Nuvem de pó
No Vale das Crateras, uma ou duas vezes em cada cem anos, um vento, uma espécie de nuvem de pó, sopra do fundo da terra, e pelos funis enxutos das crateras sobe, lambendo como a língua dos gatos, por três dias, as casas e as faces dos habitantes daquele lugar. Então, todos perdem a memória: os filhos deixam de reconhecer os pais, as mulheres os maridos, as raparigas os namorados, as crianças os pais e tudo se torna um caos de sentimentos novos.
Depois cessa o redemoinho dentro das crateras e, lentamente, cada coisa volta ao seu lugar, não recordando ninguém o que, dentro da nuvem de pó, aconteceu nesses três dias.
in "Histórias para uma noite de calmaria", Tonino Guerra
Depois cessa o redemoinho dentro das crateras e, lentamente, cada coisa volta ao seu lugar, não recordando ninguém o que, dentro da nuvem de pó, aconteceu nesses três dias.
in "Histórias para uma noite de calmaria", Tonino Guerra
1 Comments:
Já passei por isso quando morei no Rio de Janeiro. Chama-se Carnaval.
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