Não Sou Daqui
Vivemos dias tristes. As pessoas acotovelam-se para passar as noites de semana fechadas em salas de espectáculos a assistir a óperas, concertos e sinfonias. Chegado o sábado, vão passear para Sintra ou para o Gerês, e preferem alienar-se, fechadas sobre si mesmas, a ler o último de José Luís Peixoto, ao som das Gymnopédies. Todos à minha volta fazem questão de conviver, trocar ideias, formar grupos de opinião e associações de cidadania. Quando chega a altura de votar, acorrem em massa às urnas, ciosos do seu voto, temerosos de que alguém dele se aproprie, e quem sabe se também do seu destino. Nas escolas, as crianças ultrapassam em zelo os mestres, vão além do programa e da Tapobrana, e ao fim-de-semana os escuteiros têm lista de espera, e não chegam para as encomendas de crianças ansiosas por respirar ar livre e ocupar a mente em actividades gratificantes.
Eu sigo só o meu caminho. Às vezes a solidão é benéfica e revigorante, e quando não é uma nem outra, é ainda assim imprescindível aos espíritos livres. Sigo errante pelos corredores quase desertos do centro comercial em busca de gadgets que nem eu sei. Procuro o impossível novo jogo da Playstation. Mato a minha fome de solidão degustando pipocas numa sala da Lusomundo, sacio a minha sede de concreto afogando inexoráveis mágoas inexprimíveis num balde de Coca-Cola. Debalde. Demando o ideal feminino assistindo à última aparição de Jennifer Lopez. Ocupo a mente analisando a engenharia financeira do contrato de dez meses sem juros que me vai permitir adquirir o plasma. Passo noites brancas embevecido com o bailado subtil do american wrestling que gravei no blue-ray.
Este não é o meu mundo, mas recuso-me a capitular. Recapitulo um tempo em que não era assim, em que idolatrávamos o que vinha do outro lado do oceano, ah, tanto mar, tanto mar, em vez de nos curvarmos umbilicalmente sobre o que se faz por cá, a que se chama hoje identidade nacional, ou europeia. Recuso a alienação, resisto no mais íntimo de mim. Aumento os decibéis da aparelhagem em que a batida ritmada da música house dá voz à minha revolta. Procuro esquecer. Adormeço. Sonho o sonho americano.
Eu sigo só o meu caminho. Às vezes a solidão é benéfica e revigorante, e quando não é uma nem outra, é ainda assim imprescindível aos espíritos livres. Sigo errante pelos corredores quase desertos do centro comercial em busca de gadgets que nem eu sei. Procuro o impossível novo jogo da Playstation. Mato a minha fome de solidão degustando pipocas numa sala da Lusomundo, sacio a minha sede de concreto afogando inexoráveis mágoas inexprimíveis num balde de Coca-Cola. Debalde. Demando o ideal feminino assistindo à última aparição de Jennifer Lopez. Ocupo a mente analisando a engenharia financeira do contrato de dez meses sem juros que me vai permitir adquirir o plasma. Passo noites brancas embevecido com o bailado subtil do american wrestling que gravei no blue-ray.
Este não é o meu mundo, mas recuso-me a capitular. Recapitulo um tempo em que não era assim, em que idolatrávamos o que vinha do outro lado do oceano, ah, tanto mar, tanto mar, em vez de nos curvarmos umbilicalmente sobre o que se faz por cá, a que se chama hoje identidade nacional, ou europeia. Recuso a alienação, resisto no mais íntimo de mim. Aumento os decibéis da aparelhagem em que a batida ritmada da música house dá voz à minha revolta. Procuro esquecer. Adormeço. Sonho o sonho americano.
11 Comments:
Ó lima, conheces a pinga?
Pelo que sei vai haver um concurso de vinhos em Anadia, ao invés de passares embrutecido a ler "peixoto" (nem vou tecer comentários mais densos), bebes uma pinga.
Ou sei lá, arranja uma boneca insuflável ou prostituiçao, como eu bem faço. Tem de ser ó Lima a recessão toca a todos e esta gente anda de pernas para o ar.
Jorge,
Infelizmente, o que descreves no primeiro parágrafo não existe em parte nenhuma do Mundo. Na Europa de certeza que não.
Aqui perto de Anadia, em Coimbra, há um sítio engraçado, para o amigo Vicissitude(s) ir beber umas pingas com a rapazida que por lá se gasta. Pergunte por um tal Sobral Cid que de certeza se vai dar bem por lá!
Leitão da Bairrada
Caro Ricardo:
Existe apesar de tudo mais do que nos States, já existiu mais do que hoje, e há-de voltar a existir. Pena que não vá ser no nosso tempo...
Eu também aprendi, em tempo, que mais vale só do que mal acompanhado...
(Com pontinho.)
.
caro Jorge Lima,
às vezes ao olhar para o mundo ficamos desencantados...
mas há encantos neste mundo e só a partir deste podemos sonhar outro. o tempo não volta para trás.
mais que resistir temos que viver, não ter medo de ser do mundo.
para os cristãos por aí passa a encarnação...
o mundos dos blogs, das palyastations, dos gratuitos pode ser bem vivido...
jorge
Tens razão! Ainda por cima já não passa o super rato. Que saudades tenho dele! De resto, andar sozinho na multidão é a melhor forma de andar sozinho. É no meio de todos que sentimos a diferença! Vai nela jorge
Cristina Barreto
Caro Zé Maria:
Há um monte de tempo que aprendo convosco, Jesuítas, que o nosso reino não é deste mundo, e que desanimar não é cristão. Mas também aprendi que de vez em quando é preciso expulsar os vendilhões do templo.
Descanse, que eu sou o mesmo optimista de sempre!...
Cara Cristina:
O Super Rato deixou de passar porque os malandros ficaram mais sofisticados e ele não se conseguiu adaptar. Neste momento, tenho as minhas esperanças depositadas no Home-Aranha...
Jorge
Obrigado pela sua resposta e pelo seu optimismo.
You're welcome, e apareça sempre...
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