quarta-feira, março 22, 2006

O maradona é o maior!

"Há pessoas de quem uma pessoa só quer distância. Destas pessoas da manifestação contra a Ocupação, naturalmente, uma pessoa só ficaria satisfeita se vivesse num planeta com muitos mais que estes dois míseros hemisférios. Não pela opinião crua, de estar contra a Ocupação, que, tal como as coisas têm andado (não no Iraque, mas no Mundo), em si até muito mais facilmente defensável que a da Ocupação.
O slogan "Bush, fascista, és tu o terrorista", que ouvi a um grupo de mal cheirosos que por meu azar por mim passavam em direcção à festa, não é um acto puro e simples de propaganda, bastante desculpável se o fosse. Antes, é um programa político perfeitamente reconhecivel: antes de tudo o resto, o nosso inimigo é os Estados Unidos, posição usualmente apelidada de anti-americanismo.
As pessoas que animam estes divertimentos públicos não estão preocupadas com o sofrimento humano, com os direitos humanos, com os equilibrios geoestratégicos, com a economia, com a democracia. Se estas pessoas se mobilizassem por a mais ínfima partícula destas nobres causas, teriamos que ter visto muito mais manifestações durante estes anos, quando mataram o milhão no Ruanda, meio milhão no Sudão, dois milhões no Zaire, trezentos mil na Argélia, cento e tal mil na Jusgoslávia. Quantas manifestações vimos por estas causas? Os cidadãos do Aspirinab, em quantos esforços participaram por estas pessoas? Andaram caladinhos que nem uns ratos e a ocupar o tempo com idas à Cinemateca porque se tratavam de pretos a sofrer? Ah, calma, não deve ser por isso, não me lembro de nada pelo Sri Lanka, contras as brincadeiras entre a China, a India e o Paquistão, ou pelas obras de terraplanagem que a Rússia levou a cabo em Grozny.
Estes eleitores movem-se pelas hipóteses de se engalanarem com os melhores crachás do momento, e como nos noticiários ocidentais, mortes na China, na India ou em África só fazem aparição a partir de pacotes com mais de 455 mortes e 1315 feridos, a coisa passa desapercebida. Mas se alguém chamuscar o cabelo por acção de um avião dos EUA, então sim, arruma-se logo uma manifestação ou um post "geo-estratégico".
Eu estou aqui a escrever estas banalidades, que cegam de tão evidentes, para dizer o seguinte: acho o anti-americanismo razoável. Quer dizer, eu tenho os meus anti-americanismos: os Óscares, os carros, a comida, a direita religiosa. Não vejo nenhuma vantagem em que o anti-americanismo acabe. Primeiro, porque isso significaria que os EUA já não seriam a nação mais poderosa do Mundo, o que seria péssimo para mim, que o país que mais gosto é os Estados Unidos. Segundo, porque a crítica ao todo-poderoso é a melhor dica, assim se seja inteligente, da manutenção do todo-poderoso como todo-poderoso de facto.
Acho que seria muito fácil à América fazer melhor que aquela merdeira dos Óscares, não percebo como é que se pode ter uma industria automóvel tão patética, aquela comida não lembra ao diabo e há exemplares na direita religiosa que, pronto, quer dizer, uma pessoa dá vontade de pedir a secessão outra vez.
O anti-americanismo faz-nos mais parvos, esquemáticos e deixa-nos mais burros, é certo: o Brokeback Mountain é um bom filme, a Ford sabe fazer carros, existem vinhos inacreditáveis no Napa Valley e se muita da pior religião em democracia mora lá, a melhor também.
Quem se associa a estas manifestações tem que arcar com estes dissabores, nomeadamente, a certeza de que a essência daquilo é a mais completa aridez de pensamento ou ideias, um movimento menos na defesa de uma alternativa que na derrota de um ódio. Não pode andar por aí a assobiar para o ar como se aqueles gajos de lenço ao pescoço não existissem, têm que responder pelas pessoas burras, ignorantes, idiotas, jovens com menos de 35 anos autómatos dos seus preconceitos ideológicos que não percebem que os defeitos que apontam à América de hoje são, e a maior parte das vezes na sua forma patológica e neurótica, aquilo de que precisamente mais sofrem. Se sou obrigado a responder pelos mortos de Fallujah, agradecia que me respondessem porque é que as pessoas so se mexem pelos males de Bush.
Prefiro um hipócrita à procura de petroleo, ah pois prefiro."
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