quarta-feira, março 28, 2007

Salazar deve morrer? Não, faz falta à Nação!


Falo do mito, claro, o que entusiasma o «me-too», o homem-da-rua, o taxista, o treinador de bancada que somos quase todos nós. Se não fosse este, tinha de haver outro. Grita-se aqui d'el-rei, que a república está a dar cabo disto, e em vez de se convocar o homem ou a mulher que há dentro de nós, para enfrentar a dura realidade, chama-se um lente de Coimbra, nada como um lente para nos ajudar a ver trevas adentro. O senhor dá dois murros na mesa, proclama a ditadura em cartazes sabiamente concebidos, põe as finanças em ordem e, terminada a tarefa, não o deixamos ir embora. Fique, Sr. Professor, que temos medo do escuro. Somos netos dos egrégios avós que enfrentaram o Adamastor e lhe roubaram o mar que era seu, dele - mas agora temos medo do escuro. Guie-nos, para o resto da sua vida, para o resto da nossa vida. Livre-nos do comunismo, livre-nos da maçonaria, livre-nos da grande guerra, livre-nos de ser livres, valha-nos Deus. E depois, um dia, arranje-nos um sucessor digno de si. Depois, se ele não aparecer, enquanto ele não aparecer, voltaremos a ser tontinhos como na república, a primeira. Derreteremos o ouro que tão laboriosamente nos arrecadou, rebentaremos com a indústria que nos não deixou instalar no rectângulo para não deixar medrar operários, denegriremos, bipolares como somos, a sua memória e apagaremos as qualidades que também teve. Quase escolheremos o seu contraponto, um homem também sério, também honesto, também frugal, só que mais cortante, um álvaro punhal. Mas recuaremos no último instante, ainda é cedo para outro ditador, primeiro esbanjemos o pecúnio, e recebamos da Europa rica, e ganhemos o nosso com os fundos, e fartemos, vilanagem do bloco central, e elejamos autarcas que nos roubem, mas nos ofereçam varinhas mágicas. E depois, sim, quando estivermos outa vez à beira do precipício, chamaremos outro que nos dite, outro que possamos copiar, outro que nos livre da angústia de existir, da angústia da liberdade. E se ele não vier logo, Sr.Professor, permita-nos abusar do seu merecido descanso eterno e votar em si como maior português de sempre. Somos os mesmos portugueses de sempre. Às vezes maiores, quase sempre menores. Livres é que nunca. Não morra, Sr. Professor. Faz falta à Nação.
[não resisto "puxar" este excelente post do Jorge Lima novamente para cima - Rui Castro]

6 Comments:

Blogger José Luís Malaquias said...

A análise do Jorge é interessante, mas falta-lhe muita perspectiva histórica.
O Salazar lente que foi chamado de Coimbra até estava a passo com o resto da Europa. TODA a Europa do entre-guerras foi em maior ou menor grau despótica, para fazer face à crise de valores instalada pela Primeira Guerra Mundial, pela Pneumónica que se lhe seguiu e pela Grande Depressão que veio quase depois.
Assim, ter um ditador não estava "fora de moda". Há até quem diga que o fascismo não nasceu com a Itália de Mussolini mas sim com o Portugal de Sidónio Pais que, não fora um balázio na estação do Rossio, teria sido o nosso "Paizinho" nos anos que se seguiram ao colapso da primeira república e teria feito Portugal o primeiro exemplo de um regime fascista na Europa.
Mas não se pense que esse autoritarismo iluminado se resumiu a Itália, Portugal, Espanha e Alemanha. Os próprios países que vieram a constituir a frente aliada tinham fortes tentações autoritárias. A "questão judaica" era discutida com a mesma frieza académica em Londres como em Berlim. A França de Pétain estava longe de ser um modelo de valores democráticos. A Finlândia vivia um estado de guerra civil entre regimes autoritários.
Nos Estados Unidos, por outro lado, debatia-se na Time se um preto deveria ter o qualificativo de Mr. antes do nome, a caça às bruxas vermelhas superou as do McCarthyismo 30 anos depois, a segregação racial fazia o apartheid sul-africano parecer benigno.
De facto, o modelo de Governo com pulso forte, só "passou de moda" depois da Segunda Guerra Mundial.
Ora, acontece que nesse período de governo de pulso de ferro, Salazar não foi um dos piores governantes. De facto, governou a par com os demais países, pecando apenas talvez na fraca industrialização que imprimiu ao país.

