quinta-feira, abril 26, 2007

A (outra) Poesia e os (outros) Poetas

Comecei no dia 25 de Abril. Vou acabar no dia 1 de Maio. Durante esta semana vou dar-vos a conhecer alguma da Poesia contra-revolucionária que conheço. Gostaria que esta divulgação fosse tomada como serviço público. Durante o Estado Novo, e nos quentes anos que se seguiram ao 25 de Abril, a poesia e a música ditas de intervenção foram armas poderosíssimas que escreveram das mais tocantes páginas da cultura portuguesa da segunda metade do séc. XX. Contudo, provavelmente desconhece-se que a intervenção não foi nunca unívoca. A Cultura não foi só vermelha. Foi também branca e azul. Foi também só branca. Foi, na verdade, de todas as cores. Não seremos sérios se optarmos deliberadamente por esquecer parte da História e por ignorar os que com a pena e com a viola também não abdicaram daquilo em que acreditavam... e cantaram... Os que não ganharam já perderam.... O povo é sereno...
Hoje deixo-vos um texto de D. Vasco Xavier Teles da Gama, um Português enorme, com uma Alma maior ainda. Um grande Amigo. Foi escrito no dia 25 de Abril de 1977. Tem portanto, 30 anos:
Três anos volvidos
Três anos são já volvidos
sobre essa Revolução
de um punhado de vendidos
que atraiçoou a Nação.
-
Um frémito de alegria
Sacudiu os iludidos;
mas sobre o funesto dia,
três anos são já volvidos.
-
As mágoas são do Passado,
mas a Revolta é que não!
Portugal foi enganado
Sobre essa Revolução.
-
Muitas vezes, indiferentes,
pudemos já ser traídos
pelos cérebros dementes
de um punhado de vendidos.
-
Usemos cota de malha
e luto no coração,
pois está em festa a canalha
que atraiçoou a Nação.

12 Comments:

Blogger L. Rodrigues said...

Sobre os desencantos da revolução, prefiro FMI de José Mário Branco.

4/26/2007 12:04 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

O poema é, de facto, bonito e penso que os anos de revolução e contra-revolução enriqueceram a cultura portuguesa.

No entanto, há uma quebra de simetria entre as duas correntes culturais:
D. Vasco Xavier Teles da Gama pôde publicar livremente este poema três anos DEPOIS da revolução.

Manuel Alegre não podia publicar a Trova do Vento que Passa três anos ANTES da revolução.

Ainda bem que os "vendidos que atraiçoaram a nação" não partilharam o ódio à liberdade de expressão daqueles que usaram "cota de malha".

4/26/2007 5:11 da tarde  
Blogger vox patriae said...

Importa esclarecer que o D. Vasco Teles da Gama não era situacionista. Que não fique essa ideia, que não corresponde à verdade. Noutro poema também diz que "não quer foice e martelo, nem outro Marcello."

4/26/2007 6:47 da tarde  
Blogger José Luís Malaquias said...

Não digo que fosse situacionista. Digo apenas que não lhe aconteceu nada por ter chamado traidores à pátria a quem saiu vitorioso da revolução.
Penso que se chamasse traidor à pátria a Salazar, por exemplo, em 58, talvez não tivesse a mesma clemência.

4/27/2007 2:09 da manhã  
Blogger vox patriae said...

talvez não, talvez não.

4/27/2007 10:41 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

José Luís Malaquias,
"os "vendidos que atraiçoaram a nação" fizeram bem pior do que você diz.
Quanto ao pateta alegre, você encontra nele algum valor?

Nuno

4/28/2007 6:02 da manhã  
Blogger José Luís Malaquias said...

Esses "vendidos", por pior que tenham feito, deixam-no a si, Nuno, exprimir essa opinião. Os outros, que cá estavam antes, não deixavam. Essa é a diferença básica.

No que toca à poesia, ela é bela ou não independentemente do seu conteúdo político. Este poema de Vasco Xavier Teles da Gama é belo, independentemente de eu não concordar com ele. A Trova do Vento que Passa, para quem não estiver de má fé, é dos poemas mais belos que se escreveram em língua portuguesa no Século XX e estou certo de que muitas pessoas de direita se comovem a ouvi-la, independentemente do juízo moral e político que fazem do seu autor.
A arte, felizmente, é superior à política. Adoro a pintura de Picasso e a de Dali, independentemente de um ser franquista e outro ser republicano.

4/28/2007 11:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Malaquias,
Você pode adorar o que quiser. Nunca ninguém, enquanto vivi, de facto, em Portugal, perguntou ou questionou outrém quanto aos seus gostos.
É importante que você saiba que nunca ninguém poibiu os meus gostos ou a minha opinião, como, muito mais importante, ninguém me obrigou a seguir qualquer cartilha.
Como acontece presentemente.
Quando se chama traidor a um traidor a sua normal reacção é engulir em seco. Como se vê.

Nuno

4/29/2007 7:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Malaquias,
Só gostava de perceber por que carga de água a minha resposta a um seu comentario no "Ainda Aznar" não tem qualquer hipótese de ser publicada.
Censura?

Nuno

4/29/2007 7:56 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tentei novamente aqui e o meu texto não entra. Que se passará?
Nuno

4/29/2007 8:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Fiz aqui várias tentativas para publicar a minha resposta e o resultado foi nulo.
Por que será?
Nuno

4/29/2007 8:10 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Malaquias,
Você escreveu:
"Adoro a pintura de Picasso e a de Dali, independentemente de um ser franquista e outro ser republicano."
Pergunto:
Qual deles era franquista?

Nuno

4/30/2007 5:21 da manhã  

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