quarta-feira, junho 07, 2006

Argumento decisivo contra as quotas III

este post da mesma Ana Gomes revela a sua total falta de bom senso, revelando o pouco espírito democrático que vai naquela cabecinha. No fundo, a citada demonstra um profundo desprezo por Portugal e pelos portugueses, apelidando-nos (implicitamente) de burros quando diz que há coisas que não mudam naturalmente, devendo haver uma imposição legislativa.
Salazar e outros ditadores não iriam tão longe. Ana Gomes não aceita as escolhas que resultam de eleições livres e democráticas.
Ana Gomes, apesar da livre associação e da possibilidade de todos constituirem partidos políticos, de se candidatarem a cargos públicos (nos quais incluo os políticos), de criarem associações e movimentos cívicos, ainda assim pensa que a escolha dos eleitorado deve ser moldada em função da sua definição de democracia.
No fundo, Ana Gomes não aceita que as mulheres, elas próprias, não estejam interessadas em estar na política e em concorrer a cargos políticos. Aliás, é evidente o afastamento e desinteresse de muitas mulheres relativamente à política. Basta ver, por exemplo, a proporção de homens e de mulheres que escrevem em blogues sobre política. Ou será que Ana Gomes também gostaria de impor quotas femininas nos blogues políticos?
Ana Gomes dá depois um argumento que, em minha opinião, vai no sentido contrário do seu raciocínio:
"ninguém pede quotas para a entrada de mulheres nas ordens dos médicos, dos advogados ou nas carreiras das magistraturas e da diplomacia (onde o acesso a mulheres estava vedado apenas há trinta anos atrás) porque nesses contextos existem claros critérios de mérito, testados e testáveis, iguais para todos. E por isso mulheres não faltam nessas profissões. Quem lá chega, chega por mérito. A política, pelo contrário, é uma área onde redes de contactos informais, amizades, fidelidades a lideranças jogam um papel determinante. Esta informalidade determina opacidade nos processos de escolha de indivíduos, sobretudo na elaboração de listas eleitorais. Opacidade que neutraliza o princípio do mérito. E que deixa tradicionalmente de fora as mulheres - não é por acaso que se fala nas 'old boys networks' e nos 'jobs for the boys'."
Nas carreiras que Ana Gomes evidenciou, até há bem pouco tempo dominadas pelos homens, nada nem ninguém impôs quotas para inverter a situação. Foi a vontade das mulheres e o próprio mercado que inverteu a situação.
Parece-me evidente que, se há uma carreira em que as mulheres se podem afirmar sem complexos e pondo em evidência o seu mérito é exactamente a política, de forma ainda mais vincada que nas carreiras mencionadas. Ou será que ela se esqueceu que o eleitorado é quem decide através das eleições quem são os seus representantes!?
Quanto às escolhas partidárias, tem bom remédio, ela que funde um novo partido ou movimento cívico em que possa defender as suas ideias sem qualquer tipo de constrangimento machista.
Já aqui o disse, que o problema (se é que é um problema!) está nas mentalidades. E não se mudam mentalidades com leis ou imposições estatais.
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