sábado, março 03, 2007

No rescaldo de uma OPA falhada

Agora que tudo parece resolvido, apesar de Belmiro concluir que não há derrotas nem vitórias definitivas, convém alinhar algumas reflexões. A primeira que hoje deixo refere-se à estranheza com que fui testemunhando o comportamento da administração da PT.
Os administradores de uma sociedade, ainda que eleitos numa AG de accionistas, não são, nem podem ser, correias de transmissão dos accionistas. Muito menos de certos accionistas. Uma sociedade comercial é uma pessoa jurídica. E, por isso, diferente das pessoas dos seus accionistas, que podem até não ser dela conhecidos, dada a liberdade de transmissão do capital social. Dizer que uma sociedade comercial é uma pessoa diferente dos seus accionistas, é também significar que ela pode, enquanto tal, ter interesses diferentes dos deles. E até conflituantes.
Ora, a administração de uma sociedade é responsável pela defesa dos interesses dela. Não tem de ser (nem pode ser, na verdade) defensora oficial de interesses alheios. Os interesses dos accionistas das sociedades, nessa medida, são interesses alheios a ela. Uma sociedade comercial integra apenas, na respectiva proporção, o património do accionista. Não mais do que isto.
O que tem de fazer, até por imposição legal, a administração de uma sociedade visada por uma OPA? Simples: analisar os termos da oferta e emitir a sua opinião relativamente à sua bondade. E bondade, aqui, significa apenas um juízo sobre a adequação dos termos da oferta (maxime da sua expressão pecuniária ou patrimonial) face ao real valor da companhia. É só isso. E a lei impõe à administração esse dever, na medida em que é esse órgão quem melhor conhece a empresa e quem melhor pode aconselhar os accionistas na resposta a dar à oferta de que só eles, os accionistas, são destinatários. O mais, deve ser absolutamente irrelevante para a administração de uma sociedade visada. Os accionistas que façam o que entendam, em obediência a interesses próprios e de defesa inquestionavelmente legítima.
Não se pense que o que se disse é apenas aplicável à OPA sobre a PT. Longe disso.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

À administração incumbe defender a empresa como tal. Neste caso, várias coisas eram óbvias: (1) que a Sonae não tinha dinhiero para a OPA; (2) que não era verdaderiamente a Sonae que estava a "opar"; (3) que iria pagar a OPA com o dinheiro da PT; e (4) que a PT iria sair destruída desta OPA. Por isso, acho que fez muito bem em defender o próprio interesse da PT.

Embora não goste do modo como a PT tem sido gerida, principalmente no interesse de um dos seus accionistas, acho que foi melhor assim.

Se o que estava era mau, o que viria seria péssimo!

3/03/2007 10:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Commonsense,
Nos 4 pontos que releva há alguma falta de common sense...

Nuno

3/04/2007 4:51 da manhã  
Blogger vox patriae said...

commonsense,
em resposta aos seus pontos
1)não pode ser lançada OPA sem estar assegurado o valor da contrapartida, por depósito em dinheiro ou garantia bancária;
2)o anúncio da OPA diz que é o grupo Sonae, se na verdade não for, é um caso de polícia;
3)e o dinheiro que a PT já prometeu aos accionistas é de quem?
4)porquê?

3/05/2007 9:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Para além da falta de sentido comum e do que se pode considerar sobre a OPA, a pergunta que se põe é: onde é que PT vai buscar os 6,2 mil milhões de euros para regalar os accionistas?

3/08/2007 4:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Para além da falta de sentido comum e do que se pode considerar sobre a OPA, a pergunta que se põe é: onde é que PT vai buscar os 6,2 mil milhões de euros para regalar os accionistas?

Nuno

3/08/2007 4:15 da manhã  

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