terça-feira, maio 29, 2007

Os frutos e as árvores

Pelos frutos se conhece a árvore. Este texto do António Figueira é mais um dos frutos que nos permitem conhecer as sequelas que deixam nos estudantes as agruras de um curso mal escolhido. Não são raros os que decidem "tirar" um curso superior empurrados pelas ardentes ambições familiares (que não próprias) ou por mais prosaicas conveniências sociais ditadas pela nova realidade que é a dos condomínios. Para estes qualquer canudo serve. Já para os outros, o curso de Direito é suave refúgio. Não maçando as crianças com bizantinices matemáticas, permite um adequado reconhecimento social, apaziguador de (subconscientes?) frustrações geracionais, ainda que apresentadas sob uma capa generosa, alimentadas pelo desenraizamento das nossas gentes. Não causará estranheza portanto o facto de muitos licenciados em Direito terem de abraçar carreiras que nada têm de jurídicas, depois de meses ou anos de desemprego. Mas não causando estranheza, é bem este o retrato do País que nos fizeram.
Deste texto ressuma também outra evidência. Ser jurista não implica que alguma vez se tenha tropeçado na Justiça. E não implica que se tenha deixado de navegar nas infindáveis águas da ignorância. É verdade que o Prof. Soares Martínez era o indisputado especialista de Direito Corporativo, ainda que dos seus escritos (que Figueira provavelmente desconhece) não resulte (muito longe disso) uma visão propagandística de um Regime. Também não me parece acertado (ou devo dizer justo?) que se sustente a ideia de ter sido necessário criar uma cadeira (a História Diplomática) para que este Professor pudesse reger uma disciplina. Poucos (ou devo dizer nenhum?) serão os que poderão ostentar mais méritos académicos na área das ciências jurídicas. Para além de igualmente indisputado especialista de História Diplomática (resultado de um interesse e de um estudo sério de décadas, com relevantíssima obra publicada e suficiente carreira, convindo recordar que a licenciatura em Direito não habilita apenas sofríveis advogados e incompetentes juízes; a Diplomacia vem sendo servida - e bem servida - por juristas, alguns, sobretudo mais antigos, de inegáveis qualidades) é também reconhecido mestre de outras áreas científicas, do Direito Fiscal à Filosofia do Direito, passando pelas Finanças Públicas e pela Economia Política, não fugindo do Direito Administrativo, do Direito Processual e do Direito Constitucional. Claro que haverá sempre entre os estudantes os que, por comodismo ou incapacidade, preferem a informação à formação, os que anseiam pelo saber desprezando a sabedoria. Muitos não contarão porém que a verborreia e o impulso do legislador hão-de condenar à caducidade uma educação jurídica assente na técnica.
Mais perplexizante será a afirmação de que para o Prof. Soares Martínez a História termina com o Ultimatum. Será isto uma confissão de parca leitura ou de insuficiente domínio da cronologia?
Tenho pena que o António Figueira tenha sido aluno do Prof. Soares Martínez só no último ano do seu curso...
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