um católico deverá ser de direita ou de esquerda? Não será uma inevitabilidade para um católico ir roubar todas as bandeiras dessa esquerda simplificada e içá-las bem alto, no campanário de cada igreja? É essa a resposta que venho procurar a este Blogue e para a qual já recebi muitos contributos muito valiosos. Falta-me só agora a resposta de quem já provou dominar esta temática melhor do que ninguém, razão pelo qual esta resposta ao Nuno Pombo foi um pouco mais incontinente. Mas porque é que, afinal, fiquei tão irritado com o post do Nuno Pombo? Porque, posta a questão nos moldes tão claros em que ele a pôs, resulta que, depois de nos livrarmos de todas as etiquetas ideológicas, tenho fortes suspeitas de que acabaremos por descobrir que estamos ambos do mesmo lado da barricada e não terei mais um adversário de tão alto calibre com quem debater as minhas ideias e enriquecer o meu ideário. Ao fim e ao cabo, já não podemos discutir o Benfica, pois a perfeição não se discute. Se não tivermos a política, que banais que se tornarão as nossas conversas...
Um grande abraço de muita estima,
Zé Luís"
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