O problema de Salazar começou no pós-Segunda Guerra, quando ele prometeu seguir os ventos dominantes e democratizar, sem nunca o ter feito. A partir desse momento é que começa a ser praticamente impossível encontrar alguma qualidade ou elogio que lhe pudesse ser feito. Enfiou-nos no gueto histórico de uma Península Ibérica que se deixou ficar para trás.
Ele prometeu democratizar apenas porque não sabia se os ingleses não procurariam um pretexto para aqui entrar e repetir o domínio que se seguiu às invasões napoleónicas, com os governos de Beresford.
Mal viu que a ameaça não se concretizava, voltou atrás com a palavra e decidiu continuar a receita dos 20 anos anteriores, sem reparar que o mundo em geral e a Europa em particular tinham dado uma volta de 180 graus.
Tivesse ele saído nessa altura e cedido o lugar a um governo democraticamente eleito, talvez hoje merecesse, de facto, um lugar entre os 10+ (nunca o primeiro, seguramente, pois esse é reservado a quem no século XV pôs Portugal no centro do mundo).
Não tendo resistido à tentação de continuar tudo como dantes, Salazar conquistou um lugar indiscutível entre os 10 piores portugueses de sempre.

3/27/2007 4:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Grande Post!
Parabéns amigo Jorge!
Concordo plenamente cmo cada palavra e cada previsão.
Como um líder, olhamos para ele, lá à frente, e somos capazes do melhor. Se não tivermos quem nos mostre o rumo, só olhamos para o lado a ver quem é que vamos roubar.

Vito

3/28/2007 10:42 da manhã  
Blogger L. Rodrigues said...

Que giro, este ultimo comentário.

3/28/2007 3:54 da tarde  
Blogger Filipe Brás Almeida said...

Por acaso faz falta. Já andava a precisar de uns belos açoites à algum tempo. Já para não falar de uma boa tortura do sono.

Onde estão os bufos quando mais se precisa deles?

3/29/2007 1:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A análise de José Luis Malaquias é uma opinião e tão-só isso, aliás, como hoje, depois da abrilada dos cravas, está na moda. Todos têm "direito" à sua opinião, mesmo que não valha coisíssima nenhuma, o que poderá não ser o caso.
Ninguém poderá, penso eu, condenar ou louvar Salazar. Fez o que tinha a fazer enquanto governou depois de o terem "forçado" a governar. Errou, muito, e fez maravilhas nas quais nunca é de menos relevar a reconstrução de Portugal a partir de uma situação de banca rota e total descrédito. Mais e muito importante, conseguiu imprimir uma força de trabalho do povo com vista a essa reconstrução, tarefa que, a todos os títulos, não foi fácil.
Na sequência da II Grande Guerra, promoveu um progresso excepcional amplamente reconhecido. Talvez, talvez, o seguimento pudesse ter sido outro mas, em qualquer projecto, há sempre imponderáveis e aconteceu o que não estava, razoavelmente, nas previsões.
Os ataques que sofremos de diversos sectores mundiais culminaram com a decisão da defesa do património nacional, chamem-lhe colónias ou províncias ultramarinas. Mais uma vez fez o que devia e não havia tempo para politiquices da tal democratização que, bem vistas as coisas, seria apenas seguir uma moda de desfecho periclitante como presentemente se pode verificar.
O homem - será pecado? - não se lembrou que a vida não é eterna e, talvez por isso, não soube preparar a sua continuidade, fosse de que maneira fosse - e haveria várias possibilidades. Caiu da cadeira e o poder foi parar às mãos de um Marcello, cultíssimo, inteligentíssimo, com certeza, mas incapaz.
Ao contrário do que José Luis Malaquias e muita gente diz, Portugal estava em franco desenvolvimento industrial e a revolução que Marcello Caetano não soube conter destruiu tudo o que estava a arrancar. E era muito - e invejado por muitos.
Seria exaustiva a lista de investimentos de grandes empresas de vários países que abortaram em consequência.
Não está aqui em causa qual foi o melhor Português - terei sido eu? Com certeza que não. Entre o Fundador, o Príncipe Perfeito, tantos nomes de valor consagrado e imensos anónimos, qual foi o que melhor defendeu Portugal?
Uma coisa é certa: Salazar, humílimo e imposto para o lugar que várias vezes recusou, desempenhou as suas funções com uma destreza notável e uma honestidade indiscutível como se veio a verificar no seu espólio.
Ou não?

Nuno

4/01/2007 6:46 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Debate é que parece não haver...
É o costume.

Nuno

4/03/2007 8:46 da manhã  

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