quinta-feira, março 16, 2006

A palhaçada do costume



"Apelo
Completam-se a 20 de Março três anos sobre a invasão do Iraque. Completam-se também três anos de resistência do povo iraquiano à ocupação - um direito que a Carta das Nações Unidas e a Constituição Portuguesa consagram. A onda de protesto que se levantou nas vésperas do ataque militar não foi suficiente para impedir a agressão, mas revelou o repúdio de milhões de pessoas de todo o mundo pela ilegalidade e pela barbárie que se adivinhava. Dezenas de milhares de portugueses opuseram-se também na mesma altura ao envolvimento de Portugal na agressão, rejeitando o alinhamento com os EUA. O Iraque continua ocupado, persiste a destruição e o saque dos seus recursos, as violações cometidas pelos agressores seguem impunes, o direito internacional continua por aplicar. As "eleições" realizadas em clima de guerra e organizadas pelos ocupantes não passaram de uma fraude. A política de guerra dos EUA prossegue. Depois da Palestina, do Afeganistão e do Iraque - o Líbano, a Síria e o Irão estão debaixo de mira. Em nome dos interesses imperialistas, as liberdades estão a ser amputadas mesmo nos países que se consideram baluartes da democracia e do direito. Quem está contra esta guerra não pode assistir inerte à continuação da ilegalidade e da barbárie. Há que reunir as forças que se juntaram para tentar impedir a invasão - agora com o conhecimento da dimensão das violências cometidas contra o povo iraquiano. No próximo 18 de Março juntemos forças:
- para exigir a retirada de todos os ocupantes do Iraque, como primeiro passo para a normalização da vida do país.
- para reconhecer ao povo iraquiano o direito a resistir e a escolher livremente o seu futuro.
- para exprimir solidariedade com os povos do Médio Oriente, designadamente o palestiniano e o iraquiano.
- para exigir do governo português que condene o militarismo, a guerra e a ocupação do Iraque.
para exigir o fim de qualquer envolvimento directo ou indirecto de Portugal na ocupação e o fim do uso da Base das Lajes pelos EUA"."
A extrema esquerda, a propósito dos 3 anos sobre a intervenção da Coligação no Iraque (posteriormente ratificada pela ONU), decidiu fazer o apelo acima transcrito, tendo marcado uma manifestação contra a ocupação do Iraque. Do texto realço duas ou três coisas:
Antes de mais, não posso deixar de achar piada à alegada resistência do povo iraquiano à ocupação. Presumo que os senhores irresponsáveis que escreveram o texto se estejam a referir aos atentados diários dos terroristas contra os iraquianos e que já mataram mais civis (iraquianos) que a intervenção da Coligação.
Adiante falam da suposta fraude que constituiram as eleições realizadas, o que me causou algum espanto pois tinha quase a certeza de que as mesmas tinham sido observadas pela ONU.
Depois continuam com os dislates do costume, permacendo firmes, quais D. Quixotes, na sua luta contra o imperialismo, exigindo nomeadamente a imediata desocupação do Iraque para que os iraquianos possam ser felizes e também o fim do uso das Lajes pelos americanos.
Um dia, para mostrar a irresponsabilidade e demagogia destes extremistas, haviam de lhes fazer a vontade. Tenho uma sugestão: antes de mais, fretem um avião e ponham este iluminados a caminho do Iraque. Depois, retirem as tropas. Havia de ser bonito. Já estou a imaginar o Anacleto e seus muchachos a declamar Trotsky e a invocar a defesa da desocupação para não serem sumariamente executados a sangue frio pelos terroristas sedentos de poder.
Estes senhores não percebem a triste figura que fazem. Não percebem que são poucos (felizmente) os que os levam a sério.
Esta gente não percebe que até podia manifestar-se contra a Guerra no Iraque, invocando em 1.º lugar os civis mortos pelos atentados terroristas ou aqueles que, num espírito puramente de missão, se encontram por lá a trabalhar (muitas vezes gratuitamente) em ONG ou em instituições de solidariedade, acabando alguns por serem sequestrados e mortos por bandos de criminosos.
Mas não, estes senhores têm objectivos políticos muito bem definidos e não lhes interessa ver a outra face da moeda. Estes senhores, ao "olhar para o lado" em face de tais actos, tornam-se cúmplices dos terroristas, legitimando a sua acção. Estes senhores envergonham-me pela sua demagogia e pela sua desonestidade intelectual.
Nota: Um dos movimentos subscritoress do apelo é o MUSP - Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos. Porque raio um movimento que, presumo, tem como objecto a defesa dos interesses dos "Utentes dos Serviços Públicos" tem a ver com a Guerra no Iraque?
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