O cemitério da abetarda de Sines - Capítulo I, 5. ª parte
- Homessa! exclamou Genoveva enquanto galgava, esbaforida, os degraus que dão para o corredor principal da casa grande.
- A campainha! Sei lá eu onde está... a última vez que a vi foi na semana passada! Estava na mão da M. Efigénia enquanto esta falava com o menino António.
Que idade teria o "menino" António? Já deve ter passado dos quarenta, pensou, enquanto recordava por momentos o aviso estranho que Alice lhe fizera no seu primeiro dia nos Novelões:
- A campainha! Sei lá eu onde está... a última vez que a vi foi na semana passada! Estava na mão da M. Efigénia enquanto esta falava com o menino António.
Que idade teria o "menino" António? Já deve ter passado dos quarenta, pensou, enquanto recordava por momentos o aviso estranho que Alice lhe fizera no seu primeiro dia nos Novelões:
- Cautela com o menino António, Genoveva, ... ele gosta de caçar.
Genoveva nunca descortinou por que razão a afeição cinegética de António justificara semelhante advertência e, em abono do próprio, diga-se que este - descontando duas galinholas e quatro perdizes para amanhar - nunca lhe dera motivos para que o percebesse. Preferia mirar espécies de maior porte e de apresentação mais luxuriante como era o caso da voluptuosa esteticienne-cabeleireira de sua atormentada irmã.
M. Efigénia, para quem a modéstia era pecado e a timidez vaga memória, prestava dedicada (e interessada) contribuição estética semanal à Senhora dos Novelões, essencial para a melhoria do seu estado psíquico. Nos períodos que mediavam entre a lavagem dos longos e frequentemente martirizados cabelos de Doroteia e a administração final de cremes, pomadas, unguentos, pastas, bálsamos, antidepressivos e talões de desconto da GALP, Efigénia gralhava mundanidades e derramava a sua presença melíflua e intrusiva pelos salões da casa, terminando invariavelmente recolhida no escritório do Morgadinho dos Novelões para dois dedos de conversa.
- A campainha! Sei lá eu! - Repetiu alto, como que respondendo à ordem expressa que recebera. - Não está em cima da camilha da salinha onde sempre costuma estar! Queres ver que M. Efigénia se abotoou com ela?! A badalhoca! Ainda vamos ter aí o fantasma de D. Maria Pia a dar-nos no toutiço! Temos o baile armado …
De súbito, um som seco e metálico retiniu estridentemente na sala ao lado... Genoveva estacou, estupefacta e aterrada. Quem se atrevera a tocar o e no intocável?!
Isílio Verdasca
Genoveva nunca descortinou por que razão a afeição cinegética de António justificara semelhante advertência e, em abono do próprio, diga-se que este - descontando duas galinholas e quatro perdizes para amanhar - nunca lhe dera motivos para que o percebesse. Preferia mirar espécies de maior porte e de apresentação mais luxuriante como era o caso da voluptuosa esteticienne-cabeleireira de sua atormentada irmã.
M. Efigénia, para quem a modéstia era pecado e a timidez vaga memória, prestava dedicada (e interessada) contribuição estética semanal à Senhora dos Novelões, essencial para a melhoria do seu estado psíquico. Nos períodos que mediavam entre a lavagem dos longos e frequentemente martirizados cabelos de Doroteia e a administração final de cremes, pomadas, unguentos, pastas, bálsamos, antidepressivos e talões de desconto da GALP, Efigénia gralhava mundanidades e derramava a sua presença melíflua e intrusiva pelos salões da casa, terminando invariavelmente recolhida no escritório do Morgadinho dos Novelões para dois dedos de conversa.
- A campainha! Sei lá eu! - Repetiu alto, como que respondendo à ordem expressa que recebera. - Não está em cima da camilha da salinha onde sempre costuma estar! Queres ver que M. Efigénia se abotoou com ela?! A badalhoca! Ainda vamos ter aí o fantasma de D. Maria Pia a dar-nos no toutiço! Temos o baile armado …
De súbito, um som seco e metálico retiniu estridentemente na sala ao lado... Genoveva estacou, estupefacta e aterrada. Quem se atrevera a tocar o e no intocável?!
Isílio Verdasca
INCONTINENTE em 3/09/2008 05:41:00 da tarde
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