Capitalismo Larilas
Uma característica que sempre associei ao capitalismo foi a virilidade – o cowboy que enfrenta os índios para conquistar a última fronteira, o visionário com mau génio que enfrenta o mundo e arrosta com as tempestades, o Howard Hughes, o Champalimaud. Ultimamente porém – digamos desde inícios do século XIX – , parece que a chama do empreendedorismo está entregue a mariquinhas que gritam pela mamã assim que os índices se chegam ao vermelho.
A maior seguradora dos EUA está com um passivo de biliões? O Fed injecta uns triliões dos contribuintes e nacionaliza, até a borrasca passar e voltar a haver apenas lucros no horizonte, para então desnacionalizar. Como é que disse, nacionaliza? Isso. Nada como balões-de-oxigénio socialistas para os temores e tumores capitalistas. Lucros privados, públicas ajudas. Mas não era mais fácil o dito regulador obrigar a cumprir taxas de esforço, e não deixar os bancos emprestar a clientes de alto risco? Afinal, a mão invisível não é tão perfeita como no-la venderam?
Por cá, a coisa piora. O nosso capitalismo pequenino, saloio, medroso, inculto, prospera no oásis sucialista que nem bolor num caldo de cultura. Antes de irem para as suas iberdrolas, os nossos governantes progressistas, nos intervalos das causas fracturantes lançadas para acalmar o Bairro Alto, liberalizam a chicha e nacionalizam os ossos. Libertam o preço da gasolina, mas acham natural que o céu seja o limite, sem nunca descer, nem que a vaca tussa ou o crude desça 30%. Os PINs têm alvará em branco para destruir o que ainda resta de bom no rectângulo. Os bancos, pobres diabos, têm um IRC reduzido porque são um sector frágil que precisa de ser protegido. As offshores são incentivadas porque senão os capitais fogem. As empresas de catering fazem dumping, e depois cartel, para abastecer ao preço único, deles, escolas e hospitais. E se um Abel qualquer levanta pó na assim chamada Autoridade da Concorrência, rapidamente leva guia de marcha e é substituído por um qualquer Caim sem autoridade nem concorrência.
Bolas, pá. Eu queria que todos tivessem iguais oportunidades na vida, e cada um recebesse em função do mérito, razão pela qual abomino socialismo. Sou todo pela livre iniciativa, que qualquer um com dois palmos de testa percebe ser condição sine qua non para o progresso da Humanidade. Agora assim não. Assumam-se capitalistas. Assumam o risco, colham o os frutos do vosso esforço. Mas assumam também as consequências e, quando a coisa correr mal por causa das tropelias que estão a fazer pelo mundo, não venham ter comigo, pobre contribuinte. Capitalistas de todo o mundo, tende tintins, dâsse, disse.
14 Comments:
Quem fala assim, não é gago. Excelente post.
Mas, para que o mano não fique aí a babar-se, desde já lhe digo que o Louçã assinava por baixo este post.
Do Louçã trato noutro dia...
De facto o post acaba por ser uma crítica ao "capitalismo rentista" a que Louçã se costuma referir. Não quero ser chato, aceito que discordem das soluções, mas acho interessante que o mesmo "bolor" esteja a ser identificado por um vasto espectro político.
Está aqui está a exigir que os administradores da Lehman e da AIG devolvam os prémios de gestão do ano passado...
Subscrevo!
tomei a libedade de o citar.
Caro anónimo:
Pois o problema é deixarmo-nos espartilhar entre socialismo e capitalismo, e não nomearmos o bolor que nos invade. E não é preciso inventar a roda: o equilíbrio entre livre iniciativa e regulação qb já foi inventado e chama-se social-democracia. Tem estado fora de moda, mas esta nova crise global vem dar-lhe razão de existir.
Caro Al:
Honi soit qui mal y pense!
Caro Bruno: fez muito bem...
Caro Pombo:
Obrigado pelo mimo, e olha que tenho estado atento às regurgitações da blogosfera, sim...
Então e quem nos vai salvar destes meninos ricos que andam a brincar com isto? Quem?
«o equilíbrio entre livre iniciativa e regulação qb já foi inventado e chama-se social-democracia» (JL, 9/17/2008 5:11 PM)
social-democracia, reticências, nórdica.
Nos países mais avançados do mundo, a coisa funciona, de facto. Mas isso é lá nos frios e civilizados países onde vive o Pai Natal. Mais para baixo, no Sul quentinho e remansoso, o que se vê de "social-democracia" é, além da designação técnica, uma antiquíssima, "austera, apagada e vil tristeza".
Muito interessante mas o sub prime não é novo.
Já foram os fundos, já foram as junk bonds (do Michael Douglas, em "wall street"), já foi a bolha ´das TIC´s.
A dimensão desta só é mais trágica porque se sobrepõe tb a uma (séria)
crise energética e o caroço está a ficar na mão de cada vez menos e até menos "capitalista" e até menos "democratas"
São fundos da China, Singapura, Dubai, Angola, Russos que vão tomar posiçoes significativas nos principais bancos e seguradoras europeias. Depois de se dzer que se o socialismo fosse bom , teria sido comprado pelo capitalismo, eis agora o capitalisma a ser comprado pelas "ditaduras e socialismos de estados energéticos"
E não foi só falta da "social democracia"; tambem a substituição á direita da democracia-cristã, pelos populistas e ultra liberais deu espaço a estes "socialistas iberdrolados"
JPG: há que continuar a tentar...
Paulo: bem visto. Obrigado...
Ó Tó, o que é que tu tens contra nós?
Não tenho nada contra os ricos, aliás até gostava muito do menino Riquinho, e já não tanto do Tio Patinhas, mas sabes que no banco que faliu esta semana nos USA, os admnistradores receberam de bónus 5 mil milhões de dólares, o ano passado!????!!! E sabes que a minha prestação de casa aumenta quase sempre que lhes apetece por causa dos meninos Euribor? E sabes do diesel do meu carro que não importa nada o preço do barril, por causa dos carteis dos tais meninos ricos? E o dinheiro que temos de dar aos Paulos das crianças e aos Pintos do Porto, por causa dos que tem dinheiro e que brincam com isto?
Está bem, confesso que não gosto de alguns ricos!
Tó, foram 5 milhões e não 5 mil milhões. Não te armes em vermelhusco que isso também é pecado.
Peço desculpa oh anónimo pelos mil milhões a mais. Foi o que me venderam, mas decerto percebi mal. Ainda assim é muito papel.
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