sexta-feira, abril 27, 2007

Importa-se de repetir?

"Não há trabalhadores a mais na Administração Pública, nem tão pouco privilégios!"

Folheto da "Caravana da Indignação", do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local, que inclui ainda um apelo: "Diga não à política de terrorismo social e laboral do Governo!"

4 Comments:

Blogger José Luís Malaquias said...

E não há. de facto.
A administração pública, ao contrário do que se pensa, não é um conjunto de mangas de alpaca a carimbar papeis num gabinete do terreiro do paço.
A administração pública são os médicos que nos socorrem nos hospitais, são os polícias que garantem a nossa segurança, são os bombeiros que nos acodem em caso de desastre, são os professores que ensinam os nossos filhos, são os varredores que limpam as nossas ruas, são os engenheiros que concebem as nossas estradas, são o aparelho que mantém a coesão do estado.
Ao contrário do que se costuma afirmar, não temos mais funcionários públicos do que a maior parte dos países da Europa. De facto, não estamos sequer na primeira metade da tabela.
Quanto aos privilégios, um professor do ensino superior público pode ser sumariamente dispensado ao fim de 15 anos de carreira. Fez os mesmos descontos do que o colega do privado. Simplesmente, não tem direito a indemnização e muito menos a subsídio de desemprego. São esses os privilégios?
Os meus colegas que estão em empresas privadas têm carro da empresa. Eu uso o meu próprio carro ao serviço da universidade, quando tenho de ir dar aulas a outro pólo, sem receber qualquer compensação por isso.
Perdi a conta às vezes que tive de pagar do meu bolso viagens e estadias para assistir a conferências e poder publicar artigos.
Para dar aulas uso o meu próprio computador pessoal, pago com o meu dinheiro, pois ao contrário das empresas, a universidade não fornece computador, telemóvel ou outras mordomias.
São esses os privilégios? Acho que só quem tem uma visão muito estereotipada da função pública pode continuar a perpetuar a imagem do funcionário público privilegiado que não produz nada de útil.

4/27/2007 2:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Em geral, os funcionários públicos têm sido beneficiados e muito. Essa situação já vem do tempo da outra Senhora (escrevo sempre Senhora com maiúscula).
Há os úteis que estão no exercício de funções esseciais, dos quais a grande maioria é completamente incompetente e se esconde atrás do "estado". É pena porque alguns, muito poucos, sem dúvida, se esforçam.
E há os inúteis que estão atrás de um balcão ou secretária sem fazer nada, ou antes, a fazer perder o tempo dos cidadãos.
Quando se candidataram ao "emprego" declinaram ser servidores como lhes competia.
Uma chatice.

Nuno

4/28/2007 5:32 da manhã  
Blogger José Luís Malaquias said...

O Nuno limita-se a reafirmar o estereótipo da função pública que, de facto, herdámos do tempo da outra senhora (Lembra-se do papel selado, da licença de porte de isqueiro, da lei do condicionamento industrial, da censura prévia?)
Essa função pública de mangas de alpaca que só existia para controlar toda a vida política, económica e cultural do país, deixou uma marca indelével no imaginário português. De facto, ainda há muitos resquícios dela em Portugal, mas felizmente estão a acabar. Na minha Universidade ainda me lembro de ver a figura da contínua que passava o dia atrás de uma mesa a responder mal às pessoas. Esses lugares, felizmente, têm sido extintos à medida que vão vagando. Onde a função pública aumentou foi precisamente nessa função pública que presta serviços ao cidadão. Foram os médicos do SNS que, em condições de trabalho péssimas, melhoraram espectacularmente todos os índices de saúde em Portugal, foram os professores que baixaram a taxa de analfabetismo de 35% para 5%, foram os engenheiros da JAE que construíram uma rede viária moderna, foram as autarquias locais que construiram sistemas de saneamento em que demos um salto gigantesco, apesar de ainda haver tanto por fazer, foram os serviços de telefone, electricidade e água que se tornaram praticamente universais. Foram centenas de milhares de engenheiros, médicos, farmacêuticos, professores, economistas, gestores formados nas nossas universidades.
Tudo isso são obras deixadas pela função pública que tanto despreza mas que permitiram ao país dar um enorme salto em frente nos últimos 33 anos.
Penso que o Nuno é economista, pelo que deve ter facilidade em procurar um número: qual era a posição de Portugal no ranking do PNB/Capita em 1974? Qual é a posição que ocupa hoje?

4/28/2007 10:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

José Luís Malaquias said... at 4/28/2007 10:45 AM

Uma das coisas que mais me atormenta é quando tenho que dizer a alguém que está iludido por que sei a desilusão é dramática e causa imenso sofrimento.
A função pública não é melhor do que foi qualquer que seja o ângulo por que se aprecie ou o nível dos "trabalhadores".
Conheci e conheço alguns desses "servidores públicos", enfrentei muitas burocracias públicas e posso dizer, sem qualquer dúvida, que é mais do mesmo senão pior.
Nos patamares mais elevados, os servidores públicos cairam quase na obscenidade.
Quando se trata de ensino é muito mau e, o que é bem pior, no que toca a saúde seria prudente nem comentar. É péssimo ou abaixo disso.

Nuno

4/29/2007 6:20 da manhã  

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