segunda-feira, junho 04, 2007

"If"

Se podes conservar o teu bom senso e a calma
Num mundo a delirar para quem o louco és tu
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê,
Se vais faminto e nu trilhando sem revolta um rumo solitário
Se à turva itnolerânxia, se à negra incompreensão
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bençãos de perdão,
Se podes dizer bem de quem te calunia
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor
Se podes esperar, sem fatigar a esperança
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do infermo e a luz do céu risonho
Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores
Se podes ver o bem e o mal
E resignar o amor dos teus amores
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhe deste,
Se podes ver por terra as obras que fizeste
Vaiada por males sins desorientando o povo
E sem dizeres palavra e sem um termo agreste
Voltares ao princípio a construir de novo;
Se podes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço à muito vacilante
Quando no teu corpo já afogado em crepúsculos
Só existe a vontade em comandar avante,
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre
Se vivendo entre os reis consevras a humildade
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade;
Se quem conta contigo encontra mais que a conta
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraia em séculos fecundos,
Então ao ser sublime o mundo inteiro é teu.
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços
Mas ainda para além um novo sol rompeu
Abrindo um infinito ao rumo dos teus passos
Pairando numa esfera acima deste plano
Sem recear jamais que os erros te retomem.
Quando já nada houver em ti que seja humano
Alegra-te meu filho,
Então serás um homem.

Rudyard Kipling

2 Comments:

Blogger fbarragao said...

Um grande, grande abraço à redacção e à Sara em particular. Kipling vale sempre a pena. Se assim não fosse, não estaria a fazer tese de mestrado sobre o homem.

Independentemente do que se ache sobre o poeta, tem aí um autêntico código de conduta em verso.

Cordialmente,
Fernando Barragão

6/04/2007 7:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tenho 62 anitos bem conservadinhos graças a Deus... A primeira vez que li este poema lindo tinha 21.
E durante estes 40 anos nunca me esqueci do mesmo...e acreditem, tenho-o dito aos meus filhos, confesso que já com algumas "buchas", porque entretanto a memória foi cumprindo férias. Agora vou copiá-lo, nas calminhas e decorá-lo a preceito: tenho dois netos em idade de o começarem a ouvir ...
poesiaemluta@blog.com

6/13/2007 10:26 da tarde  

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