sexta-feira, julho 13, 2007

Nuvem de pó

No Vale das Crateras, uma ou duas vezes em cada cem anos, um vento, uma espécie de nuvem de pó, sopra do fundo da terra, e pelos funis enxutos das crateras sobe, lambendo como a língua dos gatos, por três dias, as casas e as faces dos habitantes daquele lugar. Então, todos perdem a memória: os filhos deixam de reconhecer os pais, as mulheres os maridos, as raparigas os namorados, as crianças os pais e tudo se torna um caos de sentimentos novos.

Depois cessa o redemoinho dentro das crateras e, lentamente, cada coisa volta ao seu lugar, não recordando ninguém o que, dentro da nuvem de pó, aconteceu nesses três dias.

in "Histórias para uma noite de calmaria", Tonino Guerra

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Já passei por isso quando morei no Rio de Janeiro. Chama-se Carnaval.

7/13/2007 12:10 da tarde  

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