segunda-feira, novembro 27, 2006

Até ao fim do Mundo...


"queria de ti um País de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma"

Morreu um Poeta. Daqueles que se escrevem com maiúscula. P de Poeta. P de Poema.

Sempre soube distinguir o criador da criatura. Só é criador o que gera a criatura. Mas paradoxalmente, é a criatura que cria o criador. Não é ao contrário. E o criador que ontem morreu é um dos pais da "minha poesia", dos "meus poemas". Ficarão em branco as páginas dos mais emblemáticos poemas que ainda iriam ser escritos. Pelo menos, até ao fim do Mundo...


O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

E no mastro espelhado
uma espécie de porta

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objecto)

E quando um deles ála
O corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
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