Até ao fim do Mundo...
"queria de ti um País de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma"
Morreu um Poeta. Daqueles que se escrevem com maiúscula. P de Poeta. P de Poema.
Sempre soube distinguir o criador da criatura. Só é criador o que gera a criatura. Mas paradoxalmente, é a criatura que cria o criador. Não é ao contrário. E o criador que ontem morreu é um dos pais da "minha poesia", dos "meus poemas". Ficarão em branco as páginas dos mais emblemáticos poemas que ainda iriam ser escritos. Pelo menos, até ao fim do Mundo...
O navio de espelhos
não navega, cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
O seu porão traz nada
nada leva à partida
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
E no mastro espelhado
uma espécie de porta
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objecto)
E quando um deles ála
O corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
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